Crítica: Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven, 2016)
Sete Homens e um Destino honra bem o filme de 1960, mesmo sendo um tanto inferior àquele.
Ficha técnica:
Direção: Antoine Fuqua
Roteiro: Richard Wenk, Nic Pizzolatto
Elenco: Denzel Washington, Chris Pratt, Ethan Hawke, Haley Bennett, Peter Sarsgaard, Vincent D’Onofrio
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (22 de setembro de 2016 no Brasil)
Sinopse: moradores de um pobre vilarejo sofrem com abusos de um bando de malfeitores. Emma Cullen (Haley Bennett), para vingar a morte do marido e salvar a terra em que vive, contrata Sam Chisolm (Denzel Washington) para reunir um grupo de elite e combater os bandidos.
O gênero faroeste/western/ou simplesmente bang-bang, como nossos avôs diriam, teve o auge em meados do século passado. Nomes como o de Sérgio Leone são obrigatórios para aqueles que querem se enveredar nesse estilo. Apesar de, para alguns, o gênero ter morrido, tivemos recentemente duas obras do Tarantino que o contemplam e o revitalizam: Django Livre e Os Oito Odiados. E em 2010 houve um remake de um clássico, o Bravura Indômita (1969).
Sete Homens e um Destino também é um remake, no caso do homônimo de 1960. Mesmo com a macroestrutura se mantendo são nítidas as mudanças. Normalmente não gosto de espelhar obras, mas aqui vale no sentido de curiosidade. Com alguns percalços, a expressão vista em 2016 honra o longa anterior. E astros como Ethan Hawke, Chris Pratt e Denzel Washington podem levar parcelas do público não afeita aos faroestes às salas de cinema.
E esses atores se mostram mais do que meros chamarizes. Sem dúvidas que o talento e o carisma deles são os pontos fortes aqui. Há uma cena do Denzel com um pedaço de carne crua que exemplifica bem. A canastrice de Ethan Hawke dá ótimas pitadas de alívio cômico. Dado a grande quantidade personagens, acabou que tais momentos foram diluídos, deixando um gosto de quero mais.
Quero mais, no entanto, não se aplica ao tempo de filme. É sabido que os faroestes são longos (este possui alguns minutos a mais que o original, ao todo 2h12). Os dois primeiros arcos, principalmente pela dinâmica entre os personagens, deu a sensação do tempo voar. Já no clímax, até nas cenas de ação, a coisa ficou um tanto morosa ao repetir certos movimentos. Por outro lado é aqui que vemos o já mencionado bang-bang franco, divertido e até um pouco surreal. E graças às bases anteriores, as mortes são sentidas. Então mesmo com uma boa efetividade no resultado final, dava para ter cortado, pelo menos, esses 12 minutos de sobra.
Aliás este é um belo exemplo para explicar para alguém a divisão nos três atos (o popular começo, meio e fim). A proposição do problema e a reunião dos 7 homens fazem parte do primeiro ato. A ambientação e o treinamento dos locais integram o segundo momento de Sete Homens e um Destino. Já o confronto em si é onde a história se finaliza. Neste caso, estrutura idêntica ao Sete Homens clássico.
A direção de Antoine Fuqua (Dia de Treinamento, Nocaute) está competente em vários sentidos . Ele sabe expor em tela os fundamentos que o roteiro plantou. Porém, mesmo o atual tendo méritos, o Sete Homens e Um Destino de 1960 dá um banho nesse aspecto e tem um roteiro muito mais redondo e justificado. Ainda na direção, e em harmonia com a fotografia, vemos diversos planos exaltando os belos cenários, como no instante inicial. Já em um breve momento, dentro de uma igreja, a tela fica escura quando o vilão Bartholomew Bogue entra no local. Uma metáfora visual para as trevas adentrando e maculando o ambiente (toda a sequência, aliás, tem uma boa dose de tensão).
Como plano de fundo, a questão religiosa perpassa todo o longa. Seja no referido templo, palco de diversos momentos capitais na história, seja na fé dos personagens. Ecoando, mais uma vez, o filme de 1960, lá percebemos que as crianças tinham esse papel de dar uma quase subtrama e servir de base para os personagens. A presença delas aqui foi bastante reduzida.
Diminuiu, também, a força e profundidade do antagonista. A referida cena na igreja é um dos poucos momentos notáveis. Por outro lado, um ponto acrescido com muito destaque foi o senso de humor entre os 7 homens do grupo principal. Há muitos alívios cômicos e passagens que prometem arrancar boas risadas.
A grande mudança, contudo, é a representatividade. Uma clara preocupação nesse sentido é percebida ao termos um latino, um índio, um negro e um oriental no grupo dos 7, além de uma mulher fazendo o meio de campo entre a vila e o grupo. Ela tem menos de mocinha indefesa e mais de um ímpeto bravio e combatente. Nesse quesito, tal elemento foi indubitavelmente bem atualizado – com a ressalva histórica posta de lado…
Sete Homens e um Destino (um remake de uma releitura – no caso os Sete Samurais de 1954 do Kurosawa) tem problemas de conveniência, uma certa familiaridade (para além da refilmagem) e um terceiro arco um pouco enfadonho. Mas faz uma homenagem que vai além da referência. Sabe divertir o público atual e quem sabe não o incentiva a consumir mais do gênero…