Crítica: O Clã
Não, ele não tem os enquadramentos de cartão postal de Medianeras (2011) nem tem uma narrativa tão bem planejada quanto O Segredo dos Seus Olhos (2009). Mas o longa é digno de ser visto pois é baseado em fatos verídicos: conta a história de uma das gangues mais famosas da Argentina, que é conhecida por sequestrar e matar várias pessoas. E o mais louco é que essa gangue na verdade era uma família, os Puccio.
Literalmente “O Clã” (El Clan – 2015) é composto pelo pai da família, Arquímedes (Guillermo Francella – quem assistiu O Segredo dos Seus Olhos sabe quem é), seus dois filhos, Daniel e Alejandro (Peter Lanzani), o militar aposentado Rodolfo Franco e mais dois amigos, Roberto Oscar Díaz e Guillermo Fernández Laborde. E não, não tem o Ricardo Darín.
A loucura já começa no próprio trailer do filme: o pai vai todo solícito com um prato de comida na mão avisando seus familiares de que o jantar está pronto. E aí, do nada, ele abre a porta do banheiro e tem uma pessoa sequestrada. Por ele mesmo. E eu fiquei: Sério?
A parte técnica não surpreende muito. Os recursos visuais poderiam ser melhor explorados durante todo o filme, algo que acontece apenas em pequenos pontos. A luz é um fator que contribui para mostrar a “escuridão” da qual o país está passando. Uma das cenas em que o diretor brinca com as sensações de cada um intercalando enquadramentos e sons é um destes exemplos. Mas foi exatamente esse segundo item que me fisgou. A trilha sonora está totalmente a cara da Argentina na década de 80. Minha família é argentina, então falo com propriedade nesta questão. (risos) Assim como todas as inserções de sons externos que conseguem trazer o drama ainda mais próximo de algo real do que simplesmente um filme de ação/suspense/policial/loucura?
O roteiro está bem legal. As falas e as típicas conversas de argentinos, a imersão com o contexto político da época (sim, isso achei genial). A estranha dicotomia em que a família parece ser afetuosa, mas na verdade possui um ar com total frieza ao tratar assuntos cotidianos. Ah, e claro, tem a famosa troca de “favores”. Faça isso, ganhe isso. É realmente uma história de ambição, mais que nada.
Senti falta da quase-brutalidade do diretor Pablo Trapero. Em dois dos filmes que vi (Elefante Branco -2012 e Abutres – 2010) ele consegue expor os fatos com tanta realidade que dói ver, literalmente. Mas neste longa faltou alguma coisa. Até na parte em que se fala de rugby, esporte preferido na Argentina, faltou emoção.
O final nem precisa ser comentado (não é um filme de grandes spoilers). Mesmo assim, venci a curiosidade jornalística de procurar o fim da história e assisti na íntegra.
Ainda assim senti falta do Darín.