O desafio como combustível
Qual era o seu sonho aos 14 anos? Talvez alguns de nós sonhava em se tornar um artista famoso, jogador de futebol, um grande cientista e até viajar o mundo. Ou ainda podemos incluir aspirações mais modestas como passar de ano sem recuperação, beijar aquela(e) garota(o) da escola, ser convidado para festas de 15 anos, etc.
Talvez, e somente talvez, a maioria de nós não sonhava em dar a volta ao mundo em um veleiro, pelo menos não com esta idade. Acredite ou não, mas foi exatamente isto que Laura Dekker fez. Calma, vamos começar do início.
Laura tinha um sonho: ser a pessoa mais jovem a dar uma volta ao mundo com um veleiro. Em algum momento de sua vida ela pensou “será que eu consigo?” e resolveu tentar. Boa parte dos grandes feitos da humanidade partiram desta pergunta, claro que não assim deste ponto de vista tão pessoal, mas algo mais parecido com um: “será que é possível?”. O homem é o único animal capaz de planejar mentalmente alguma ação antes mesmo dela acontecer. E também é o único que aspira algo a mais.
Em um primeiro momento, quando eu estava assistindo a este belíssimo documentário, denominado “Maidentrip”, eu me perguntei: “Mas como assim? E a escola? E o governo? Amigos? Conforto?”… ah, que ingenuidade a minha! Quem disse que Laura teria os mesmos valores que eu? Claro, eu estava sendo empático me imaginando naquela situação. Porém o fato é que eu não poderia estar naquela situação, não tive bagagem, motivadores e história de vida para isso. Admito que fui juvenil ao pensar que estes pequenos obstáculos poderiam segurar esta jovem velejadora. O governo bem que tentou, entraram com um processo junto ao Conselho Tutelar para impedir que a viagem fosse realizada. Toda essa burocracia não poderia impedi-la, o sonho era maior.
Quando estava no 4° dia de viagem, Laura se deu conta de que realmente estava viajando. Sua casa já havia ficado para trás, ao seu redor estava apenas o oceano. Levaram quatro longos dias para que a “ficha caísse”, para que o “modo automático” virasse “modo manual”. E esta não é uma tarefa fácil, exige treino e energia.
A vida desta holandesa foi sendo construída para este grande feito, os pais já haviam velejado durante muitos anos. Quando ainda era criança, Laura já estava mais acostumada com o balançar das ondas e o som das águas do que com a terra firme. Anos depois, com um pouco mais de 10 anos, ganhou o seu primeiro barco. Aos 13, já havia velejado até a Inglaterra sozinha! Tente se lembrar rapidamente do que você estava fazendo com essa idade.
Esta é, sem dúvida, uma história inspiradora. Perguntas como “qual é o seu sonho?”, “o que ainda te impede de realizá-lo?” e “qual é o seu limite?“, nos instigam. Não tenha dúvida que o treino aliado às circunstâncias e ao desejo são capazes de realizar coisas ainda inimagináveis. Com frequência, ficamos presos às nossas crenças limitantes: “isso não é possível”, “sem chance”, “eu nunca vou conseguir” – buscamos justificativas para não fazer as coisas.
Pouco a pouco, ao longo desta bela história que Laura conta em primeira pessoa, começamos a perceber que antigas verdades começam a se tornar relativas. A Holanda, por exemplo, não é mais a mesma, talvez tenha se tornado pequena para a grandeza desta adolescente. O que me faz lembrar de uma frase de Heráclito – filósofo pré-socrático – que gosto muito: “o homem não pode banhar-se no mesmo rio duas vezes, pois nem o homem nem o rio são os mesmos […] Nada é permanente, exceto a mudança”.
Fica claro no documentário que Laura é movida por desafios e que sua paixão pela navegação é imensurável. Aproveito a reflexão para deixar esta pergunta a você: “Qual é a sua paixão?”. Quando encontrarmos a resposta a esta pergunta, tenha certeza que meio caminho já foi percorrido.
Confira o trailer: