Crítica: Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, 2016)
Estrelas Além do Tempo levou três indicações para o Oscar, incluindo Melhor Filme.
Ficha Técnica:
Direção: Theodore Melfi
Roteiro: Allison Schroeder, Margot Lee Shetterly, Theodore Melfi
Elenco: Taraji P. Henson, Octavia Spencer, Janelle Monáe, Mahershala Ali, Kevin Costner
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (02 de fevereiro de 2016 no Brasil)
Sinopse: Enquanto os EUA disputam com a Rússia o envio do primeiro homem ao espaço, a NASA encontra em um grupo de matemáticas afro-americanas o talento que foi responsável pelas maiores operações na história dos EUA. Baseado na história real de três dessas mulheres, conhecidas como “computadores humanos”, o longa mostra como foi o lançamento do astronauta John Glenn em órbita. Dorothy Vaughn, Mary Jackson e Katherine Johnson superaram preconceitos de raças de gênero e se transformaram em heroínas.
A corrida espacial foi algo que permeou o embate entre URSS e EUA. Política à parte, muitos foram elevados à categoria de “heróis”, seja por feitos mais técnicos ou até por ter pisado na Lua. Agora responda rápido: cite o nome de mulheres envolvidas na questão espacial… Agora diga o nome de mulheres negras que participaram dos estudos para os avanços nessa área…. é provável que muitos não saibam responder. O grave é que esse desconhecimento não se dá pela ausência delas, mas sim pelo silenciamento fruto de um machismo e racismo – ainda presentes. Estrelas Além do Tempo (o título original é mais preciso) vem para jogar holofotes em três mulheres negras que foram fundamentais e a História não tinha dado o devido reconhecimento, deixando-as ocultas.
Para além de “melhor tema” o mérito do longa reside também em duas opções curiosas e perigosas: o humor e a linearidade. O diretor Theodore Melfi, que está no segundo longa da carreira, por saber das próprias limitações preferiu apostar no arroz com feijão. Deixou a história e as atrizes terem um brilho próprio. Isso, pode ser um mérito ou ser motivo de acusação de falta de ousadia. A direção não pesa. A tua provável boa ou má vontade com o filme dependerá de como vai se relacionar com esse fato.
Outro ponto que salta aos olhos é o humor que cerca diversos momentos. Em alguns deles funcionando de um jeito pleno, como na cena inicial ao ter três mulheres negras “perseguindo” um policial branco na década de 60. Às vezes, no entanto, é exagerado como na repetição das idas ao banheiro. Uma situação tragicômica que vacila mesmo na redundância – alguns podem inclusive questionar se cabia humor ali, eu particularmente não vejo problema. Ao colocar um problema grave em um tom cômico há a possibilidade de atingir mais gente. E até de trabalhar o assunto sem carregar nas tintas.
Estrelas Além do Tempo está indicado para Melhor Roteiro. Tem pouquíssimas chances, talvez o que menos tenha possibilidade de levar o prêmio. Não por demérito próprio, já que há elementos que funcionam bem na condução da história. O tema e a premissa são fortes, porém o que me chamou atenção foi a divisão entre as personagens. Cada uma das três mulheres tem o tempo certo para brilhar. Impossível não torcemos ou não nos importamos com elas, apesar de que não tememos pelo pior (o que cai no fator linear que mencionei antes). A mescla entre vida pessoal e profissional é precisa. Em momento algum parece que um arco está roubando espaço do outro. Aqui os elementos familiares e o dia a dia servem para humanizar ainda mais aquelas mulheres e realçar a jornada dupla.
Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe exalam carisma. Boa parte do sucesso aqui se deve a elas. Sozinhas, com as peculiaridades de cada personagem, ou juntas, elas funcionam muito bem. Há leveza, química, potência dramática e mesmo que escorreguem na falta de sutileza a imagem que fica é só elogiosa. Spencer merece a indicação, mas deve perder para Viola Davis, por Um Limite Entre Nós (Fences) – que tem papado tudo nas premiações. Mas o filme levou um dos prêmios mais importantes da temporada: melhor elenco na votação do SAG…
Tal qual nas categorias anteriormente citadas, Estrelas Além do Tempo deve passar longe vitória para Melhor Filme, La La Land, Moonlight, Manchester à Beira Mar e A Chegada vem bem mais fortes. Se o longa deve fazer apenas figuração no Oscar, o fato é que as figuras de Katherine G. Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, além de tantas outras, não podem mais fazer figuração na nossa história.
https://www.youtube.com/watch?v=wx3PVtrU-Os%20
Resumo
Estrelas Além do Tempo levou três indicações para o Oscar, incluindo Melhor Filme.