Crítica: Diplomacia

Diplomacia é uma aula de retórica com excelentes diálogos sobre um momento relevante da história francesa.

Ficha Técnica:
Direção: Volker Schlöndorff
Roteiro: Cyril Gely e Volker Schlöndorff
Elenco: Niels Arestrup e André Dussollier
Nacionalidade e lançamento: Alemanha e França, 2014 (07 de janeiro de 2016 no Brasil).

Sinopse: no meio da Segunda Guerra Paris está prestes a ser bombardeada em várias frentes pela Alemanha. Um diplomata sueco e um general Alemão decidem, em uma conversa, o futuro da Cidade Luz.

Filmes de guerra, principalmente sobre a II Guerra Mundial, temos aos montes. O diferencial aqui é que o foco não são os tanques, aviões e grandes exércitos em cena, mas a diplomacia por trás das decisões a serem tomadas.

Quando a Alemanha estava invadindo a França, em meados da década de 1940, o General Choltitz é designado pelo Hitler para coordenar a ofensiva que pretende aniquilar parte da França, principalmente Paris. Diversas minas são instaladas em locais estratégicos e pontos turísticos da cidade. Um pouco antes do general alemão dar a ordem capital o diplomata Raoul Nordling adentra o gabinete dele e tenta dissuadi-lo daquela empreitada. E eis o nosso filme.

Vale o aviso: praticamente 90% do longa se passa no gabinete do General Choltitz e em um curto período de tempo (uma madrugada e parte da manhã subsequente). Então se você for afeito apenas a filmes de efeitos especiais ou uma ação grandiosa, Diplomacia não é para você.

Todavia, o filme é recheado de excelentes diálogos. Basicamente ele se sustenta somente neles, com um ou outro elemento que ajudam a compor o todo. Poderia haver um risco de cair na monotonia, mas isso não ocorre por dois fatores principais: o texto é, por vezes, acidamente cômico. Com tiradas muito sagazes. O outro fator diz respeito ao contexto. Conforme os fatos vão se desenrolando naquele microcosmos da guerra, isso vai afetando a conversa dos dois protagonistas e levando o embate deles para frente.

Há muitas discussões sobre ética, moral, família e vários outros temas. Tudo permeado pelos caracteres de ambos os personagens. Enquanto o General Choltitz mescla uma firmeza de ideias e uma crescente consciência da amplitude dos próprios atos, o diplomata Nordling se mostra ambíguo nas intenções e perspicaz nos argumentos .

Fotograficamente Diplomacia brinca bastante com o uso das sombras (um pouco para reforçar a incerteza dos caminhos que aquela conversa vai tomar). A trilha sonora aqui acompanha bem a narrativa e entra nos momentos exatos, não abusando deste recurso. A edição também merece destaque por saber pontuar bem os acontecimentos e nos tirar daquele ambientes em passagens bem específicas e por começar e terminar o filme em um ritmo acelerado alternando bem a cadência lenta de boa parte da obra.

As atuações dos experientes Niels Arestrup e André Dussollier são firmes e seguram as exigências da proposta do filme (ficar quase que o tempo todo em tela dialogando). Às vezes, é verdade, falta um pouco de emoção genuína e há um certo exagero nos trejeitos. Mas esses probleminhas não chegam a afetar as boas interpretações deles.

Os pontos negativos mesmo ficam por conta de uma certa previsibilidade do arco final e da história em si (já que é baseado em fatos reais e sabemos que Paris está aí firme e forte até hoje). Além do reforço de algumas ideias que já tinham ficado claras, mas são repetidas algumas vezes. As cenas que os dois protagonistas não estão dialogando – as que mostram um pouco do front de batalha – são estranhas e as atuações ali parecem forçadas, tirando-nos um pouco da imersão do filme. Queremos logo voltar para a conversa principal, mesmo sabendo da importância de mostrar o ocorrido em outros ambientes.

O longa é uma adaptação de uma peça homônima. E esse caráter teatral fica evidente. A história contada deve servir melhor no teatro (ou até em um podcast) do que na telona. Nesse sentido, esta ótima narrativa pode não valer tanto o ingresso (em fevereiro de 2016, Diplomacia ainda está em cartaz em algumas poucas salas). Mas se você quer conhecer um pouco mais dos bastidores do conflito desse recorte da história da guerra  e aprecia um debate excelente, arranje um tempinho entre os filmes do Oscar e Deadpool e vá conferir Diplomacia.