Crítica: Paratodos (2016)
Paratodos mostra derrotas e vitórias, pessoais e profissionais, desses atletas mais que especiais.
Ficha técnica:
Direção: Marcelo Mesquita
Roteiro: Peppe Siffredi
Elenco: Fernando Fernandes, Alan Fonteles, Daniel Dias, Terezinha Guilhermina, entre outros atletas.
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 23 de junho de 2016
Sinopse: a trajetória de atletas paraolímpicos de 4 modalidades, entre 2012 até hoje. Passando por mundiais, paraolimpíadas e dramas pessoais. Nomes como Fernando Fernandes, Alan Fonteles, Daniel Dias e os boleiros do futebol de 5 estão presentes.
Ano olímpico é sempre uma emoção para atletas, torcedores e imprensa. Em 2016 ainda mais relevante para os brasileiros, pois o maior evento esportivo do mundo será sediado no Rio de Janeiro – e em mais algumas cidades pelo Brasil. Questões políticas e falta de estrutura à parte, fato é que em pouco mais de um mês o mundo estará com os olhos aqui e vibrando com a competição. Esportistas de um modo geral têm histórias de superação. Vide a recente cinebiografia de José Aldo no longa Mais Forte Que o Mundo.
Com, infelizmente, menos holofotes também serão disputados os jogos paraolímpicos. Modalidades similares às convencionais adaptadas à condição dos atletas. O Brasil, inclusive, é um expoente na competição, sendo a 7ª potencia mundial dentre todos os países. Contar a história desses atletas foi o objetivo de Marcelo Mesquita com o documentário Paratodos. A partir de 4 modalidades (atletismo, canoagem, futebol e natação), vemos o dia a dia, competições e peculiaridades desses heróis nacionais – muitas vezes sem o devido apoio e reconhecimento.
Paratodos já começa com Oscar Pistorius em tela. Ele por si só já renderia um documentário à parte (vale pesquisar mais sobre a figura dele). Alan Fonteles de Oliveira se tornou um rival de Pistorius, ganhando de forma surpreendente do favorito. Alan, no entanto, acaba se descuidando e engorda. Com Pistorius preso (ele foi acusado da morte da namorada), a briga de Fonteles passou a ser contra ele mesmo.
Ainda no atletismo, Terezinha Guilhermina é outra com foco. Com quase 100% de perda da visão Terezinha compete em uma modalidade junto com um guia. Fazendo de um esporte individual, um trabalho de equipe. Com personalidade forte e até soando arrogante (segundo ela mesmo), ela se cobra muito e diz uma frase marcante: “sei de onde eu vim e sei que se não me esforçar para onde vou voltar”.
Fernando Fernandes participou do BBB 2. Como modelo brilhou nos eventos e se encaminhara para uma carreira internacional na Itália. Contudo, um acidente de carro o deixou com os membros inferiores imobilizados. Fernando achou na paracanoagem um meio de dar a volta por cima. Detentor de vários títulos mundiais, ele chega à Itália agora para competir como atleta de renome. Uma importante e controversa discussão sobre a divisão dos atletas seguindo a falta de mobilidade de cada um gera empecilhos para ele. Junto com o xará Fernando “Cowboy”, temos o segundo arco do documentário.
Futebol é uma paixão nacional. É o sonho de muita gente bater uma bolinha, mas deficientes visuais também podem jogar? Claro. Regras adaptadas, como uma bola com sininhos e silêncio nas arquibancadas, e que a pelota role… No fim vemos que não há tanta diferença: jogadores brincalhões , que adoram batucar e contar piadas, a velha rivalidade Brasil x Argentina e muita emoção em batidas de pênaltis.
Na natação o multi campeão Daniel Dias mostra que a ausência de membros não é motivo para tirar o sorriso do rosto. Susana Schnarndorf era triatleta, mas com uma grave doença degenerativa teve que mudar o foco e acabou também se dedicando às braçadas. Os dois são contextualizados mais em um drama familiar. Ela também passa pela questão da requalificação para mudar de categoria e com ele vemos a importância do exemplo para as novas gerações.
Vale o destaque que o ar de “coitadismo” nunca é posto em tela em Paratodos. Mais do que atletas com deficiência, vemos atletas. Esse enforque tem que ser elogiado. A armadilha de apelar para um tom piegas ou até preconceituoso era fácil de ser armada. No lugar de qualquer sentimentalismo barato vemos um apuro técnico do diretor e equipe em mostrar as dificuldades de uma maneira orgânica e privilegiando as conquistas esportivas.
Há também algumas cenas de destaque. A primeira imagem do futebol de 5 (atletas com deficiência visual) é uma tela escura com pouca visibilidade e sons ao fundo para nos localizar – algo corriqueiro no esporte. Na tomada que dá início à história de Fernando Fernandes vemos uma movimentação de câmera e um jeito bem dinâmico para contar a vida pregressa do atleta, além de uma câmera na própria canoa.
Paratodos conta de forma emocionante todas essas histórias. Mesmo sem apelar para o melodrama é praticamente impossível não se emocionar, torcer então é inevitável. Falta, contudo, uma melhor coesão narrativa. Tranquilamente poderia ter sido feito uma série documental para dar mais espaço para cada modalidade ou então ligar de forma mais firme cada arco. A ausência de um final amarrando tudo que vimos também foi sentido.
Ainda com essas pequenas falhas estruturais, o documentário se faz importante e transmite bem o que ele queria passar: um olhar necessário e valoroso para guerreiros do esporte e da vida.
https://www.youtube.com/watch?v=YszGr85Iv1c&ab_channel=PARATODOS-ofilme
Resumo
Paratodos mostra derrotas e vitórias, pessoais e profissionais, desses atletas mais que especiais. Mesmo sem apelar para o melodrama é praticamente impossível não se emocionar, torcer então é inevitável.