Crítica: Manchester À Beira-Mar (Manchester by the Sea, 2016)
Manchester À Beira-Mar vem forte para o Oscar 2017. Em quais categorias ele tem chance?
Ficha técnica:
Direção e Roteiro: Kenneth Lonergan
Elenco: Casey Affleck, Lucas Hedges, Michelle Williams, Joe Chandler, Gretchen Mol, C.J.Wilson, Matthew Broderick
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (19 de janeiro de 2017 no Brasil – já entrando em pré-estreia no dia 12/01)
Sinopse: Lee Chandler (Casey Affleck) é forçado a retornar para sua cidade natal com o objetivo de tomar conta de seu sobrinho adolescente após o pai (Kyle Chandler) do rapaz, seu irmão, falecer precocemente. Este retorno ficará ainda mais complicado quando Lee precisar enfrentar as razões que o fizeram ir embora e deixar sua família para trás, anos antes.
Com algumas premiações e muitas indicações em diversas disputas pré-Oscar, Manchester À Beira-Mar já se coloca, junto com La La Land e Moonlight, como favorito à disputa da principal estatueta. Notadamente Casey Affleck está papando tudo e não é à toa. Outro ponto de destaque é o roteiro – também já bem premiado. Categorias como Direção e Atriz Coadjuvante (Michelle Williams) também podem ser lembradas. Além, é claro, de Melhor Filme.
Quem reclamar que este filme não tem história ou que “não acontece nada”, provavelmente não gostou de um Boyhood ou 45 Anos. Em ambos vemos a vida calmamente posta em tela, aqui não é diferente. O foco em Manchester À Beira-Mar são as repercussões do luto e relacionamentos – em especial a paternidade. Vale o comentário que este último tema tem sido recorrente em várias produções recentes, talvez tendo Capitão Fantástico como ápice. Como cada um lida com a perda e com as responsabilidades é o grande mote aqui.
Affleck (não confundir com o irmão Ben, o novo Batman) está primoroso. O olhar caído, as pausas na fala, as explosões nos bares… tudo afinado com tudo que o personagem viveu. Uma figura um tanto outside, já que o lado de dentro dele está destroçado. O momento inicial, as cenas no trabalho, desencadeia uma estranha empatia no público. As atitudes seguintes continuam possibilitando uma certa ambiguidade – podemos não concordar com todas as ações dele, mas as entendemos, o que denota uma bela complexidade.
A dobradinha com Lucas Hedges geram os melhores momentos aqui. Uma relação torta, mas claramente de muito carinho. E fiquemos de olho nesse garoto, o meu xará dialoga com precisão e graças também a ele é que o filme ganha muito. Michelle Williams contracena com os dois, basicamente uma cena com cada. E basta isso para que ela mostre o motivo de ter sido lembrada em algumas premiações. O pouco tempo em tela não impediu de a atriz dar um peso emocional em cada cena.
O roteiro é acertado ao beirar a zero exposição. Tudo é silenciosamente mostrado e quando tem que ser. Os diálogos possuem um humor agridoce. Interessante que nunca soam erradas ou fora do tom, vão no limite que o drama aguenta. Há um primor narrativo nada verborrágico. O luto e o silêncio estão presentes de forma quase pragmática, mas no melhor sentido. Complementado por uma excelente montagem, a trama é sentida em parte através de flashbacks precisamente inseridos. Esse recurso é perigoso e por vezes preguiçoso, aqui definitivamente é uma aula de como usá-los com sentido narrativo.
Os pontos negativos ficam no terceiro arco. Manchester À Beira-Mar tem um ápice na metade da exibição e nunca mais somos levados aquele patamar. Assim, os últimos minutos – que cumprem bem a resolução dos arcos – são enfraquecidos. Neste ponto Kenneth Lonergan, que assina o roteiro e dirige, deixa escapar um pouco o domínio. Nada que prejudique o todo, mas ainda assim há de ser pontuado negativamente. Todavia o recurso que de fato está completamente fora do tom é a trilha. Em um descompasso gritante com a narrativa e por vezes querendo transpor o sentimento da cena. Tal elemento é o grande responsável por não considerar uma nota máxima aqui. Ao contrário da fotografia. Em tons frios, mas sem carregar muito na paleta, dosa com mais delicadeza é ao mesmo tempo de forma incisiva a emoção.
Manchester À Beira-Mar beira sim a excelência. Representa a rotina, às vezes dura – como na burocracia pós-morte, a empatia – sabiamente pouco ou nada maniqueísta, e a vida – em diversos tons, às vezes cinzas, às vezes mais coloridos, mas com a necessária potência para que se siga em frente. Manchester À Beira-Mar transborda emoção sem ser piegas em momento algum. Só isso já é um grande alento, tomara que tenha cauda longa nas bilheteria como está tendo nas premiações.
Resumo
Manchester À Beira-Mar beira sim a excelência. Representa a rotina, às vezes dura – como na burocracia pós-morte, a empatia – sabiamente pouco ou nada maniqueísta, e a vida – em diversos tons, às vezes cinzas, às vezes mais coloridos, mas com a necessária potência para que se siga em frente. Manchester À Beira-Mar transborda emoção sem ser piegas em momento algum.