Crítica: Florence: Quem é Essa Mulher? (2016)
Florence: Quem é Essa Mulher? é hilário, delicado e reflexivo no tom certo.
Ficha técnica:
Direção: Stephen Frears
Roteiro: Nicholas Martin
Elenco: Meryl Streep, Hugh Grant, Simon Helberg, Rebecca Ferguson, Nina Arianda, David Haig
Nacionalidade e lançamento: Reino Unido, França, 2016 (07 de julho de 2016 no Brasil).
Sinopse: Florence é uma riquíssima herdeira. Ela acredita cantar bem, mas o faz comicamente mal. Para manter a farsa o assistente e companheiro St Clair Bayfield fará de tudo para que não desacreditem de Florence. Uma apresentação pública no Carnegie Hall pode colocar tudo a perder.
A arte, de um modo geral, tem como um dos resultados possíveis provocar sentimentos diversos e até contraditórios, às vezes na mesma pessoa. A dualidade comédia e tragédia não é um dos pilares do teatro à toa. A música, como as demais artes, possibilita sentimentos que transcendem as intenções iniciais dos compositores e intérpretes. E o filme Florence: Quem é Essa Mulher? consegue trabalhar nessas fronteiras de um jeito singular.
Quase um delicioso conto de fadas real, o longa transita por uma nítida canastrice, vide a primeira cena, passa por singelos instantes de emoção, como toda vez que o cenário é a cama de Florence, e concilia ambas as vertentes na figura da protagonista, interpretada pela Meryl Streep.
Não é o melhor trabalho da atriz, contudo ela mostra um requinte, certa senilidade e um que lúdico que dificilmente outra pessoa o faria. O risco de pesar na mão e fica caricata além da conta seria grande. A personagem em si já tem esse viés, então uma interpretação de alguém com o calibre de Streep se fazia necessário. E ela mostra porque é das principais atrizes da história.
Hugh Grant sim nos traz um dos melhores papéis da carreira. Ele vem como um faz tudo resolvedor de problemas e “marido” de Florence. Uma relação que poderia ser baseada apenas no interesse financeiro, transcende tal condição e se torna um modelo de lealdade. Já Simon Helberg, famoso pelo seriado The Big Bang Theory, rouba muito a cena. A verve cômica do ator mostra uma faceta diferente da série de TV, com um olhar ou contendo uma risada, a presença dele é marcante.
Falando em humor, há uma cena envolvendo uma aula de canto que é das mais engrançadas do ano (acho que só perde para a sequência da ponte em Deadpool). E o jeito como aquele momento reverbera em tela até o ponto de quase saturar, mas sem nunca fazê-lo, mostra a habilidade do diretor Stephen Frears.
A trilha sonora é constante e vem para reforçar tanto o referido humor, em passagens que o som é diegético, suscitando um contraste capaz de arrancar gargalhadas. Porém também emociona e conduz nosso sentimento. O volume das músicas está corretíssimo e evidencia um ótimo trabalho de mixagem de som. Ainda na parte técnica, é exemplar o design de produção: carros, figurinos e objetos compõem um cenário fidelíssimo da época (década de 40).
O grande problema do longa, que de modo algum o torna ruim, é a sensação de que a coisa não evolui. Parece que esticaram a piada e ficaram remoendo aquilo. As poucas situações de virada são óbvias e, apesar de impactantes, soam redundantes. Outro fator que me incomodou foi o mau aproveitamento dos personagens secundários. Eles são apenas funcionais e muito destoantes do trio principal.
Florence: Quem é Essa Mulher? cumpre a máxima dita ao longo do filme: de que como é maravilhoso e divertido aquele mundo. Ao mesmo tempo provoca uma reflexão sobre aparências e troca de favores. E, finalmente, a alegoria, mostrada logo no início, de Florence ser uma musa inspiradora, é bem significativa. Seja embalado por essa mulher, conhecida como “a pior cantora do mundo”, e não desafine ao tentar conquistar os próprios sonhos.