Crítica: Truman (2015) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Truman (2015)

Ficha Técnica:

Direção: Cesc Gay

Roteiro: Cesc Gay e Tomàs Aragay

Elenco: Ricardo Darín (Julián), Javier Cámara (Tomás), Dolores Fonzi (Paula)

Nacionalidades: Espanha, Argentina 2015 (14 de abril de 2016 no Brasil)

Sinopse: dois amigos de infância, separados por um oceano, se encontram depois de muitos anos. Eles passam uns dias juntos, lembrando os velhos tempos e grande amizade que se manteve com os anos, tornando-os inesquecíveis, devido o seu reencontro ser também o último adeus.

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Sim, sou eu de novo falando de um filme que tem o Darín. É, eu gosto dele, fazer o quê? Mas enfim, deixa eu contar como eu “fiquei sabendo” de “Truman”:

Tudo começou com um simples trailer enquanto eu voltava de uma viagem à trabalho para Florianópolis, mais ou menos duas semanas atrás. Estava lá, toda compenetrada no meu livrinho do Saint-Exupéry – não o Pequeno Príncipe, ele tem outros! – até que eu esbarrei os olhos na telinha da poltrona vizinha. Eu só vi, de relance, aparecer o Darín, algumas meias palavras, um consultório, e só. Fiquei com aquilo na cabeça: “eu PRECISO ver esse filme”.

Na verdade, eu nem tinha me ligado se estaria passando no cinema ou se era algo do mundo mágico da Netflix (que pena, não era). Acontece que ontem, eu finalmente assisti à esse filme. Comecei com as expectativas já altas, afinal de contas, TEM RICARDO DARÍN.

Agora chega de baboseira, vamos começar a crítica: dirigido por Cesc Gay, o longa conta a história de dois amigos de infância, Julián e Tomás, que se encontram depois de muitos anos. E é só isso o que eu posso contar.

Os próximos parágrafos não são recomendados para quem sofre com SPOILERS. Ou seja, só leia este primeiro parágrafo se você for MUUUUITO CURIOSO. Mas não vale me xingar.

E aí você me diz, sério? Só isso? Não, na verdade é bem mais complicado. Julián tem câncer. Já tomou todos os remédios necessários para o tratamento, mas ele não tem mais vontade de lutar. E é aí que entra Tomás: o amigo, que vive no Canadá (não, ele não mora com a Luiza), toma a decisão de visitar Julián e procura convencê-lo de continuar se tratando. Mas quem é Truman, afinal de contas? Julián tem um cachorro (chamado Truman!!!), já idoso, e basicamente o filme mostra como o tutor busca uma pessoa adequada para cuidar de seu companheiro canino, afinal de contas, ele está se programando para “morrer”.

Os próximos parágrafos são recomendados apenas para quem já assistiu ao filme. 🙂

Eu não sei você, mas eu chorei copiosamente ao final do longa. Parecia uma criança que perdeu um brinquedo muito importante no parque de diversões. Mas vamos do começo. Por se tratar de um filme com assunto tão delicado, a forma de que se fala sobre a morte é realmente muito leve. Julián está apenas se preparando para deixar este mundo. Ele está cansado. O câncer se espalhou. Ele não quer passar o resto de seus dias moribundo, num hospital. E também não quer que as pessoas tenham pena dele. Justo? Orgulhoso? Egoísta? Não importa. Não é sobre isso que “Truman” trata. É sobre amizade. Sobre fazer algo por alguém que você realmente se importa.

Até então, “Intocáveis”, aquele filme francês que fala também sobre amizade, tinha me tocado tão profundamente que tinha elegido como melhor longa que já tinha visto. Mas, por questões totalmente afetivas e pessoais, “Truman” tomou este posto no meu coração.

É muito bacana ver as transições que o diretor usa para pontuar os acontecimentos e mostrar ao telespectador o que de fato está acontecendo. Essas mudanças são marcadas com amplos enquadramentos, em que aparecem a casa com a neve (Canadá), a rua estreita e a sacada com bandeira ao fundo (Espanha), e um rio com uma ponte repleta de bicicletas – sem contar a casa/barco, bem à beira da rua (Amsterdã). E claro, sempre que algo acontece ou quando os personagens vão se deslocar, fica evidente com os meios de transporte (avião, carro, táxi).

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As cores também se mostram sempre mais frias, cinzentas. E tudo o que tem cor, é mais escuro. Principalmente Darín, que está sempre de preto ou alguma cor bem sóbria. O contraponto aparece quando seu personagem aparece em cena (ora, vejam só, Julián é ator de teatro) e tem as roupas claras, com maquiagem e peruca brancas. Neste momento é possível observar a vida de Julián. Ali, em cena, ele está vivo, feliz, e se esquece do que está passando em sua vida.

Apesar de ser um drama, que fala da amizade, da morte, de cachorros (sim, põe cachorro no meio que todo mundo chora), é um filme com um certo tom de comédia, e apesar de alguns picos, mesmo que pequenos de emoção, eles são contidos por um corte de assunto quase que abrupto. Quando Julián deixa o cão com um casal, para que vejam se ele irá se adaptar, o personagem reluta, diz que não trouxe “as escovas de dentes nem os pijamas” do cachorro. Momentos assim dão leveza e até provocam um sorriso nos lábios, mas nada assim, de gargalhar e doer o abdômen. E Tomás, que aparece praticamente O TEMPO TODO ao lado de Julián, nada mais é que seu melhor amigo, companheiro. Figuradamente, é seu anjo da guarda, pois com todas as pessoas com as quais Julián se despede, Tomás está junto, nem que seja no cantinho da cena.

O certo romance de Tomás e da irmã de Julián (Paula) também são existentes apenas para atenuar o filme. Assim como o momento em que Julián descobre que o ex-marido de uma amante será pai (ficou confuso, mas acho que você vai lembrar dessa cena, é em um restaurante) – basicamente para dizer, em um ditado popular, que onde há morte, há vida. O bebê não chega a nascer, nem Julián morre. O que é bem irônico para um filme que discute sobre eutanásia.

E aqui fica meu agradecimento a Cesc Gay e Tomàs Aragay pelo roteiro: os momentos “argentinescos” de Darín trazem uma graça sem limites ao personagem, que cativam, mesmo ele sendo um folgado sem noção. Mostrar a reação de cada personagem sobre a decisão de Julián é extremamente poderosa. Todos se mostram com uma cara de “já chorei muito”, “não aguento mais”, como mostra a ex-mulher de Julián, o filho Nico e principalmente Paula.

Mas o que fica de lição, pelo menos para mim, são os valores de uma amizade que não sofre pela distância nem pelo tempo. Eles jantam como se morassem juntos a vida toda. Eles conversam, brigam, discutem e brincam como duas eternas crianças. Tanto é que o relacionamento deles é muito mais forte do que qualquer outra relação, seja com filhos, esposa ou outros familiares.

Será que você terminou o filme pensando o mesmo que eu?

“Quem é o seu ‘Tomás’?”

p.s.: peço perdão pela introdução prolongada. É que eu ando assistindo muito à How I Met Your Mother.

 

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