Crítica: Port of Call (2016)
ficha técnica de Port of Call.
Diretor: Philip Yung.
Roteirista: Philip Yung.
Elenco: Aaron Kwok, Elaine Jin, Patrick Tam (II), Maggie Siu…
Sinopse: Em meio a listas de casos a serem averiguados, um crime em particular, sobre o assassinato de uma jovem imigrante da China Continental, chama a atenção dos detetives. Na busca para encontrar os autores do delito, os investigadores seguem um rumo inesperado e vão descobrir o lado mais sombrio do ser humano.
Deixando de lado um pouco a polêmica indicação do Pequeno Segredo para representar o Brasil no Oscar, vamos falar sobre outra indicação: a do representante de Hong Kong. Port of Call é um longa-metragem muito diferente do que a academia costuma gostar pois tem sangue, algumas cenas gore, e uma investigação policial acerca de um crime. Mesmo não sendo de agrado da academia, Hong Kong resolveu nomeá-lo pela sua qualidade, e isso ele tem.
O movimento de câmera é sutil, basicamente apenas nos colocando em cena para registrar o que está acontecendo. Logo de início, já sabemos do assassinato de Jiamei e, por ele nos posicionar dessa maneira, abre muitas possibilidades para seguir contando essa história. Então, o diretor e roteirista decide investir em uma montagem não linear para dar um dinamismo maior ao filme. Montagem essa que é essencial ao ritmo do longa, pois com o vai e vem de passado e presente somos obrigado a encaixar as peças do crime em nossa cabeça, fazendo do espectador, durante boa parte dos minutos, companheiro da personagem principal: o detetive Chong. Contudo, infelizmente, o diretor acaba por não acreditar na capacidade do espectador e em certo momento coloca um quadro em tela e o detetive nos dizendo o que, realmente, ocorreu.
Entretanto, por mais que se torne verborrágico, Port of Call não perde sua força em contar a decadência de uma adolescente perante os horrores da vida adulta. Jiamei não é apenas uma estudante que resolveu ir para a vida de prostituição, tudo isso tem um motivo que o filme consegue criticar de forma inteligente. Jiamei é uma menor de idade que sonha em ser modelo e sua busca incessante pela beleza fantasmagórica que o mundo da moda pede a leva a cometer certas decisões que parecem visivelmente errôneas. Porém, ao nos mostrar logo no começo sua morte, vemos aqui decisões de uma menina incapacitada de tomar quaisquer providências sobre sua própria vida. Sua mãe, por sua vez, nada pode fazer, pois, vive em um lugar miserável, trabalhando dia e noite para conseguir algum dinheiro. E é esse mesmo dinheiro do qual Jiamei está atrás e quer ser modelo, e isso acaba aprisionando as duas em vidas nas quais ninguém quer seguir, o que é muito bem representado pelo diretor ao filmá-las na maior parte do tempo atrás de grandes grades.
Essas duas acabam roubando a cena. Jessie Li (Jiamei) e Elaine Jin (Mãe de Jiamei) dão um show à parte. Li transmite toda a ingenuidade de uma menina que acabara de adentrar um mundo obscuro e cruel, embora carregue em seu olhar esperança. Porém, com o passar do tempo podemos a ver tomada pelo todo e seu olhar se transforma em algo depressivo. Jin consegue dar o ar de uma mãe que ama suas filhas, e consegue transmitir alegria nas cenas antes do crime e tristeza nas cenas após o crime, fazendo com que pareçam duas personagens completamente distintas. O resto do elenco cumpre sua função.
Mesmo com todo drama mencionado, o diretor acha algumas brechas para colocar cenas gore, como aquela na qual o assassino fala como matou a vítima e um flashback aparece mostrando como foi. Visualmente, elas são impactantes e morbidamente bonitas. Porém, ao tomar essa decisão, ele deu um tiro no próprio pé. Transformando o drama da morte de uma adolescente desesperada por mudança em um horror movie no qual o choque vale mais do que a parte humana, um erro quase fatal.
Por fim, Port of Call dificilmente passará para as fases seguintes do Oscar, e também será visto por poucas pessoas. Mas seu diferencial está mesmo em se distanciar dos filmes comerciais e nos entregar algo diferente do habitual, além de ser uma crítica de como o ambiente e a sociedade em geral afeta nossa estrutura pessoal, e nos impõe um sonho inexorável de que só vamos ser felizes se tivermos dinheiro e sucesso. Seja lá o que isso signifique.
Escrito por: Will Bongiolo
Resumo
Port of Call dificilmente passará para as fases seguintes do Oscar, e também será visto por poucas pessoas. Mas seu diferencial está mesmo em se distanciar dos filmes comerciais e nos entregar algo diferente do habitual, além de ser uma crítica de como o ambiente e a sociedade em geral afeta nossa estrutura pessoal, e nos impõe um sonho inexorável de que só vamos ser felizes se tivermos dinheiro e sucesso. Seja lá o que isso signifique.