A perda, a morte e os filmes
Eu nunca perdi ninguém.
É verdade. Nenhum parente ou amigo próximo morreu. Alguns colegas, sim. Alguns tios ou primos distantes, também. Mas eu nunca perdi nenhum familiar próximo. A dor de ver ir embora alguém que realmente amo é desconhecida para mim – ainda que eu saiba que chegará em algum momento da minha vida, invariavelmente.
Mas o cinema, com seu poder de nos permitir viver momentos e sentimentos não vividos – assim como toda Arte – me fez sentir isso. Assisti a dois filmes: “Manchester à Beira-Mar” (que terá crítica em breve) e “Eu, Daniel Blake“. Nos dois, fala-se de perda. No segundo, não se trata de um tema central, mas de algo que surge ao longo da trama. É possível sentir um pouco da dor de cada um dos protagonistas: o homem depressivo que perdeu os filhos, o homem pobre que perdeu a esposa.
A dor de perder alguém não passa. Seja a esposa, o marido, os filhos: a dor permanecerá para sempre, e será preciso aprender a conviver com ela. Talvez a dor de perder os pais ou avós consiga ser mais amena, já que pelo menos obedece a ordem da natureza. Talvez. Quem sou eu para definir alguma coisa?
O fato é que a vida não é só feita de alegrias. “Life ain’t no sunshine and rainbows”, como disse o sábio Rocky Balboa. A vida é feita de dores – e de como lidamos com elas. E a morte, por mais natural que seja, por mais presente que esteja em nossas, vidas, será sempre fonte de dor e sofrimento, especialmente aos que ficam.
Pode-se pensar que a morte é uma espécie de punição para o amor. Quem não ama ninguém, jamais sofrerá com a morte dos outros.
Pensando bem, acho que é uma punição muito pequena frente à alegria que é viver com pessoas que amamos. Quem possui uma vida sem amigos, sem família e sem amores, provavelmente já está morto antes mesmo de morrer.
E com a ajuda do cinema – e da Arte – a gente fica um pouco mais forte, mais sábio, mais feliz.