Crítica: Dois Caras Legais
Dois Caras Legais é o melhor que o gênero Buddy Cop tem a oferecer
Ficha técnica:
Direção: Shane Black
Roteiro: Shane Black e Anthony Bagarozzi
Elenco: Russell Crowe, Ryan Gosling, Matt Bomer, Kim Basinger, Angorie Rice, Margaret Qualley,
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (21 de julho de 2016 no Brasil)
Sinopse: Dois Caras Legais acontece na Los Angeles dos anos 1970, quando o detetive particular sem sorte Holland March (Gosling) e o truculento justiceiro Jackson Healy (Crowe) tornam-se uma dupla contra todas as possibilidades. Trabalhando juntos, eles precisam encontar uma garota desaparecida que parece ter um alvo desenhado em suas costas. Estará o caso dela ligado ao da violenta morte da estrela pornô Misty Mountain em um acidente de carro? Durante a investigação, March e Healy começam a revelar uma conspiração chocante que chega até os mais altos escalões do poder… e que pode muito bem levá-los à morte.
O Buddy Cop segundo Shane Black
É do conhecimento de todos que o diretor Shane Black ama um Buddy Cop Movie. Na tradução literal, “filme de policiais amigos”. Um Buddy Cop movie , usando a explicação do nosso amigo wikipédia, é “um filme com um enredo envolvendo duas pessoas de diferentes e conflitantes personalidades que são forçados a trabalhar juntos para resolver um crime e/ou derrotar criminosos, as vezes aprendendo um com o outro no processo.”
E é exatamente essa estrutura que Dois Caras Legais segue, conseguindo se destacar em um gênero tão difícil de se acertar o tom. Shane Black entende disso. Além de, entre vários projetos, ter escrito Máquina Mortífera (talvez o maior de todos os Buddy Cop Films), ele dirigiu o subestimado Beijos e Tiros e Homem de Ferro 3, transformando o terceiro filme do herói da Marvel em mais um exemplar do gênero (ao contrário de muitos, gosto muito do projeto, que ousa ao manter o Downey Jr. fora da armadura durante a maior parte do tempo).
“The Nice Guys”
Como já mencionado, é muito difícil fazer um filme de *tiras (imagine um sotaque carioca)* amigos. Além de uma trama divertida e instigante (com o mínimo de coesão), é preciso de coadjuvantes marcantes, e o mais importante: protagonistas carismáticos, com moral bem definida e que tenham um bom entrosamento e sintonia. Já vimos essa fórmula dar muito certo (A Hora do Rush, Miami Vice, Chumbo-Grosso), muito errado (Belas e Perseguidas, Tiras em Apuros, Táxi, R.I.P.D. – Agentes do Além) e muito “não sei se é bom ou ruim (Pare, senão a Mamãe Atira!, Showtime)”. Há até um subgênero e variações com policiais e cachorro (K9, Um Policial Bom Pra Cachorro). Como pode ver, é um gênero bem rico. Ainda assim, Black encontra em Ryan Gosling e Russel Crowe, seus Dois Caras Legais do título, e juntos, eles carregam a obra com uma química e presença de tela invejável.
Dois Caras Legais acontece na Los Angeles dos anos 1970, quando o detetive particular sem sorte Holland March (Gosling) e o truculento justiceiro Jackson Healy (Crowe) tornam-se uma dupla contra todas as possibilidades. Trabalhando juntos, eles precisam encontrar uma garota desaparecida que parece ter um alvo desenhado em suas costas. Estará o caso dela ligado ao da violenta morte da estrela pornô Misty Mountain em um acidente de carro? Durante a investigação, March e Healy começam a revelar uma conspiração chocante que chega até os mais altos escalões do poder… e que pode muito bem levá-los à morte.
Os anos 70
A trama é ambientada nos anos 70, e a boa direção de arte e design de figurinos conferem o charme da época com eficiência. Época que é bem representada também no roteiro, que inclui espertamente convenções e arquétipos da época e do gênero, com um toque de Noir. As piadas com o estereótipo dos hippies da época (“seus fascistas!”) são sensacionais.
No elenco de coadjuvantes a jovem Angourie Rice se destaca como Holly March, filha de Holland. Interpretando o típico papel de “criança esperta demais pra sua idade”, a atriz consegue se sair bem- em grande parte devido a sua química com Gosling- em um papel que talvez não funcionasse com outra atriz interpretando. Se, de início, a inclusão de Holly em boa parte das sequencias de ação do filme me pareceu aborrecida, aos poucos se torna divertido vê-la dentro da ação, o que, obviamente estabelece não só a irresponsabilidade do pai, mas uma dinâmica interessante entre eles. Não tão interessante, no entanto, é a participação de Kim Basinger. Reunindo-se com Russel Crowe, com quem contracenou no jovem clássico Los Angeles – Cidade Proibida, a atriz não tem muito o que fazer, sendo reduzida a uma pequena participação que não é digna a sua relevância na história, e, por mais que seja divertido rever o casal da obra de 97 juntos na tela, o papel de Basinger é esquecível demais para deixar alguma impressão marcante.
Dediquei um parágrafo dos coadjuvantes para Matt Bomer porque sua participação, embora curta, é em uma das melhores sequencias do filme, uma ótima cena de ação que se passa na casa de Holland e é bem coreografada e filmada, sem alguma câmera tremula que dificultaria a compreensão do que se passa, mostrando que até na ação e em momentos de mais “tensão”, Black faz um trabalho eficiente (assim como já havia feito em Homem de Ferro 3, ressaltando ;)).
Holland e Jackson
Mas, apesar da eficiência em todos os aspectos, o filme não teria sucesso nas suas pretensões sem a sintonia da dupla principal. Gosling demonstra um timing cômico que tem sido desenvolvido nos últimos anos de forma promissora enquanto Crowe representa um ótimo contraponto como o durão Jackson. A falta de timing de Russel Crowe serve aqui como charme de seu personagem, que quase não tem senso de humor. O Humor varia, aliás, de comédia de absurdos, comédia de situação e até de gags recorrentes que são sensacionais (os problemas de audição e as menções a Hitler com Holland e o lance dos casamentos com Jackson). E este entrosamento e maneirismos nos fazem simpatizar com a dupla, e o passado dos personagens, mesmo que rasos e um tanto maniqueístas, são típicos do gênero e não comprometem. Muito pelo contrário: conferem um certo charme a história.
No fim, Dois Caras Legais não só é uma das melhores comédias do ano, como o melhor que o gênero Buddy Cop tem a oferecer. A dupla Gosling e Crowe elevam o que seria um filme divertido a algo mais especial. Mais do que uma homenagem ou um subproduto, é uma obra feita com paixão por quem claramente ama esse tipo de filme. E fico no aguardo pela próxima aventura de Holland e Jackson.