Crítica: Um Dia de Fúria (1993)
Ficha Técnica
Título original: Falling Down
Direção: Joel Schumacher
Roteiro: Ebbe Roe Smith
Elenco: Michael Douglas, Robert Duvall, Barbara Hershey, Rachel Ticotin, Tuesday Weld, Frederic Forrest, Raymond J. Barry, Lois Smith
Ano de produção: 1993
Data de Lançamento: 26 de fevereiro de 1993 (EUA)
Nacionalidade: EUA
Sinopse:
William Foster (Michael Douglas) sai para ver a ex-esposa (que o quer distante) e a filha, mas pelo caminho ele viverá momentos tensos e inusitados que colocarão à prova sua instabilidade emocional. Demonstrando uma personalidade conflitante, Foster provoca uma série de situações extremas e violentas. Em seu encalço está um velho policial (Robert Duvall) às vésperas da aposentadoria.
Comentários:
O Diretor Joel Schumacher ainda não havia entrado em uma péssima fase criativa com “Batman Eternamente” (1995) e “Batman & Robin” (1997), quando filmou a história de um inquietante cidadão norte-americano que aos poucos vai se mostrando transtornado e impulsivo. Vindo de bons trabalhos como “O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas” (1985), “Os Garotos Perdidos” (1987) e “Linha Mortal” (1990), Schumacher quase sempre se mostrou versátil e à vontade no controle de seus filmes. “Um Dia de Fúria” é sua obra mais polêmica, e a que lhe deu maior prestígio e projeção mundial.
Em “Um Dia de Fúria”, o inconformismo toma conta do personagem principal já na primeira cena, quando, em seu carro, ele fica preso em um enorme engarrafamento. Não demora muito e ele resolve abandonar o veículo e ir andando. Começa então uma jornada apreensiva de um homem indiferente a tudo à sua volta. A sensação de claustrofobia ganha contornos sociais e se expande a um intenso confronto, quando Foster se mostra um homem temperamental (ainda que metódico), se armando de um taco de beisebol e posteriormente de armas pesadas adquiridas após uma retaliação contra ele mesmo em um bairro latino.
O que temos aqui é uma situação fora de controle. Um homem decidido a seguir suas próprias regras preestabelecidas. Porém, Foster não sai por aí declinando dos valores morais, ele apenas não se importa com o que você se importa. Ao ser alvo de bandidos vingativos, ele sai ileso, mas não demonstra qualquer compaixão pelos feridos e mortos que ficam pelo caminho. Ao entrar em uma lanchonete e ter seu pedido de café da amanhã negado por conta do horário, Foster se recusa a seguir as normas do ambiente, que lhe sugere servir um almoço. O que se segue são momentos de tensão, com Foster empunhando uma arma, discursando sobre a má qualidade dos produtos servidos.
Se em “Taxi Driver” (1976), o personagem Travis Bickle (interpretado por Robert De Niro) se torna um justiceiro em busca de redenção, ‘livrando’ o mundo de pessoas más, o personagem de “Um Dia de Fúria” não está preocupado com conceitos morais, ele apenas quer passar, seguir seu caminho sem ser incomodado (porém, sempre questionando algo). Nem um simpatizante nazista, dono de uma loja de variedades, consegue ameaçá-lo sem se dar mal.
Em contraponto aos extremos de Foster, temos a relação do velho policial com sua esposa, e os momentos em que as vítimas vão prestar depoimento. São situações mais leves, com algum humor.
O roteiro de Ebbe Roe Smith é recheado de críticas ao consumismo, ao contraste entre ricos e pobres, ao preconceito, à opressão e principalmente à inquietação humana. O humor negro está presente (a cena em que o trânsito é interrompido porque uma rua está em reforma, tem um desfecho surpreendente).
O final é convencional nesse tipo de trama; não foge da impressão que houve uma intervenção para que o ‘vilão’ da história não saísse ileso, mas que fosse punido por suas ações. Mas a situação que criam para isto acontecer é de certa forma convincente.
Resta dizer que Michael Douglas tem aqui uma das melhores interpretações de sua carreira, sem em momento algum cair em caricatura, mas conseguindo tornar humano um personagem complexo e com motivações duvidosas. Além de Douglas e Duvall, o elenco conta ainda com boas atuações de Barbara Hershey, Frederic Forrest e Tuesday Weld.
“Um Dia de Fúria” é com certeza um dos filmes mais polêmicos e ousados dos anos 90.