Crítica: Roteiro de Casamento (2016)
Roteiro de Casamento é leve, divertido e muito bom.
Ficha técnica:
Direção: Juan Taratuto
Roteiro: Pablo Solarz e Juan Taratuto
Elenco: Adrián Suar, Valeria Bertuccelli, Alan Sabbagh, Norman Briski
Nacionalidade e lançamento: Argentina, 2016 (26 de maio de 2016 no Brasil)
Sinopse: dois atores se conhecem em uma gravação, mas ele não sai do personagem e ela se apaixona pela persona que ele criou e não por ele. Quando ele se revela o verdadeiro ser, gera conflitos, mas aí eles já estão apaixonados.
Longas argentinos que chegam ao Brasil geralmente são bons ou ótimos. Do ano passado para cá tivemos O Clã, O Décimo Homem (este não tão bom) e Truman (este perfeito). Roteiro de Casamento eu confesso que não esperava tanto, mas sabia que algo poderia ir além do clichê. E, ainda assim, tive uma belíssima surpresa.
A proposta aqui é ser uma comédia romântica leve e que vai agradar uma parcela grande do público. Mas definitivamente não temos uma filme raso. Há vários elementos a serem discutidos, algo raro em longas do gênero.
Os dois personagens principais são muito engraçados e têm várias características que os tornam marcantes. Eles possuem qualidades e defeitos em abundância. Além de uma química que torna as conversas e os dilemas do casal bem curiosos.
Fabián Brando é um ator que já contracenou com Brad Pitt, Sean Penn e já trabalhou com Polanski, Francis Ford Coppola e Clint Eastwood. Ou seja, Brando não tem apenas um sobrenome de peso, mas é muito bem relacionado. Ele é muito “estrelinha” e egocêntrico. Lembra muito o personagem de John Turturro em Mia Madre. Florencia Córmik é uma insegura jovem atriz. Ela não consegue gravar uma cena de choro e faz com que a tomada se repita por 45 vezes. Flor admira muito Fabián e o vê como generoso e companheiro em cena.
Como o título em português insinua, os dois atores se casam. E como nome original, Me casé con un boludo (Me casei com um imbecil), da película entrega as coisas não se desenvolvem muito bem. Fabián não era o homem que Flor esperava. Esta se apaixonou pelo personagem do filme que eles estavam fazendo e não pelo ator.
O que se passa a partir daí é um show de interpretação em vários níveis. Há as atuações de Adrián Suar, fazendo Brando, e Valeria Bertuccelli como Flor. Mas os personagens deles também colocam novos papeis no jogo do relacionamento. Mas constantemente Fabián fica preocupado com a imagem dele na mídia. O próprio pedido de casamento se dá diante da pressão imprensa.
O humor do filme tem ótimos resultados. Não será difícil arrancar gargalhadas. O texto funciona com tiradas rápidas. O mérito vai também para os atores. Os já citados Adrián Suar e Valeria Bertuccelli estão excelentes vendem uma química quando é necessário e uma “não-química” quando a relação entre eles pedem. O trabalho corporal também condiz com a proposta. Alan Sabbagh, um dos poucos pontos forte de O Décimo Homem, também está presente aqui. Cada participação dele é tão hilária quanto às dos protagonistas.
Mas nem tudo funciona plenamente. A junção entre o casal principal foi um pouco acelerada e questionável. E no final do segundo arco e começo do terceiro há uma certa barriga e o ritmo trava. Algumas piadas se repetem e perdem força mais para o final do longa. Há também uma falta de sutileza, também no terceiro arco, quando esta se fazia necessária. Apesar dos problemas destacados na parte final, há uma resolução inteligente que se apoia na metalinguagem. Aliás, este é um elemento presente em toda a trama.
O público que não é muito afeito aos longas do gênero pode ter aqui uma boa chance de dar uma oportunidade. Roteiro de Casamento é uma comédia romântica, mas com uma boa construção de personagem e um história que flui bem a maior parte do tempo. Vale e muito o ingresso deste longa que estreia na próxima quinta.