The Atticus Institute, 2015
Quando eu tinha uns 12 anos, assisti o filme “O Exorcista” e fiquei tão impressionado com aquilo que resolvi pesquisar tudo o que podia sobre o tema, livros de ocultismo, matérias e afins, possessão sempre foi algo que me atraia até que percebi que estava maluco demais e, como todo bom curioso, percebi que quem procura acha. Não que acredite nessas coisas, mas certamente há influências, mesmo duvidando da veracidade do assunto, existe um poder incrível nisso, mesmo que somente psicológico.
Esse assunto é, também, alvo de cobiça do cinema, é inacreditável a quantidade de filmes que abordam a possessão e, ao meu ver, isso apenas colabora para a piada em cima do tema. Não consigo entender o porquê de tantos filmes que, as vezes lá para o final, sempre tem um ser humano com o Diabo no corpo. Fala sério, cansa esse negócio. O mérito do O Exorcista é ser um bom filme, antes de mais nada, inclusive eu o considero um dos maiores da história, brilhantemente ele não fica preso nessa figura do diabo, faz disso um elemento para compor a história, tanto que os procedimentos científicos feitos na garota são inteiramente mais primitivos que o próprio ritual de exorcismo, feito bem no final. Isso que aconteceu com os filmes de terror, eles tentam ser cópias, não ousam, salve raras exceções como, por exemplo, o filme que comentarei a seguir.
The Atticus Institute não é maravilhoso, já digo logo, mas é ousado. Eu tenho um amor pelo terror, sou fácil para o gênero, assim como sou fácil para faroeste. Dificilmente eu vou odiar algum filme, pois simplesmente assisti-lo é a minha diversão. Honestamente, não me agrada filmes de super heróis, então minha empolgação – deixando o cérebro de escanteio – é com esses caras que tentam provocar o medo. Aliás, isso é quase nulo hoje em dia, provocar o medo é quase um sentimento nostálgico, o qual eu tento sentir toda vez que assisto algo mas, infelizmente, acontece muito pouco. Então alguns elementos como o artifício narrativo, prende muito mais minha atenção do que a própria expectativa, pois a idéia pode ser canalizadora de um turbilhão de sentimentos. James Wan, por exemplo, é um cara que está revolucionando o gênero, provocando o medo com o próprio clichê, usando-o à benefício próprio, é uma incrível promessa.
Os falsos documentários, assim como a famosa câmera na mão, difundida com o “A Bruxa de Blair” mas determinante para mim no “Holocausto Canibal”, foram por muito tempo minha expectativa da reinvenção do cinema de terror, mas não demorou muito para cair na mesmice e, sendo assim, passar de revolução para o famoso “blá-blá-blá”. Mas! Ano passado com “The Taking of Deborah Logan” e esse ano com “The Atticus Institute” eu fiquei entusiasmado, duas histórias bem diferentes, inclusive tecnicamente, mas, principalmente, o artifício usado é interessante, ou seja, ainda é possível extrair boas histórias nesse formato.
“The Atticus Institute” conta a história do Dr. Henry West, interpretado pelo William Mapother, primo do Tom Cruise, ficou famoso como o Ethan em Lost, ele fundou um instituto chamado Atticus em meados de 1970. Esse instituto tem como objetivo estudar pessoas e manifestos de paranormalidades como clarividência, psicocinese etc. O que acontece é que alguns casos são analisados e levado a sério, outros não passam de fraude. Até que eles conhecem uma mulher chamada Judith Winstead, ela é meio estranha, desde seu comportamento ao olhar, sua família ou sua irmã, não sabiam o que fazer com ela e, literalmente, a abandonam no instituto. O fascínio pelos seus “poderes” dão lugar ao medo quando eles percebem que o que está diante deles não pode ser, de fato, estudado pela ciência, pois a moça está, de fato, possuída por um demônio.
Para começo de conversa até chegar a esse fato acontece uma série de eventos, todos narrados como se fosse um documentário da Discovery, as imagens “antigas” se garantem, bem como o filme é eficiente quanto a estranheza em seu início, honestamente eu senti um pequeno medinho, principalmente com algumas fotos que são mostradas durante. Coisas comuns como mexer uma cadeira, adivinhar as cartas entre outros, dão lugar a uma aparência e comportamento cada vez mais sugestivos, porém, mesmo assim, jamais se aproxima daquela figura que temos em “O Exorcista”, o demônio neste assume, também, uma outra função, que não o protagonista como em filmes como “O Ritual”, por exemplo.
Esse é justamente o ponto forte do filme, como o próprio trailer indica, esse foi o único caso de possessão confirmada pelo governo, evidentemente não passa de ficção, mas isso diz respeito a idéia que o filme usara como norte, não há muito bem um padre exorcista, há homens da ciência e política estudando/manipulando o caso e, como bem pensado, se há tantas pessoas de poder envolvidas em um caso desse o que pode acontecer? Sim, claro, tentar usar o demônio ao seu favor. Eles se interessam pelo “poder” dele e querem possuir a possessão, ou seja, o conceito central do filme não é retirar o demônio e sim controlá-lo. Em suma, poderia dizer que isso é o que faz o filme ser interessante e, ao mesmo tempo, tolo, onde já se viu existir um demônio que se sujeitasse a esse tipo de infantilidade? Há até algum tipo de reflexão em cima disso, como dizeres que o conhecimento humano chega até um certo nível e, depois, entra o campo do desconhecido, mas parece inteiramente óbvio desde o princípio que ia dar merda, mas talvez eles simplesmente não tenham assistido tantos filmes de terror como eu. Bem, mesmo com as ressalvas, “The Atticus Institute” é um filme interessante e forte candidato a um dos melhores filmes de terror do ano, até porque não deverá ter muitos bons. Belo representante dos falsos documentários e, como é recorrente, se sustenta na interpretação daquela que está com o diabo no corpo, afinal, não deve ser nada fácil interpretar alguém nesse estado.
A direção fica por conta do Chris Sparling, novinho, tem 38 anos, mais conhecido pelo seu trabalho como roteirista em “Enterrado Vivo”, aquele que o Ryan Reynolds passa o filme inteiro no caixão, enfim, é bom anotar esse nome, tudo indica que virá com outras ideias tão relevantes quanto.