Eu Cinéfilo #18: Paixão Juvenil (1956)
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Eu Cinéfilo #18: Paixão Juvenil (1956)

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As mudanças políticas, assim como as guerras, causaram um impacto muito grande na arte como um todo e, depois, ainda temos essa arte transformada impactando na vida dos jovens. Anos 50 e 60 são a base do rock, por exemplo, não só pensando em gênero musical como também em todas as influências que o rock trouxe no estilo de vida das pessoas, principalmente adolescentes, eu vejo o rock e, eventualmente, respondo aos curiosos, que rock é atitude. Claro, muitas vezes confundida com imaturidade, ou ódio, enfim, o problema é que a minha atitude pode ser diferente da sua atitude, então eu aprendi a usar o rock em prol ao meu crescimento pessoal, não mais a me destruir. Estou escrevendo isso, pois acho de suma importância a Nouvelle Vague como uma das maiores atitudes que tivemos, em meios cinematográficos, eu comparo muito essa necessidade de ser cru, com a entrega dos jovens nessas décadas, uma mistura de rebeldia com coragem de enfrentar um sistema corrompido. Uma alma sexo, drogas e rock ‘n roll e uma proposta de subversão que beira o adorável. O que hoje é clássico para nós, digo, realizações da Nouvelle Vague, na época eram grandes pedaços de mal caminho.

Hoje estarei comentando um filme da nouvelle vague japonesa, ou Nuberu Bagu, que, como descrevi acima, também era sustentada para coragem de enfrentar a exposição. Muitas vezes usando os jovens como exemplos de uma tentativa de escapar de uma vida direcionada a mesmice ou ao autoritarismo. A importância no Nuberu Bagu era momentos, pequenas crises, que seriam desenvolvidas ao longo, porém não cabiam a eles dar uma resposta, como disse, é o registro de uma intensidade, própria dessa geração que buscava transformações, isso começa mais ou menos na década de 50 e tem um grande ápice, ao meu ver, na década de 60, com a grande fase do Nagisa Ōshima realizando obras como “Juventude Desenfreada” e “Noite e Neblina no Japão”, ambos de 1960.

Sabemos que o Japão é um país super conservador, agora, meu amigo, pense nessa época, pós-guerra, o medo e cautela espalhado em todos os cantos, enfim, o negócio não deveria ser muito agradável aos jovens que, como todos, tinham seus próprios problemas para resolver, os mesmos já nasciam em berços da autoridade. Se pegarmos um mestre como o Nagisa Oshima, ele nasceu em 1932, então o cara viu todas as transformações possíveis do seus país e, em seguida, realizaria trabalhos extremamente provocantes, bem é realmente um diretor a se conhecer.

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“Paixão Juvenil” ou “Kurutta Kajitsu” é de 1956, dirigido por um outro mestre chamado, o filme conta a história de dois irmãos que, após conhecer uma garota em uma estação, ambos se apaixonam pela mesma e vão competir um com ou outro por momentos com a menina. Descobrimos ao longo que ela é casada e não está interessada em envolvimentos sérios, constrói-se então um triângulo amoroso onde, de fato, a personagem feminina se revela a grande “vilã”. Isso entre aspas, pois não temos uma estrutura narrativa que seleciona quem é o vilão ou quem é o herói, todos são bem desinteressados e/ou bobos e arrogantes. O papel da mulher nesse filme é uma revolução, eu diria, pois se mostra oposta a figura feminina que o Japão criava em seus filmes, aquelas mulheres indefesas e frágeis. Aqui temos uma mulher que possui em seus ombros uma liberdade fora do comum, chegando ao ponto de usar os homens, devorá-los, utilizando como isca a sua carinha de boazinha/frágil e a sua beleza. Aliás, a pele é deveras explorado aqui, digo, o corpo, o toque, há cenas incrivelmente eróticas para época. Permeia o tempo todo um grau interessante de erotismo e um clima noir. É uma dose completa de ótimo cinema. Assisti com minha irmã de 10 anos – talvez uma exploração infantil? – e até ela curtiu bastante.

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Há em em todos os cantos dessa belíssima obra, uma efervescência do jovem, se desprendendo de uma vida pacata em busca do seu próprio prazer, é recorrente nesse cinema de auto-nível os conflitos, pois, em meio a essas mudanças drásticas de comportamento, o amor, a paixão, servem como elementos secundários. O bom da vida e da arte é experimentar registros atemporais que, para serem realizados, dependeram de um tempo certo, cabendo a nós, espectadores, uma contextualização para que, assim, possamos desfrutar tanto a excelente ideia como, também, da audácia dessas obras.

Texto escrito por:

Emerson Teixeira

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