Crítica: Tallulah (2016)
Ficha técnica de Tallulah.
Diretora: Sian Heder (Dorian Blues);
Roteirista: Sian Heder.
Elenco: Ellen Page (X-Men: Dias de um Futuro Esquecido), Allison Janney (A Espiã que Sabia de Menos), Tammy Blanchard (Blue Jasmine), Evan Jonigkeit (The Gift)…
Sinopse: O filme original da Netflix ‘Tallulah’ acompanha a história da jovem Tallulah (Ellen Page), uma garota pobre e extremamente independente vivendo em um furgão. Após o namorado abandoná-la, ela vai para a cidade. Ao impulsivamente “resgatar” (sequestrar) o bebê de uma mãe negligente, ela recorre ao único adulto responsável que conhece: Margo (Mãe de seu namorado), que é levada a acreditar ser avó da criança.
Netflix está aumentando sua gama de produtos originais. Com exceção dos filmes produzidos com o Adam Sandler, ela tem conseguido uma média de bons filmes e séries. Tallulah entra nessa média, mas – infelizmente – não é de todo perfeito.
Logo na sequencia inicial temos a personagem principal saindo de um “roubo” (apostou sem dinheiro), para logo depois praticar sexo com seu namorado; apresentando-nos que roubar – para Tallulah – é tão natural quanto o ato de reprodução. Outra coisa interessante desse início de trama é notarmos que sua moradia é o furgão, e na cena seguinte presenciamos um sonho em que ela flutua e se agarra ao automóvel. Representando que a personagem não está preparada para abandonar aquele mundo – note, também, que atrás dela tem uma patrola envolta de terra, nos mostrando que isso faz parte do processo de construção da personagem.
Após o sumiço do namorado (Nico), Tallulah se vê em meio ao caos e segue para a cidade procurando-o. Vemos aqui uma mudança clara de tom da direção, que opta por usar câmera na mão contrapondo com a estática do interior de onde estava. Se até então acompanhar a personagem principal era interessante, nesse segundo ato somos apresentados a mais dois núcleos de histórias: Margo (Mãe do Nico) e Carolyn (Mãe da Criança sequestrada). A relação de Tallulah (que sente falta da mãe) e Margo (que sente falta de ter uma família) se completa de uma forma muito bem elaborada. Notamos a evolução das duas como pessoas ao longo do filme, principalmente pelo ótimo trabalho de direção que nos mostra a tartaruga da Margo morrendo e seu tapete “centenário” sendo tirado do lugar, para representar a mudança de vida.
Porém, o arco de Carolyn é extremamente problemático. Ela claramente é um estereótipo de mulher que apenas se casou por interesse, e os policias que chama são mais idiotas que os de desenhos animados da TV Globinho. O departamento de polícia, mesmo colocando fotos em jornais e televisão, não consegue ao menos uma pista sequer do paradeiro do bebê. Se não bastasse, a mulher do conselho tutelar que chega para realizar algumas perguntas é outro estereótipo usado em prol da narrativa.
As atuações estão apenas ok. Ellen Page (Tallulah) consegue passar seu grande carisma para a personagem, algo essencial nesse filme. Allison Janney (Margo) faz uma mulher derrubada pelo tempo, seu cansaço no olhar fica evidente. Infelizmente o roteiro a sabota colocando-a em um pequeno e embaraçoso romance. Tammy Blanchard (Carolyn) exagera na atuação como manda sua personagem estereotipada. Já o elenco de apoio faz o suficiente para nos mantermos ligados na narrativa.
O desenrolar dos acontecimentos no terceiro ato é interessante, pelo menos o de Tallulah e Margo. As duas protagonizam cenas interessantes de diálogos, inclusive em uma elas discutem a gravidade. Cena essa que traz a personagem principal falando “Um Imã no centro da terra que nos puxa” enquanto ambas estão deitadas na grama e o bebê está no meio. Uma referência visual de que a criança dá esperança para as duas continuarem a viver.
Quando Nico reaparece e Carolyn se junta ao arco principal, tudo desanda. Os dois personagens são chatos e o roteiro não consegue dar um final digno para cada um, então os abandona. Pergunto-me o porquê disso, seria muito mais interessante não ter dado tanta importância para eles antes de descartá-los.
Por fim, Tallulah não é uma obra prima, muito menos ficará marcado. É apenas um filme que consegue trabalhar bem com as emoções da personagem e nos trazer algumas reflexões sobre o motivo de estarmos na terra. E por que diabos perdemos tempo fazendo coisas que não queremos, enquanto nossos sonhos estão a nossa espera?
Escrito por: Will Bongiolo