Crítica: O Bom Dinossauro
O Bom Dinossauro é o mais novo filme da Pixar. E, para o bem ou para o mal, esse selo tem que ser considerado. Já já falo mais sobre isso. Por hora, vamos à sinopse.
Arlo, um dinossauro que se perde da fazenda da família tem que enfrentar os próprios medos para tentar achar o caminho de volta para a casa (sim, aqui dinossauros tem características humanas – falam, trabalham no campo, tem sentimentos, etc). Nesta empreitada ele conta, principalmente, com a ajuda de uma criatura (no caso um garotinho com características animalescas – natural humanos não terem evoluído em uma sociedade de dinossauros fazendeiros). No trajeto eles passam por alguns percalços: inimigos ferozes e tormentas naturais atrapalham, e muito, aquela inusitada dupla. E como também não poderia deixar de ser, fazem novos amigos que os ajudarão na jornada.
O roteiro é extremamente simples, pode-se se dizer que é bobo e previsível. Já o vimos muitas vezes antes. Há algumas referências explícitas a um dos maiores sucessos da história: O Rei Leão. Mas como falei anteriormente, esta é uma obra que tem o selo Pixar. E, normalmente, eles não dão ponto sem nó (vide: Toy Story, Vida de Inseto, Wall-e, Up, Divertidamente e tantos outros que adoramos…).
Contudo, há um subtexto bastante rico em analogias e ensinamentos que valem tanto para crianças de todas as idades, quanto para os adultos.
Só para ilustrar coloco alguns pensamentos que o filme nos traz:
Coragem: “às vezes devemos ir além do medo para enxergar a beleza nas coisas” e “se não tiver medo não se está vivo”;
Legado: “para deixarmos nossa marca no mundo devemos fazer algo maior do que nós mesmos”;
Experiências: “devemos nos orgulhar das nossas cicatrizes”.
Além desses momentos, há passagens que tratam da morte: em uma cena linda de comunicação entre o Arlo e o Menino. Este, aliás, é um daqueles momentos que não importa o quão Chuck Norris você seja: lágrimas caem incontrolavelmente.
Já na outra ponta, de forma bem hilária, é apresentado, de uma forma bem descontraída, o uso de alucinógenos. Fazendo crianças e adultos rirem, por motivos diferentes.
Destaco, ainda, a metáfora clara do homem como criatura selvagem e uma outra do rio como caminho para casa – algo tão caro na literatura e que é resgatado aqui de forma brilhante.
A animação em si não pode ficar de fora da análise. Na maior parte do filme vemos a qualidade de sempre. Porém, em alguns momentos, principalmente quando a natureza é mostrada sozinha, há uma sensação de realidade que é assustadoramente REAL. Quem chegasse por acaso diria que era um filme em live action.
Alguns pontos, infelizmente, merecem destaques negativos: ressalto o mau aproveitamento dos personagens e a trilha. Basicamente temos empatia pelo menino (quase o mesmo sentimento gerado pelo BB-8 em Star Wars) e por Arlo, o protagonista da nossa história e pela amizade aqui desenvolvida. Os outros tem seus momentos e até são engraçadinhos, mas creio que poderiam ter um peso maior. Quanto à trilha, teve uma opção por uma pegada mais instrumental. Esse ponto não é exatamente um problema, mas imagino que poderia ser de outra maneira – é um filme que abriria, tranquilamente, margem para ter uns versos cantados: não há versos chicletes que todos saem do cinema cantarolando (citar Hakuna Matata é apelação?).
Há um ponto que não concerne diretamente ao filme, mas sim à distribuição. Aqui em Brasília, O Bom Dinossauro está sendo exibido em cerca de 40 horários diferentes, por quase todos os cinemas. E não encontrei nenhuma cópia legendada. E a maioria, mais ou menos 30, são em 3D. Tudo bem que é uma obra bem infantil, mas será que não valeria ao menos umas 2 exibições no áudio original? E uma mescla maior entre o 2D e o 3D? Imagino que seja um fenômeno que ocorra nos demais estados. Essa prática não é inédita, pelo contrário está se tornando cada vez mais comum e dificultando quem quer ver o filme de forma mais “natural”.
Não posso esquecer de citar o curta que vem antes do filme, Sanjay. Eis uma obra que já valeria o ingresso. Somos por alguns minutos imersos na cultura indiana de uma forma lúdica e emocionante. Mais um motivo para ir ao cinema ao invés de ver o filme por vias alternativas…
O Bom Dinossauro, apesar de inferior a muitos filmes da Pixar (principalmente se comparado ao favorito ao Oscar de animação deste ano, Divertidamente), é uma ótima pedida para as férias e vale muito levar o filho, sobrinho e até a namorada. É certeza de diversão garantida para toda a família, do jeito Pixar de ser.
Resumo
Obra visualmente linda. Com algumas mensagens que valem reflexão, mas a simplicidade e a falta de originalidade são evidentes. Contudo, é diversão para toda a família.