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Crítica: Mundo Deserto de Almas Negras (2016)

Mundo Deserto de Almas Negras tem uma boa ideia, mas não consegue criar algo em torno dela.

Direção e roteiro: Ruy Veridiano
Elenco: Sidney Santiago, Naruna Costa, Will Damas,  Marilia Moreira, Renaldo Taunay
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 16 de junho de 2016.

Sinopse: o advogado Oscar é escalado para colocar um celular dentro de uma penitenciária. No caminho ele sofre um assalto. A partir daí uma organização começa a persegui-lo.

Mundo Deserto de Almas Negras

Normalmente quando pensamos em um filme nacional vem à mente comédia ou drama. Sentimos uma certa carência nos demais gêneros. Mundo Deserto de Almas Negras, além de um título instigante, coloca na tela um suspense-policial-ação. Ele vem com uma premissa bem curiosa: os negros ocupam as classes altas e são o centro da sociedade, já os brancos são marginalizados, colocados em situações periféricas. Tudo isso tendo capital paulista como cenário.

Após um peculiar prólogo, o longa abre com a câmera se deslocando em um restaurante bem chique, onde só vemos pessoas negras como clientes. Ao fundo escutamos a música Negro Gato de Luis Melodia. Com uma cena, sem precisar de uma exposição desnecessária, o diretor Ruy Veridiano evidencia o que ele quer nos trazer – que se confirma no restante do filme –  uma crítica social que satiriza preconceitos em relação a cor. No entanto, o começo promissor se desmorona rapidamente.

Apesar da sagaz sacada, o que temos é um roteiro confuso, diálogos ruins e situações improváveis. Talvez uma história mais pé no chão pudesse dar mais força à crítica central. Há um viés pouco realista nas falas de alguns personagens que os impedem de gerar empatia. Uma estilização do vilão, o chefão da organização, completamente torta, é um exemplo dessa falta de coerência (lembra um pouco o que vimos em O Escaravelho do Diabo).

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A história poderia ser interessante, mas o desenvolvimento tem muitos problemas. Há, por exemplo, um excesso de cenas em um carro que poderiam ser melhor trabalhadas. O terceiro arco traz uma resolução ainda pior que o restante. Na realidade toda a produção tem um ar de teatro. Se o estilo fosse imposto só na estética do filme teríamos uma obra mais bem sucedida. Não preservar o roteiro rompeu completamente a minha boa vontade com o que estava vendo.

Na parte técnica, a fotografia tem méritos ao colocar uma certa dualidade de luz e sombra – em dois momentos, um no começo e outro no final, isso funciona muitíssimo bem. Os enquadramentos também auxiliam no visual. A edição tornou a coisa toda meio lenta, para um filme de ação a opção é questionável. Não reforça o suspense, só deixa o filme moroso.

Já a trilha é bem variada, inusitada até, compondo bem alguns vazios narrativos. Sem dúvidas a melhor coisa de Mundo Deserto de Almas Negras. Integram a parte musical nomes como: Os Mutantes, Tropkillaz, Tom Jobim, Itamar Assumpção, Luiz Melodia, Dexter, Xis + Chernobyl, Marcos Valle, Luiz Gonzaga, Tony Tornado, Wilson Simonal.

Vou repetir o comentário que fiz em outro texto: prefiro algo que me desagrade pelo exagero do que pela pasteurização. Mundo Deserto de Almas Negras tem méritos em alguns aspectos e aborda o racismo de uma forma muito inteligente, mas falha na composição geral do filme e não se sustenta tanto. Citarei, novamente, os filmes Sinfonia da Necrópole, Uma Noite em Sampa e Ralé. Tal como Mundo Deserto de Almas Negras, todos nacionais que tiveram propostas parecidas, mesmo deixando a desejar funcionam como alternativa para quem está cansado de ver sempre a mesma coisa. Com todos os defeitos de cada um deles, acho válida a experiência.

 

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