Crítica: Sicario – Terra de Ninguém
Sicario – Terra de Ninguém foi indicado em três categorias do Oscar: melhor trilha, edição de som e fotografia.
Ficha técnica:
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Emily Blunt, Benicio Del Toro, Josh Brolin
Nacionalidade e Lançamento: EUA, 2015 (22 de Outubro de 2015, no Brasil)
Sinopse: Sicario (que significa “matador de aluguel”, como o próprio filme explica) conta história de uma agente do FBI que é convocada para, junto com mais dois agentes, tentar desarticular um cartel de drogas no México.
Já aviso de antemão: Sicario – Terra de Ninguém é um filme extremamente violento – talvez, considerando este tipo, o mais que eu já vi – mas não é uma violência gratuita, ela está ali para mostrar uma realidade e o faz de forma crua. Saí do filme com um certo gosto amargo, mas, ainda assim, é uma ótima experiência.
Apesar de ter uma protagonista destacada, a narração perpassa sob a ótica de três personagens centrais e mostra a conta-gotas a personalidade de cada um. Mérito, também, por retratar (com rápidas pinceladas) um outro lado da história, para além daqueles três, onde temos um paralelo importante para a melhor compreensão de toda aquela situação. Mas, apesar de algumas viradas, o roteiro é, no fim das contas, um tanto linear, o que se torna um problema ainda mais em comparação à qualidade do resto do filme. Contudo, bem acima da média de outros filmes de ação, principalmente por esse retrato cru de uma realidade violenta e pelo trabalho ao questionar a moralidade dos dois lados de um jeito bastante instigante.
Fotografia lindíssima na escolha da composição dos elementos em tela, principalmente na utilização das cores. O uso de uma paleta variada e bem dosada nos premia com sensações diversas em todo o longa. As tomadas são altamente “cinematográficas” (parece óbvio já que se trata de um filme, mas em várias cenas esse conceito fica muito bem explorado e justifica a redundância do adjetivo). A trilha e o som estão bem presentes marcando bem o tom da obra, sem antecipar a ação (algo tentador para muitos diretores). Esses três elementos (narrativa, fotografia e trilha) se entrelaçam de uma forma bem realizada.
Quanto às atuações, os dois protagonistas homens, Benicio Del Toro e Josh Brolin, por vezes dão uma interpretação canastrona ou sem emoção aos personagens, em alguns momentos isso se faz de fato necessário, mesmo diminuindo a empatia com o público e parecendo inverossímeis em alguns momentos – talvez culpa do roteiro – são boas interpretações (cogitou-se o Del Toro para o Oscar, aí já acho um pouco exagero). Emily Blunt, que também foi cotada para o Oscar, na categoria de Melhor Atriz, tem momentos oscilantes, alternando uma boa sensação de deslocamento, sendo um olhar até ingenuo em relação a tudo aquilo, com alguns momentos em que nós somos deslocados da imersão do filme. Todavia, no geral, os três estão tendendo para uma avaliação positiva.
Parte considerável do filme se passa no México. E o interessante é que o diretor não teve receio de usar a língua espanhola quando necessário (nos diálogos entre e com os locais). Então não teve aquela sensação estranha de, por exemplo, um monge tibetano que nunca saiu de uma caverna falando a língua do Tio Sam fluentemente (o filme Os 33, que se passa no Chile, deixou muito a desejar neste ponto, por exemplo). Por isso, mais um motivo para ver legendado.
Falando no diretor, Denis Villeneuve realiza um excelente trabalho aqui. Há uma cena, mais para o começo do filme, com um conjunto de carros que isso fica comprovado: tudo funciona ali, todos os elementos que podemos querer ver na telona estão presentes de uma forma estupenda. Outro destaque vai para a primeira cena. Também bem conduzida criando uma tensão e horror no espectador. Todavia, aos poucos alguns elementos vão sendo desgastados ou optando por novos caminhos que destoam do resto do filme. E conforme o longa vai passando a boa sensação desagradável do início dá lugar a um desagradável, agora no sentido negativo mesmo.
Sicario – Terra de Ninguém foi indicado de modo justo para Fotografia, tendo reais chances de levar (faço a ressalva que uma das melhores, talvez a melhor, fotografia do ano ficou de fora, a do filme Macbeth), mas a minha aposta para a categoria é em Mad Max. Nas outras duas, edição de som e trilha, corre bem fora (Os Oito Odiados deve levar esta e Mad Max ou Star Wars aquela).