Crítica: Capitão América: Guerra Civil
Capitão América: Guerra Civil traz a melhor cena de ação dos filmes da Marvel e muito mais…
Ficha técnica:
Direção: Anthony Russo e Joe Russo
Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely
Elenco: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Sebastian Stan, Anthony Mackie, Jeremy Renner, Chadwick Boseman, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Tom Holland, Emily VanCamp e Daniel Brühl
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (28 de abril de 2016 no Brasil).
Sinopse: após os acontecimentos de Soldado Invernal e a Era de Ultron, Capitão América e Homem de Ferro se colocam em posições opostas no que tange à supervisão pelos governos das atitudes dos super heróis.
O aviso era desnecessário, mas ainda assim vamos lá: esta crítica NÃO tem spoiler. E se, por acaso, você não viu os trailers vale a pena guardar a emoção de algumas cenas para a hora H. E a minha leitura se restringirá ao filme que estreia hoje nos cinemas. A comparação com as HQs é válida, porém não será objeto deste texto.
O longa começa e já temos algumas pitadas daquilo que vamos encontrar o tempo todo: ação frenética, humor às vezes funcionando e em outras não e, claro, os heróis em tela lutando. Temos aqui algo importante: a motivação dos dois lados da guerra que divide Capitão América e Homem de Ferro é colocada de forma orgânica e direta na trama. Você entende os pontos de vistas deles.
Praticamente todas as cenas de ação são bem realizadas e empolgam. A suspensão de descrença dá conta de um detalhe ou outro que poderia ser questionado, mas no tom geral o público curte o que vê em tela e aguarda os próximos embates. A trama política, apesar de não estar um ruim, não se sai tão bem quanto a parte mais movimentada.
Os heróis, por já serem conhecidos, não tem tanta apresentação (o que é bom). A exceção fica por conta do Pantera Negra. Os eventos que o cercam tem relação direta com o mote central da trama e para aqueles que tem contato pela primeira vez com o personagem tem a possibilidade de ter a calma necessária para absorver aquele contexto, mesmo sem grandes aprofundamentos (estes virão no filme solo, programado para 2018).
A história do filme é interessante e traz alguns elementos que devem agradar. Contudo não espere grandes filosofias ou uma complexidade de camadas muito profunda. O roteiro é correto consegue desenvolver alguns personagens de uma forma muito boa e traz uma história, paradoxalmente, simples e grandiosa.
Os personagens tem falas impactantes, engraçadas e dramas pessoais. Sentimos empatia por eles e é praticamente impossível ficar imparcial (e podendo circular de uma lado para outro – por vezes me peguei torcendo por um e, em outros momentos, eu estava vibrando com o outro). O vilão, ponto fraco de vários longas da Marvel, tem um motivação coerente e arquiteta um plano crível. Não entrará no hall dos grandes vilões da história do cinema, contudo traz bons elementos narrativos. Mas o grande destaque vai para as conversas dos dois protagonistas e os conflitos de cada um.
Na parte técnica destacarei três elementos: um bom, um “nulo” e um ruim. Os efeitos visuais estão postos a serviço da narrativa e nunca a engolem, além disso eles aparecem de forma visualmente clara – não fica uma bagunça em tela. Vale o comentário que o 3D está muito bom. Não espere coisas voando em direção à plateia, mas sim profundidade e uma certa “textura”. Mesmo com uma ou outra falha nos efeitos o tom geral é bem positivo aqui. A trilha deixa um tanto a desejar. Falta algo marcante que seria muito bem-vindo aqui, esse é o elemento “nulo”.
O ponto ruim é o ritmo. Há vários cortes equivocados e a montagem não favorece a história. Uma cena dramática é “juntada” com uma cena cômica que quase estraga o que vimos anteriormente. A necessidade de deixar o ar mais leve muitas vezes não funciona aqui. O ritmo também engasga no final do primeiro arco até boa parte do segundo, tornando o desenvolvimento pior do que ele realmente é.
Falando de alguns personagens: o Capitão América se impõe bem e continua em ascensão em relação aos filmes anteriores. Já o antagonista dele, o Homem de Ferro, por vezes aparenta um intencional cansaço que faz todo sentido. Ele deixa, de certo modo, o posto de alívio cômico. Pantera Negra é uma peça “chata” no tabuleiro. O novo personagem foge do tom dos demais e parece deslocado, mas isso é posto de forma também proposital e funciona. A Viuva Negra perde força em relação ao longa anterior do Capitão América. Já o Soldado Invernal aparece bem e cresce junto com o Capitão. A amizade deles é algo bem explorado. O Falcão continua com carisma e mesmo não tendo um arco narrativo forte, ele participa de forma significativa nas cenas de ação.
Apesar do pouco tempo em tela quem rouba a cena é o Homem Aranha. Arrisco-me a dizer que 100% das aparições causam boas reações no público, tanto na parte de ação, quanto no humor. É, sem dúvidas, o melhor Homem Aranha já visto nas telonas. Com menor impacto (com o perdão do trocadilho), o Homem Formiga também presta bons momentos na briga.
O filme como um todo é uma curva ascendente de qualidade. Depois de uma certa monotonia temos a formação dos “times” e a partir daí é só alegria. A coisa flui bem e tem um fechamento muito satisfatório para a trama central. As referências aos outros filmes só aparecem com mais ênfase nos pós-créditos (aliás fique até o final: há duas cenas pós-créditos).
O grande destaque é a briga entre os heróis. Mesmo com algumas conveniências, que são justificáveis, Capitão América: Guerra Civil tem a melhor cena de luta de todos os filmes do gênero que eu tenha visto. Essa é uma daquelas passagens que será lembrada por muito tempo. Ela por si só faz a nota do filme subir consideravelmente. Vá com expectativas altas e as supere ao passar por aquela experiência.
Esse e outros méritos se deve à dupla de diretores, os irmãos Russo. Mesmo com os problemas de ritmo que eu citei (que também caem na conta deles), Anthony e Joe Russo têm muitos mais méritos que defeitos na condução de Capitão América: Guerra Civil. Ironicamente em um filme com tantos super heróis temos problemas bem íntimos e uma ação humanizada. Essa proximidade com público é conseguida sem cair no melodrama, isso fica posto, por exemplo, no arco do Homem Aranha (ah, ele tem uma referência GENIAL à Star Wars).
Uma preocupação em filmes desse estilo, com muitos personagens, é com a divisão deles em tela. Há, claro, uma preponderância no tempo para o Capitão América e o Homem de Ferro. O Bucky, Soldado Invernal, também aparece bastante. O Pantera e o Homem Aranha têm uma cena para introduzi-los na trama e participam bem nas cenas de ação. Os demais ficam de coadjuvantes mesmo, mas não chega a ser um problema.
A briga entre fãs de filmes da Marvel e da DC muitas vezes fica restrita às paixões que os fãs de cada um dos lados têm. Mas mesmo correndo o risco de cair em uma armadilha cravo: Guerra Civil conseguiu ser tudo que a Origem da Justiça não alcançou. E não, não sou “marvete” ou qualquer coisa do gênero. O veredito se dá simplesmente pela minha análise de ambos os longas.
A ação, os personagens, o roteiro e a direção são superiores no longa da Marvel. A cena do aeroporto (onde os personagens se reúnem para a luta) é muito mais completa que o embate do homem de aço contra o morcego. Temos aqui muito mais desenvolvimento de personagem do que lá (claro que aproveitando-se da bagagem dos filmes anteriores). A história tem menos furos e é contada de uma forma muito mais palatável em Guerra Civil do que em BvS…. Tomara que nos próximos anos a DC nos traga obras melhores e a competição saudável entre as duas faça o público muito feliz.
Isso tudo não quer dizer que o Capitão América: Guerra Civil seja isento de problemas, mas sem dúvidas é um baita filme e joga as expectativas para os próximos lá no alto. Corra para os cinemas….