Crítica: Mesmo Se Nada Der Certo
O Diretor irlândes John Carney responsável pelo filme “Apenas uma Vez” (filme tipo drama/musical, muito elogiado em 2006), lançou em Setembro de 2014 um filme que tem a mesma linha performática de seu antecessor. Trata-se de “Mesmo Se Nada Der Certo”, filme com Keira Knightley, Mark Ruffalo, James Corden, Hailee Steinfeld e Adam Levine (sim o cantor do Maroon 5).
O filme conta a história de Gretta (Keira Knightley), uma mulher romântica que vive com seu namorado Dave (Adam Levine) o sonho de sair do anonimato e construir uma carreira de sucesso no mundo pop. Dave, um cantor promissor e Gretta, uma compositora genial, parecem o par perfeito, mas tudo desmorona quando Dave precisa partir em turnê e acaba deixando o sucesso subir a cabeça. Separados, Gretta precisa encontrar um motivo para seguir em frente, e o caminho parece ser ao lado de um desconhecido excêntrico chamado Dan (Mark Ruffalo), um produtor musical que esta com a carreira afundada e também quer se reerguer.
“Mesmo Se Nada Der Certo” é um filme com uma essência muito bonita e simples, a amizade. O filme tem uma direção muito segura por parte de Carney e isso transborda a tela quando sentimos todas as angústias e melancolias por parte dos personagens. Tudo parece estar no lugar certo, com o tempo certo e com a música certa, alias, eis aí o grande ponto forte do filme, as trilhas.
Assim como em “Apenas uma Vez” quando vemos John Carney utilizar a música para transportar sentimentos intrínsecos dos personagens, em “Mesmo Se Nada Der Certo” temos de novo essa dose musical que combina muito bem com o ritmo do filme. Uma das cenas mais marcantes sem dúvida é o momento em que Dan (Mark Ruffalo) encontra com Gretta (Keira Knightley) no bar. Ela cantando de forma tímida e triste, ele, mesmo bebado, tem um um lapso de genialidade e consegue complementar a música com ritmos e sons que vem de sua cabeça. Veja a cena:
Música esta que cria um laço entre Dan e Gretta. A música passa muito do que ambos estão vivendo: uma decepção, uma tristeza, mas a vontade de se reconstruir, e dar a volta por cima. Além disso, o brilhantismo da cena esta justamente em uma fotografia mais escura, porém com a luminosidade voltada para Gretta que canta com pesar mas os instrumentos a acompanham como se o talento dela fosse maior do que tudo aquilo que ela esta vivendo. Cena fantástica!
Aqui também vale um elogio particular para os atores. Keira Knightley já é uma atriz consagrada, e uma das suas características principais é a atuação madura. Quando digo “madura” digo, simples, direta e muito focada. Para se ter uma ideia, as músicas que Gretta canta ao longo do filme são todas interpretações da própria Keira, ou seja, nada de dubladores ou efeitos. O grande ponto que faz a interpretação de Keira ser boa, é que a sua personagem sobre uma decepção amorosa e com isso acaba tendo que rever alguns conceitos e enfrentar frustrações, o que ajuda a atriz a explorar de maneira mais profunda os sentimentos da personagem. Todos estes sentimentos transparecem para o público, e aí esta o mérito da atriz.
Por outro lado, temos Mark Ruffalo, que não vinha de grandes atuações, e sempre teve esse rótulo de uma eterna promessa, mas que não vingava. Porém, Dan é um personagem que exige mais de Mark, principalmente por seus problemas com bebida, uma tristeza profunda que acaba sendo revelada ao decorrer do filme, e uma certa arrogância. Dan, é um personagem de uma certa forma complexo, e Ruffalo o domina bem. Principalmente com os problemas existenciais que Dan passa, assim como o desprazer em viver. Uma atuação que certamente ajuda Mark Ruffalo a se reafirmar ao público e a produtores como um ator que aguenta personagens mais tridimensionais.
Adam Levine é a cereja do bolo no filme. Trouxe seu nome, seu status e seu sexy-appeal para enfeitar o filme e certamente levar mais pessoas ao cinema, o que deu certo. Porém sua atuação é fraca. Ele não compromete mas também não ajuda. O personagem de Dam, Dave, é um cantor promissor que busca o reconhecimento do público. Porém sua mudança de postura é tão rápida que ele acaba deixando uma certa dúvida do que esperar do personagem. Talvez uma falha de roteiro, mas também com uma certa ajuda de falta de dramaticidade de Levine. Em algum momento você fala: “Sério que ele fez isso? Isso não combina com esse cara!”. Porém, vale a música tema que foi composta por Adam e que concorreu a Melhor Canção no Oscar 2015. Desta forma, temos algo muito legal para tirar da participação da estrela do Maroon5:
“Mesmo Se Nada Der Certo” é um filme sensível, fala de amizade, reencontros, encontros, e reconstruções. Existe uma certa “tensão amorosa” entre Dan e Gretta, mas isso acaba ficando em segundo plano quando entendemos que a essência do filme é o recomeçar. Desta forma, o final do filme acaba não gerando nenhum tipo de decepção, mas sim, um entendimento do todo, o que ajuda a concluir de forma segura.
John Carney se afirma neste tipo de direção, onde juntamos música e a trama cinematográfica, mas fica aqui a minha sugestão para que Carney comece a explorar outros temas até para trazer novas experiências para este gênero que ele já esta familiarizado. As vezes, estas experiências em outros gêneros, formas, ritmos, ajuda o diretor a crescer, e certamente Carney esta em um ótimo caminho, diria até que é o próximo Cameron Crowe.