Crítica: Beleza Oculta (Collateral Beauty, 2016)
Beleza Oculta traz todos os artifícios mais cretinos para fazer o público chorar.
Ficha técnica:
Direção: David Frankel
Roteiro: Allan Loeb
Elenco: Edward Norton, Helen Mirren, Kate Winslet, Michael Peña, Naomie Harris, Will Smith
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (26 de janeiro de 2017 no Brasil)
Sinopse: Um bem-sucedido executivo da publicidade sofre uma grande tragédia e se isola de tudo. Enquanto seus preocupados amigos tentam desesperadamente se reconectar com ele, o executivo procura respostas do universo escrevendo cartas para o Amor, Tempo e Morte.
Este é daqueles filmes que está dividindo crítica e público. No Rotten Tomatoes a nota das críticas agregadas é de 12% positiva, enquanto os leitores dão 67%. No IMDB os quase 13 mil votos populares dão conta de uma média de 6,6. Já no Metacritic a compilação dos críticos está com 23/100. Qual o motivo desse fenômeno? Os críticos são pessoas sem coração? Ok, alguns são, mas em Beleza Oculta questão vai além…
Beleza Oculta faz um check list de artifícios que estão ali para emocionar e garantir o choro fácil de quem está assistindo, mas que são pobres cinematograficamente. O ar taciturno e problemático de Howard (Will Smith), uma trama que tenta ser edificante e personagens com uma característica apenas – que está sendo explicitada explicitamente explícita. Esses elementos, embalados em um clima natalino e corporativo/capitalista, só querem defender um único ponto: a importância de lidar com o amor, morte e tempo – em uma visão distorcida Fantasmas de Scrooge.
Seria possível tratar desses três temas de maneira bem menos rasa. Repare em como é posta e resolvida a questão da perda da filha no longa A Chegada. Ou então, os complexos conflitos de pai e filho no À Procura da Felicidade (também do Will Smith). Relembre ainda, o arco para se chegar na lição do Feitiço do Tempo ou do Antes de Partir. Agora compare com os clichês do cretino desfecho de Howard para superar a morte da filha. Tente se importar com a relação simplória do personagem de Edward Norton com a menina. E cuidado para não piscar e perder a solução pífia para o drama de Claire (Kate Winslet) e Simon (Michael Peña). Vale o destaque (negativo, obviamente) para os exageros – apenas mais um aqui – da Brigitte (Helen Mirren) ao ser a “louca” do teatro e citar um monte de referências de modo tosco….
A grande contradição em Beleza Oculta é que não há qualquer virada e ao mesmo tempo a “grande” sacada dos responsáveis pela obra é o combo de 4 plot twists no final, que no fim é um só – mais do que manjado. Os personagens deste filme me lembraram o programa do SBT “Qual é a Música?” quando um participante acertava a canção que era tocada a partir de uma única nota – isso era possível, pois ele havia recebido uma dica antes… algo como: “Música de Tom Jobim, cujo título é sinônimo para menina + bairro no Rio de Janeiro com a letra i”. Todas personas são reduzidas a um único carácter e a nota repetida ressoa ao longo daquela 1h30 apenas para preencher o filme. Você já sabe onde aquilo vai levar…
O signo visual da sequência de dominós para representar que “todos estão conectados” é pobre. Mostrar que o dinheiro não traz felicidade é batido. Reflexão e ação para encarar os problemas soa redundante. Cada lágrima derramada pelos atores empurra a fórceps a lágrima do público bochecha abaixo. Beleza Oculta, portanto, vacila por ter uma Beleza maniqueistamente construída e por não ocultar as reviravoltas. O plot do filme só não é pior que o plot twist, ambos são terríveis e o que há de pior no cinema.
Pablo Villaça ao definir a participação de Aaron Eckhart no péssimo terror Dominação disse que o ator deveria estar devendo dinheiro para a máfia, pois só assim ele teria aceitado se sujeitar àquilo. A mesma suposição é válida aqui. Os que leva ao Edward Norton sair de Birdman, Kate Winslet de A Vingança Está na Moda, Helen Mirren de Decisão de Risco e virem para cá, senão uma dívida urgente? O caso do Will é mais compreensível, visto que os últimos projetos do ator são bem duvidosos, a saber: Um Homem Entre Gigantes e Esquadrão Suicida. A resposta é que ele foi abduzido por ETs no Mib 3 e ainda não voltou…
https://www.youtube.com/watch?v=fSbMvWW_BBE%20
Resumo
Beleza Oculta, portanto, vacila por ter uma Beleza maniqueistamente construída e por não ocultar as reviravoltas.