Crítica: Trainspotting – Sem Limites
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Crítica: Trainspotting – Sem Limites

“Eu escolhi não escolher a vida, eu escolhi outra coisa. Os motivos? Não há motivos. Quem precisa de motivos quando se usa heroína?”

Baseado em um livro homônimo de Irvine Welsh, “Trainspotting – Sem Limites” (Trainspotting, 1996) mostra o subúrbio de Edimburgo visto por jovens viciados em heroína. O filme todo é narrado sob a perspectiva de Renton (Ewan McGregor), um dos jovens que utilizam a heroína freqüentemente. Apesar do tema pesado e complexo, o filme não chega a ser dramático em momento algum. Até mesmo em cenas envolvendo a morte de alguns personagens, o diretor Danny Boyle (Extermínio, 2002; Quem quer ser um Milionário, 2008) deixou a tragédia de lado. Comparando com “Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída” (Wir Kinder vom Bahnhof Zoo, 1981), Trainspotting é quase uma comédia. Os modos de exposição ao mundo das drogas em ambos os filmes, e principalmente da heroína, são completamente diferentes. E os dois são muito bons! Aqui, Boyle inseriu momentos psicodélicos durante todo o filme, representando o bem-estar causado pela heroína. Em minha opinião, a cena mais psicodélica e maluca do filme é a cena da privada. Eu levei um susto no começo, pois não havia percebido a dinâmica do filme ainda, e tentei imaginar o que estava acontecendo. Para quem viu, achei bastante hilária e essencial para entender como o filme vai se desenvolver até o final.

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Além de Renton, seus amigos usuários também são apresentados no filme, e cada um possui uma característica peculiar, mas todos com o espírito de aproveitar a vida experimentando todas as coisas. Renton divide sua opinião ao longo da história. Muitas vezes ele não quer largar a droga e a trata como uma velha amiga; já em outras vezes Renton a vê como uma inimiga que acabou com sua vida. A trama entre abandonar o vício e voltar com uma recaída é exibido repetidamente, espelhando a luta pela qual muitos dos dependentes químicos de heroína passam todos os dias. A abstinência também é salientada como uma inimiga. Será que é melhor passar por ela de uma vez trancado em um quarto ou se internar em uma clínica com medicamentos para a amenização dos sintomas de abstinência? Em várias cenas é evidenciado o início dos sintomas da abstinência e a ânsia para conseguir a droga nesse período, evitando o sofrimento. E quando ela finalmente chega, a angústia do personagem, a tremedeira e as dores são bastante evidenciadas durante essas cenas. Mas, como já disse antes, sem o elemento dramático! A parte mais tocante para mim foi a cena do bebê (não darei spoilers), e ainda assim o diretor deixou de lado o sentimentalismo. Muito bem feito.

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A atuação de McGregor está bem original. O seu personagem sob o efeito da heroína é bem convincente. Ao mesmo tempo em que o personagem mantém seus conflitos internos, o filme também exibe os conflitos externos ao seu redor, como a sua relação com os pais e com uma garota que ele conheceu em uma festa. Além disso, as narrações do personagem são extraordinárias e essenciais ao filme.

A trilha sonora não deixa a desejar. Ela cabe perfeitamente ao estilo da trama, se encaixando no perfil dos jovens usuários e no jeito em que levam a vida. Em relação à prêmios, o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 1997, e ganhou o BAFTA de Melhor Roteiro Adaptado.

Mas afinal, por que só 4 estrelas? Não nego que “Trainspotting – Sem Limites” é sensacional, Danny Boyle fez um excelente trabalho em retratar a vida de jovens usuários de heroína de maneira dinâmica. O estilo psicodélico também me agradou muito e concedeu uma característica intrínseca ao filme. Porém, a história em si não me chamou tanta atenção. Fiquei entediada em alguns momentos e não gostei do final de Renton. Mas a narração final é sensacional!

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O filme não deixa a famosa mensagem manjada “não use drogas nunca, em momento algum, elas matam e acabam com você”. Ele simplesmente retrata o cotidiano e os motivos (ou os não-motivos) que levam os jovens a usar drogas, especificamente a heroína, exibindo seus efeitos positivos em relação ao bem-estar e as consequências que ela traz. A droga não é exibida como o vilão impossível de ser vencido. Ele deixa os espectadores refletirem sobre o assunto e criarem suas próprias opiniões. Esse fator foi o melhor para mim, e o mais relevante do filme inteiro.

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