Crítica: A Ovelha Negra
A Ovelha Negra foi o representante da Islândia (!) na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, ficando de fora da lista final dos indicados da academia.
Ficha Técnica:
Direção e Roteiro: Grímur Hákonarson
Elenco: Sigurður Sigurjónsson, Theodór Júlíusson, Charlotte Bøving, Jon Benonysson
Nacionalidade e lançamento: Islândia, 2015 (11 de fevereiro de 2016 no Brasil)
Sinopse: uma cidade islandesa tem como foco a criação de ovelhas. Um surto de uma doença ameça todo o rebanho da região. A população tem que se reorganizar para lidar com a questão – principalmente os irmãos, e inimigos, Gummi e Kiddi
Eu me interessei pelo filme primeiro por ele ser o representante de um país no Oscar, já que uma parcela pequena dos 81 concorrentes vem para o Brasil eu não queria perder essa chance. E esse país que o filme representa é a Islândia, seria então uma ótima oportunidade de aprender sobre a cultura local e sobre o senso de humor e questionamentos daquele povo, já que o longa é um drama/comédia. Além disso o filme levou o trofeu da mostra “Um Certo Olhar” no festival de Cannes de 2015.
Contudo, a história se mostrou mais universal que eu imaginava (o que é bom), mesmo com os cenários e alguns caracteres regionais. E como obra cinematográfica teve alguns méritos, mas outros tantos probleminhas. Vamos tratar deles aqui.
A Ovelha Negra mostra como uma região que tem como centro motor a criação das ovelhas/carneiros é afetada pela suspeita de uma doença, o Scrapie (ela afeta o sistema nervoso dos ruminantes, sendo altamente contagiosa entre eles, mas que não transmite para humanos). Apesar do tema, o tom do longa, de um modo geral, é leve. Há até uma competição para eleger a melhor ovelha da região diante de tamanha variedade local.
Praticamente todo o foco da trama está em Gummi, um dos principais criadores locais. Vemos o personagem em muitas atividades rotineiras, como cozinhar, tomar banho, ler… Ele mora sozinho, tem um carinho e orgulho da criação dele, além de uma boa relação com os demais membros daquela região – com exceção do irmão e vizinho, com quem não fala há 40 anos.
Os demais personagens não tem camadas grandiosas. Estão ali só para compor o cenário (por exemplo a veterinária, figura importante e necessária na região). Até o irmão de Gummi, o Kiddi, que possui uma certa profundidade, é previsível e deixa um pouco a desejar (apesar das boas cenas cômicas).
Um aspecto técnico a ser destacado é a trilha sonora. Ela traz um ritmo quase monotônico, o que coaduna com a rotina do personagem central e o suspense da trama.
Já o grande mérito mesmo vai para a fotografia. Além de mostrar bem a paisagem gelada daquela região, por vezes como corte entre as cenas, ela cumpre algumas funções a mais. Em um momento, por exemplo, no qual Gummi tem que tomar uma decisão capital para a trama, há a divisão do rosto dele em um lado iluminado e outro encoberto pelas sombras (recurso simples, mas que merece a nota). Há muitos planos abertos, ressaltando a solidão do protagonista (que pode ser a de muitos daquele local).
Tanto a fase de estabelecimento daquele universo, que deve ser um tanto incomum para nós aqui do Brasil, quanto o desenrolar da história, relativamente simples porém curiosa, têm méritos de prender o público e de proporcionar uma boa imersão.
Porém, o arco final é, de longe, o mais fraco do filme. As soluções são óbvias e não causam grandes emoções. Tem um momento que poderia ser um grande ápice, mas se perde em decisões erradas da direção. A cena final, com uma carga dramática altíssima, arranca risos de incredulidade da plateia, mesmo não sendo essa a intenção…
Não sou especialista na produção islandesa, pode ser que A Ovelha Negra seja o melhor filme do ano por lá, mas foi justa a não indicação para estar dentre os principais ao Oscar. Não ficou sequer nem na pré-lista dos 9 indicados. Boa Noite, Mamãe, Que Horas Ela Volta? e, o favorito da categoria, O Filho de Saul, por exemplo, são bem melhores. Mas, com uma ressalva ou outra, é uma boa experiência e que vale o ingresso.