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Crítica: O Caseiro (2016)

O Caseiro foge do estilo de outras produções nacionais, mas ainda assim cai em alguns clichês do gênero.

Ficha técnica:
Direção: Julio Santi
Roteiro: Julio Santi, Joao Segall, Felipe Santi
Elenco: Bruno Garcia,  Leopoldo Pacheco,  Denise Weinberg, Fabio Takeo, Malu Rodrigues
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 23 de junho de 2016

Sinopse: um professor/escritor é chamado por uma aluna para ajudar a irmã dela que está apresentando machucados no corpo e o resto da família que está sendo atormentada. Seria uma entidade sobrenatural maligna ou alguém da própria família o responsável pelos acontecimentos?

O-CASEIRO

Antes de falar do filme em si, vale ressaltar que é muito bacana ver um longa do gênero ser realizado em terras tupiniquins. O Caseiro teve um bom orçamento (pouco mais de um milhão e meio) e está em circuito comercial. E importante: em momento algum passa a sensação de amadorismo ou deixa a desejar em comparação com o que vemos lá fora.

Contextualização devidamente feita, O Caseiro apresenta uma típica história de terror psicológico/suspense com os clichês de ambos os gêneros. Contudo, realiza um bom trabalho nas duas frentes. Está tudo ali: muitas cenas à noite, personagens agindo de maneira não muito inteligente, um passado nebuloso, um cômodo assustador, um objeto peculiar, criança que vê assombração, faltou só o cachorro…

Vale o destaque que em momento algum há o uso de jumpscare, nem visual ou sonoro, como muleta para reforçar o medo. A atmosfera construída é convincente por si só. Todavia, falta uma certa sutileza na direção do Julio Santi, por exemplo, ao repetir algumas cenas ou fixar demais a câmera em um determinado local. Há também uma marcação de passagem de tempo que poderia ser retirada. Mas sem dúvidas é um diretor promissor.

O Caseiro

O protagonista, o Professor Davi Carvalho, é um pouco cético em relação aos fenômenos paranormais. Ele já escreveu um livro sobre a psicologia paranormal e dá explicações científicas para um caso que ele analisou. Renata o procura dizendo que a irmã está com machucados no corpo. A família passou por uma tragédia recente, a mãe morreu, e no terreno onde moram um caseiro se matou há algumas décadas, inclusive o pai de Laura presenciara tal acontecimento. O professor então decide investigar o ocorrido.

Chegando na casa ele se depara com alguns segredos. Os adultos têm um comportamento estranho e parecem esconder algo. Uma criança alega conversar com o tal caseiro. Há também um objeto que a família encara como mágico. Tudo isso apresentado de forma muito rápida no primeiro arco. Vamos desenvolver melhor aquele ambiente e os personagens no decorrer do filme. Creio que faltou um pouco de calma no início, mas nada muito problemático.

O-Caseiro

A trilha é bem presente em quase todo o filme. E ela traz bons elementos para o clima da narrativa e não é tão óbvia quanto outras do gênero. A fotografia de O Caseiro é boa ao dar uma crueza necessária em boa parte do filme e se torna sombria no momento certo. Vemos com constância enquadramentos que fazem alusão ao Iluminado de Stanley Kubrick. O ritmo tem aquele probleminha no início e acrescento que o mesmo se repete no final. Já no meio há o oposto: uma lentidão que arrasta as cenas mais do que precisava. Os efeitos, simples se comparados a longas estrangeiros, são dignos de elogios.

A história e tudo que a cerca é interessante e cativa. Mas os personagens em si são genéricos e não geram empatia. Parte desse problema está nas atuações. O veterano Bruno Garcia passa uma interpretação um pouco mais fria do que o personagem pede. As adolescentes/crianças não tem o viço de uma Madison Wolfe, a Janet Hodgson de Invocação do Mal 2. Quase todos os atores estão em um nível apenas regular. Já Denise Weinberg, como Nora, vai um pouco melhor ao passar uma dubiedade sagaz à personagem.

O Caseiro foge do estigma de terror trash que é a marca do nosso cinema. Aqui a obra se pauta em um eficaz suspense. Existe pelo menos um dúzia de filme que eu poderia citar que se parecem com o que vemos aqui, mas seria spoiler daqueles e deste. O que eu posso dizer é que quem não é muito afeito ao gênero poderá ter uma experiência melhor. Mas mesmo para quem o enredo soar previsível também será conduzido a um longa nacional bem produzido e apresentável de forma peculiar para os nossos padrões. Se bem que este ano tivemos O Menino e o Mundo, Ponto Zero e Mais Forte que o Mundo – A história de José Aldo. Todos com um gênio bem singular e envoltos em uma obra de altíssima qualidade. Viva o cinema nacional.

https://www.youtube.com/watch?v=u6aBW2VaBh8%20

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