"Insolação" - 2009 - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Artigo

“Insolação” – 2009

A vida não é a mesma coisa que viver. A vida nos é dada, a recebemos e assim vivemos morrendo. Desde o início do ser vir a tornar-se algo é o vazio que prevalece e que preenche o espaço silencioso que um dia tornará e virá a ser nós. A solidão é algo inerente ao ser humano porém é algo melancólico, para além das belezas de mesmo contexto como a solitude, isto é, o sereno estar só. O tempo é o tempo recorrente e em andamento quando estamos em pleno estado de solitude, ele nos acompanha, é nosso companheiro, contudo estar só não significa estar sozinho, sem amigos, sem alguém para trocar conversa, e sim, estar consigo mesmo. Ao nosso redor está tudo vivo, tudo que nos rodeia e que nos dá estímulos para continuarmos a viver; sempre há a procura por algo, por alguém, por algum sentimento, e isto se dá de forma gradual através da aridez e do calor da capital federal.

O amor vivido ou presenciado por um menino pela primeira vez é tocante. Sempre quando nos apaixonamos nos sentimos bem, dispostos, alegres; o mundo ao nosso redor parece estar rodando só em torno de nós mesmos, de nossos desejos, das nossas preocupações com o outro, é como estar só com uma parte de si, completando desta forma a parte que faltava como num quebra-cabeça. Tanto o amor e a paixão quanto o sexo estão conectados em nossas vidas. Estar à procura de um sentir diferente ao deitar-se com alguém não é algo de se espantar, já que o comum sexo por fazer nos é presente como banal em nossas vidas, todavia, o sexo com e como o amor, com uma troca diferente, de cheiros, sabores, de tato, não. A narrativa deste conto tem por base a voz de um velho escritor o qual através do silêncio de um palco vazio discorre sobre a tristeza, o amor, sobre a vida e a morte. As ruas são desertas, os assuntos esparsos tanto quanto monótonos em meio a um tempo que não passa, eles se tornam o limiar da loucura, do quanto o ser humano pode estar só mesmo estando com outros ao seu redor.

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Como num quarto vazio e branco, a penumbra deixada pela tristeza e pela melancolia dos olhares vazios e temerosos pela vida, deixam o ar sereno e opaco do ambiente tornar-se só. Os mesmos que o respiram não se conhecem, não se vêem, não se tocam verdadeiramente, e em contrapartida são esqueletos móveis que por estarem vivos, deixam a morte carregá-los ao tempo que o tempo passe diante de seus olhos. O olhar desgostoso de pais que não se amam mais deixando à tona toda a falta de propósitos e de belezas que um amor tem para oferecer, faz com que um amor juvenil que por possuir tanta pureza e delicadezas ao crer que seja bom e belo se apaixonar caia por terra, e o abismo que existe entre o desejo por algo verdadeiro e o deixar de desejar torne-se real, vivo como a morte.

“(…) É muito possível que o segredo de todo o seu feitiço consista não na possibilidade de tudo fazer mas na certeza de poder pensar que tudo pode-se fazer”.

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