Capital dos Mortos 2 será exibido de graça em 3 estados
Capital dos Mortos 2: mundo morto é filme nacional de terror, mais especificamente de zumbis, algo raro no nosso cinema. Dirigido pelo Tiago Belotti, com um orçamento baixíssimo (menos de 10 mil reais) ele conseguiu tirar leite de pedra. Atualmente está em temporada de festivais, sendo exibido na Mostra do Filme Livre, sempre entrada franca.
O Tiago além de diretor é crítico e tem um canal no Youtube com mais de 80 mil inscritos, o Meus 2 Centavos. Nele, Belotti traz críticas, tops 10, fala de teoria cinematográfica, entre outras atrações. Tudo com uma linguagem acessível e ao mesmo tempo muito analítica. Vale a pena conferir a entrevista que fiz com ele clicando aqui.
Sobre o longa farei aqui uma rápida análise para situá-los no universo da obra. Apesar das menções ao primeiro filme é plenamente possível ver Capital dos Mortos 2, sem ter visto o antecessor. Há também uma HQ, As Crônicas de um Mundo Morto, cuja história se passa após os acontecimentos deste filme.
O começo do longa já estabelece as regras de como o jogo vai funcionar: quem são e como se comportam os zumbis. Além das cenas iniciais servirem para demarcar ambientação da história e o faz muito bem.
O primeiro arco, uns 40 minutos, tem poucos diálogos e um certo suspense/terror psicológico que nos deixa mais tensos do que se fosse uma manada de ataques zumbis quicando na tela. Mais um ponto a favor aqui. Ou seja, a ação mais frenética e o terror baseado em sustinhos não são o foco neste início.
Neste ponto do roteiro, temos o encontro dos personagens Lucas e Denise, protagonistas do filme. Os personagens são bons, mas o jeito como eles se juntam não ficou muito natural. Achei um artifício fraco e conveniente. Posteriormente o mesmo ocorre com outra personagem, que também fica inverossímil.
Os personagens como um todo são muito interessantes e com tipos bem diferentes. Vou evitar de falar as características dos personagens para evitar spoiler. As atuações variam muito. Alguns atores deixam um pouquinho a desejar às vezes e outros vão bem.
O excesso de palavrões incomodou um pouco. Eles deixaram de ser interjeições bem-vindas para ser tornarem vírgulas repetitivas. Já as cenas de nudez explícita considero que foram no tom certo. Estavam ali porque tinham que estar e não de modo gratuito.
Voltando à dupla, os diálogos entre eles foram muito bons. Tem-se aqui uma referência ao personagem no primeiro filme da franquia e às perguntas inutilmente interessantes (algo como: “quem transaria melhor a chiquinha ou a mônica?”). Há uma citação ao filme “Coração Valente” (por essas e por outras, que, de certa forma, Lucas é um alter ego do próprio Diretor, que já declarou que este é o filme favorito dele, como podem ver no top 10 melhores filmes de todos os tempos).
A fotografia tem alguns momentos sublimes, em especial dois: uma cena em tom avermelhado e outra da Lua (nesse instante apontei para a tela, balancei a cabeça e disse: “isso foi bom, muito bom”). Há também a alternância de momentos sombrios com outros cenários em tons mais leves.
No primeiro filme a trilha sonora estava bem carregada e sentíamos a presença dela constantemente. Aqui o destaque vai para os sons. Ajudando bastante a compor, junto com a fotografia, um belo arcabouço audiovisual.
O ritmo alterna alguns momentos acelerados com alguns arrastados (ambos bem dosados, o que torna o tempo bem administrado e confortável para quem assiste).
O texto final, apesar de um pouco clichê, propõe uma reflexão pertinente e encerra a obra com uma baita porrada e a sensação de que vimos algo diferente aqui. A trama tem uma pequena barriga no meio do filme e algumas lacunas.
Claro que não podia deixar de falar dos zumbis: a maquiagem está convincente e a movimentação das criaturas idem (como disse no começo: eles aqui não são rápidos e nem fortes, opção digna e que funciona). Tem pelo menos um zumbi que aparece de tênis branco e limpo no meio da floresta, pequeno detalhe que não chega a atrapalhar na imersão, porém poderia ser melhor trabalhado.
Capital dos Mortos 2: mundo morto: é firme como obra única, apesar de ser uma sequência (e ter referências ao filme pregresso). O tom mais pesado e maduro que o antecessor é um mérito, mas sem perder o bom humor. A ideia aqui é causar sensações diversas: asco, tensão, suspense e até leveza. Roteiro mais maduro que o primeiro filme, mas ainda pecando em alguns pontos. Bom nível de entretenimento com aspectos técnicos dignos de destaque.
Vemos produções muito maiores e que não fazem o que foi feito aqui. Então se estiver nas cidades a seguir (no RJ e no DF com a presença do diretor, em MG a confirmar) não deixe de conferir uma produção nacional diferente das que vemos no grande circuito.
Seguem as datas e locais de exibição:
Rio de Janeiro
2/4/2016 (sábado) – 17:00
CCBB (Cinema I) – Rua Primeiro de Março, 66 – Centro
(21) 3808 2020
Brasília
30/4/2016 (sábado) – 19:30 (debate após a sessão)
Setor de Clubes Esportivos Sul (SCES), Trecho 2
(61) 3108 7600
Belo Horizonte
2/6/2016 (quinta-feira) – 16:00
CCBB (Teatro II) – Praça da Liberdade, 450
(31) 3431 9400