Crítica: Corações de Ferro
É interessante como o título deste filme funciona tanto na adaptação para o Brasil quanto no original. Enquanto “Fury”, em inglês, indica o sentimento que os soldados mais valorizam na guerra, “Corações de Ferro” sugere o endurecimento dos sentimentos quando é necessário ter sangue frio para matar e sobreviver a tantas atrocidades.
Dirigido por David Ayer, “Corações de Ferro” se passa nos momentos finais da Segunda Guerra Mundial. O longa é centrado nos soldados que dividem um tanque de guerra e são levados a missões nas quais atuam de forma bastante solitária, sem o apoio de grandes grupos. Além do comandante Wardaddy, vivido por Brad Pitt, a equipe conta com Bible (Shia LaBeouf), Gordo (Michael Peña), Coon-Ass (Jon Bernthal) e o novato Norman (Logan Lerman). Apesar de utilizar Brad Pitt para atrair o público, o protagonista do filme é Norman, mesmo que sua relação com Wardaddy seja o cerne da trama.
David Ayer é um ótimo diretor de cenas de ação, e sempre foi muito bom com personagens interessantes e nada unidimensionais. Desta vez, não está diferente. “Corações de Ferro” fala sobre a necessidade de ser violento em tempos de guerra, e como isso reflete na vida dos que precisam conviver com este tipo de violência. “Ideais são pacifistas. A História é violenta”, diz o personagem de Brad Pitt. Desta forma, Ayer consegue fazer um filme pouco pretensioso e devidamente efetivo no que se propõe. Afinal, trata-se de um longa que apenas retrata este debate, sem desejar abarcar um grande período da Segunda Guerra Mundial ou servir como alguma análise profunda das guerras no ser humano.
Ao colocar um personagem novato em meio a soldados experientes – especialmente o que comanda a tropa – o roteiro (escrito pelo próprio Ayer) coloca em conflito as sutilezas emocionais de um jovem e a dureza da batalha. E é com uma incômoda satisfação que vemos a transformação de Norman em uma máquina de matar nazistas. Afinal, como espectadores, nós desejamos que ele possa ser um bom soldado, mas lamentamos que seja necessário ele perder seu sentimentalismo jovial.
Por falar em atuações, Logan Lerman prova mais uma vez que é um grande jovem ator, enquanto Brad Pitt apenas reforça que é um dos melhores de sua geração. Apesar das boas presenças de Peña e Bernthal, é triste ver LaBeouf exagerando nos olhos marejados para tentar dar mais profundidade a seu personagem, em uma atuação que destoa de seus colegas.
No fim das contas, “Corações de Ferro” é um excelente filme de guerra.
4/5