“Black Mirror: The Waldo Moment” – (2013)
Waldo é um personagem de desenho animado que tem sua voz interpretada por um ator fracassado e seu papel trata de ridicularizar as celebridades que participam de programas modelo night show, e mascarado como um cartoon para crianças, acaba gerando questões embaraçosas e comprometedoras a seus entrevistados. Com efeito, a partir de seu êxito no trabalho, se vê metido no âmbito político numa eleição para o parlamento inglês.
A popularidade de Waldo no que diz respeito à representar o que as pessoas querem ouvir, mesmo que verdades sem conteúdo, faz com que Jammie – o ator, enfrente um dilema quando um representante da “Agência”, lhe propõe que se torne um produto de escala global. Após ter discordado em participar dessa ideia, Jammie acaba se afastando de seu personagem, contudo, o mesmo não deixa de continuar seus trabalhos, por conseguinte agora, com a voz de seu produtor.
Numa cama de hospital, provavelmente diagnosticado com depressão, Jammie assiste à televisão e ouve os resultados das eleições: Waldo é o segundo colocado e deflagra uma rebelião popular por ter sido derrotado. Jammie, então, acaba mais para o fim do episódio, como um indigente e com raiva ao assistir nas tv’s o sucesso de Waldo como produto global.
Neste capítulo de Black Mirror vemos uma paródia de um tipo de política que se produz e se consome nos meios de comunicação como mero espetáculo para o desfrute das audiências. The Waldo Moment faz uma reflexão acerca do discurso politico das ruas, isto é, mais próximo de seus ouvintes, como também, aborda como sua platéia o recebe através de um meio o qual as imagens entretidas –através de um desenho- e a participação dos espectadores, cada vez mais, são importantes. Waldo ganha um grande impacto entre o público por oferecer uma mensagem original e divertida, carente de propostas e promessas eleitorais. Seu discurso sarcástico e vazio de conteúdo não parece ter importância para os cidadãos, os quais, acabam se posicionando a favor e dando apoio à um personagem que nem mesmo é humano.
Horkheimer e Adorno, em sua obra Dialética do Esclarecimento, entendem por “Esclarecimento”, não apenas a “época das luzes”, mas a pretensão do homem de racionalizar o mundo, tornando-o manipulável:
No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber […]. O preço que os homens pagam pelo aumento aumento de seu poder é a alienação daquilo sobre o que exercem o poder. O esclarecimento comporta-se com as coisas como o ditador se comporta com os homens. Este conhece- os na medida em que pode manipulá-los. O homem de ciência conhece as coisas na medida em que pode fazê-las
O império que Waldo constrói, o qual percebemos ao fim do episódio, é o resultado de um processo de reconfiguração do público-alvo e do próprio sistema: Waldo surge como um simples produto de entretenimento, e posteriormente ao ganhar mais popularidade, aproveita para se opor ao sistema, no entanto finalmente, sua capacidade de difusão e aceitação o levam a ser utilizado como um componente que reforça o pensamento dominante. Paradoxalmente, pois, em The Waldo Moment, Waldo começa e termina sendo um mero entretenimento, todavia num caminho sem mudança ideological, o qual, parte de um personagem-produto anti-sistema para se tornar uma peça do mesmo.
Nota: 5