Crítica: Expresso do Amanhã
Ficha Técnica – Expresso do Amanhã (Snowpiercer)
Direção: Bong Joon-ho
Roteiro: Bong Joon-ho, Kelly Masterson
Elenco: Chris Evans, Song Kang-ho, Tilda Swinton, Jamie Bell, Octavia Spencer
Nacionalidade e Lançamento: Coréia do Sul, EUA, República Tcheca, França, 2013
Sinopse: Quando a humanidade se encontra ameaçada pelo clima do planeta, um experimento traz consequências desastrosas, e o mundo congela-se por inteiro, matando a maior parte da população. Os sobreviventes são colocados em uma locomotiva que dá voltas pela Terra sem parar um único segundo. Entretanto, a igualdade social não está presente nessa nova sociedade, onde os pobres ficam nos últimos vagões, e os ricos ficam no conforto dos primeiros vagões.
O diretor sul-coreano Bong Joon-ho (“O Hospedeiro”, 2006) decidiu arriscar seu primeiro filme na língua inglesa, e podemos afirmar que ele realizou um bom trabalho. Joon-ho conseguiu reunir um elenco de peso, composto por Chris Evans (o famoso Capitão América, praticamente irreconhecível nesse filme), Tilda Swinton (“Precisamos Falar Sobre o Kevin”, 2011; “As Crônicas de Nárnia”, 2005), Song Kang-ho (“O Hospedeiro”, 2006), Jamie Bell (“Billy Elliot”, 2000; “Quarteto Fantástico”, 2015), Octavia Spencer (“Histórias Cruzadas”, 2011), entre outros. A presença de todas essas atuações de sucesso conseguiu fornecer uns pontos a mais ao filme de Joon-ho.
O longa começa com uma breve explicação do que ocorreu com o mundo: no intuito de conter o aquecimento global, um experimento científico foi realizado, mas seu resultado foi catastrófico. O planeta Terra entrou em uma era glacial e a vida foi praticamente extinta, exceto por uma parte da população que passou a viver em uma locomotiva chamada Snowpiercer, criada por Wilford (Ed Harris). No ano de 2031, somos apresentados a uma nova sociedade dentro do trem, onde os pobres vivem em condições deploráveis nos últimos vagões. Wilford, que fica no primeiro vagão da locomotiva, manda seus guardas para manterem sobre controle as camadas pobres dessa sociedade. Nos últimos vagões superlotados, eles recebem gelatinas de proteínas (que durante o filme descobrimos como são feitas, sem spoilers) como sua única fonte de alimento, e uma contagem é realizada frequentemente para verificar se ninguém escapou para outros vagões. Também é empregada a tortura para quem se atreve a ser desobediente.
Assim como em quase toda sociedade injustiçada, o pessoal dos últimos vagões planeja uma revolta, liderada por Curtis Everet (Chris Evans), com o objetivo de atingir a locomotiva do trem e dominar Wilford. Durante a revolta, há a libertação de um sul-coreano especialista em segurança (Song Kang-ho), que concorda em ajuda-los desde que ele e sua filha recebam o alucinógeno Kronole em troca de cada porta aberta, um mero detalhe extremamente importante para o entendimento do filme e para o seu desenvolvimento final.
Todo o filme é claramente uma metáfora a nossa sociedade atual, onde as camadas menos afortunadas são dependentes da elite, que vivem confortavelmente em condições inimagináveis para os pobres. A cada vagão que Curtis Everet atravessa com seus companheiros, uma nova realidade acaba sendo lhes apresentada. Compartimentos com comidas de verdade e de mais alto custo, entretenimento à vontade, festas, drogas, escola de crianças, estufas e até aquários. Alguns espectadores poderão sugerir que o filme exagera muito em determinados momentos, mas é importante enxergá-lo como uma ficção que traz consigo uma grande crítica a elite moderna, e não como exageros não-propositais.
Não contarei o final do filme, embora não seja totalmente imprevisível. Acredito que “Expresso do Amanhã” tenha sido realizado e produzido com o objetivo de gerar reflexões e questionamentos entre os espectadores. Podemos ter esperança em uma sociedade onde poucos controlam muito? Quando terminei de assistir, fiquei me questionando coisas por alguns dias, e acho que é essa a impressão que o diretor Joon-ho quis passar. Se foi isso mesmo, ele atingiu seu objetivo comigo.
Não há o que reclamar sobre as atuações. Todos estão fantásticos, e as cenas de ação são bastante tensas. Pude perceber alguns pequenos deslizes com a mistura de linguagens (inglês e sul-coreano), onde em alguns momentos os personagens conversavam em duas línguas e se entendiam perfeitamente sem o uso de um tradutor simultâneo. Mas isso não interferiu tanto na qualidade do filme. Em determinadas cenas o filme fica bastante escuro, e isso me incomodou um pouco, além de ficar na dúvida se foi um efeito proposital ou não. Mas como um todo, sugiro assisti-lo quem gosta de metáforas e críticas, e quem pretende ficar com a mensagem principal durante alguns dias na cabeça.
Resumo
Como uma crítica a sociedade moderna, onde a minoria possui o controle sobre a maioria, “Expresso do Amanhã” nos apresenta a parte da população que sobreviveu ao congelamento global e vive em uma locomotiva que nunca parou de rodar o mundo. É uma ficção para ser assistida com um olhar crítico e reflexivo, sem questionar os propositais exageros presentes no longa.