Crítica: Procurando Dory (2016)
Procurando Dory conseguiu ser tão bom ou melhor que Procurando Nemo.
Ficha técnica:
Direção: Andrew Stanton, Angus MacLane
Roteiro: Andrew Stanton, Angus MacLane, Victoria Strouse
Dubladores: Ellen DeGeneres, Albert Brooks, Ed O’Neill, Kaitlin Olson, Hayden Rolence
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (30 de junho de 2016 no Brasil)
Sinopse: Dory passa a ter lapsos de memória e lembra dos pais. A partir daí a desmemoriada peixinha azul começa uma jornada de autoconhecimento e busca pelos genitores.
Procurando Nemo encantou multidões ao brindar o público com uma road trip marítima onde o pai Marlin junto com a nova amiga Dory buscam Nemo por todo o oceano. E Dory com os indefectíveis bordões “oi, eu sou a Dory” e “Continue a nadar..” se tornou uma coadjuvante muito marcante. Mas será que ela funcionaria como protagonista?
A resposta é um sonoro sim! A pixar conseguiu mesclar uma história de origem com uma narrativa que serve de sequência de Procurando Nemo. E o apuro do roteiro é a coisa mais forte em Procurando Dory. Eles resgatam tudo que funcionou no filme de 2003: personagens efemeramentes marcantes, humor e tensão em uma aventura cativante e um argumento que faz com que você se importe com aqueles peixes.
Mas não houve simplesmente uma repaginada nos elementos que deram certo – existe sim uma bem-vinda familiaridade que funciona – mas o que vemos em tela em Procurando Dory tem um ar singular. O drama de Dory se assemelha ao de Marlim, mas nunca soa como cópia e isso se dá graças ao fator “memória”. Vamos clareando aquele universo junto com a personagem em uma história incrivelmente redonda.
E a condição de Dory é bem explorada o tempo inteiro e é ela que dá essa pitada a mais que torna o filme tão fantástico. Mais do que simples piadas ou situações dramáticas envolvendo lembrança/esquecimento, os flashbacks são um elemento narrativo importante e que empurram a história para frente. E a empatia que aquela situação gera é raramente vista. Quando você entende o cuidado que os pais tem e o significado das conchas é possível tirar uma lição para a vida.
Dos muitos amigos que a acompanham na jornada destaca-se um polvo “camaleão” que tem medo de voltar para o mar. Ele é absurdamente útil a ponto de ser o deus ex machina em vários momentos. Há uma cena envolvendo um veículo que transcende qualquer suspensão de descrença… um polvo falar é ok, mas aquilo lá não dá (se bem que a cena termina com uma música PERFEITA)… Ainda assim ele possui uma subtrama coerente e que diverte. Pena que o Antonio Tabet não deu o peso necessário ao personagem na dublagem brasileira – única voz destoante, aliás.
Os demais personagens funcionam como elenco de apoio e nem todos tem uma evolução, porém o humor e o sentido deles para a história fica bem visível. As duas novas baleias são os mais complexos e trazem características bem peculiares. A explicação para o “baleês” de Dory é ótima.
Há toda uma mensagem ecológica envolvendo um centro de reabilitação. Porém ela nunca soa como “pregação” ou didática demais. O local também vem como cenário fundamental na história de Dory. Nessa hora, retomando o tema dublagem, os brasileiros são coroados com uma excelente piada, externa ao filme, graças à presença da jornalista Marília Gabriela.
O longa tem vários cenários e um cuidado do design de produção em cada um deles. Contudo a animação em si, apesar de muito boa (muito boa de verdade), não é espetacular. O Bom Dinossauro, também da Pixar, e o curta exibido antes de Procurando Dory são melhores nesse sentido. Ah, e vale chegar cedo para ver o curta. Ele não é brilhante, mas “fofo” é uma palavra que define bem, além do primor visual.
Procurando Dory quebra o estigma de continuações comerciais e mostra muito bem a que veio. Outro tiro certeiro da Pixar – peça igual só vimos em Toy Story 2 e 3. Vá se deliciar com a mais nova xodó dos sete mares. Suspeito que os adultos apreciem até mais que os pequenos. Em vários momentos a coisa fica tensa de uma maneira que as crianças podem se dispersar. E algumas piadas eles vão perder, sem falar no subtexto… e fiquem até o final, final mesmo, tem cena pós-créditos.