Crítica: Capote
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Crítica: Capote

por Bárbara Pontelli

 

Capote

Lançamento: 2005

Direção: Bennett Miller

Roteiro*: Dan Futterman

* Inspirado no livro Capote, uma biografia de Gerald Clarke

O filme Capote vai explorar a fase da vida do escritor Truman Capote no período que compreendeu a elaboração de sua obra A Sangue Frio, ou seja, entre os anos de 1959 a 1966.

Inspirado em um livro biográfico, o longa vai percorrer desde o início em que Capote decide escrever sobre o assassinato da família Clutter até o desfecho da sentença dos culpados pela chacina.

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Quanto ao enredo, temos o escritor Truman Capote representado pelo – sempre incrível… R.I.P. 🙁 – Philip Seymour Hoffman. O protagonista é um excêntrico, inteligentíssimo e renomado escritor que está no auge de sua carreira. Após obter sucesso escrevendo romances, Capote resolve mergulhar de cabeça no caso do assassinato dos Clutter e, prontamente, segue rumo ao interior de Kansas – palco do crime – com a meta de investigar e escrever um livro sobre o evento. Entretanto, quanto mais aprofunda-se no caso, mais envolvido Capote fica. Curiosamente, tal envolvimento, deve-se menos pela barbaridade do crime em si: o escritor acaba desenvolvendo laços com um dos autores do crime – Perry Smith ( Clifton Collins Jr.). Talvez por ter se identificado com o assassino no tocante à infância triste… ou – de repente – porquê não considerar que Capote apaixonou-se por Perry? Certamente tal aproximação por parte do escritor, de início, deve-se ao puro interesse em obter informações valiosas para seu livro. No entanto fica evidente que alguma coisa a mais acontece ali e, para piorar, Capote só vai conseguir escrever o final do seu livro quando – fatalmente – for levado a cabo o final de Perry, ou seja, quando ele for executado.

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Antes de assistir ao filme, confesso que esperava que o enredo fosse explorar algo mais no sentido do lado investigativo do crime em si – a partir da orientação e visão de Capote. Sou fã de filmes com essa temática então demorei um pouco para pegar o gosto, na medida em que, Capote é praticamente um filme biográfico baseado na vida real do escritor Truman Capote (embora se concentre apenas no período correspondente à elaboração do livro).

O espectador é convidado a conhecer mais sobre esse instigante escritor e acaba mergulhando junto com ele em todas as consequências devastadoras que a elaboração do livro A sangue frio trouxera. Nota-se que o personagem tem toda sua estrutura emocional e sua vida particular abaladas: passa a abusar cada vez mais do consumo de álcool, afasta-se do companheiro…afinal se ver tendo afinidade emocional com um brutal assassino e ainda escrever sobre ele e seu crime, não deve ser tarefa fácil…

A atuação de Philip Seymour Hoffman é brilhante! É evidente o quanto ele está a vontade e mergulhou no papel para viver o escritor Truman Capote. Hoffman emagreceu mais de dez quilos para viver o personagem, bem como, treinou a postura para ficar o mais próximo possível de Capote. Tal esforço fica bastante evidente conforme pode-se notar, até mesmo, na semelhança física entre o ator encarnando Capote e o Capote real:

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     O ator Hoffman no papel de Capote

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Capote (1924 – 1984)

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 Capote (1924 – 1984)

Clifton Collins Jr que interpreta Perry Smith (um dos assassinos e aquele pelo qual Capote cria laços) também compartilha de uma atuação impecável. Clifton Collins assume o compromisso de passar para o espectador a paradoxal coexistência de um jovem rapaz que carrega um bárbaro impulso assassino e, ao mesmo tempo, convence quanto à profundidade psicológica que o “fizera ser o que é”. Perry é mestiço, filho de uma índia, teve um difícil infância…desde jovem teria vivido as consequências dos marginalizados pela sociedade…tarefa nada simples para um ator convencer que um assassino a sangue frio no “corredor da morte” é vítima da própria sociedade. E isso, tanto Collins quanto Hoffman foram capazes de traduzir. Se a “afinidade emocional” que supostamente um sente pelo outro é real, pouco importa, na verdade o que interessa no filme é mergulhar nessa fase da vida de Capote e conhecer como esse evento afetou sua vida pessoal e sua trajetória como escritor.

Na vida real, Capote também foi autor do livro que ficou imortalizado nas telas do cinema como Bonequinha de luxo com a maravilhosa Audrey Hepburn.

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A Sangue Frio, foi o último livro publicado em vida de Capote. O escritor morreu em 1984 em decorrência de câncer de fígado, provavelmente por conta do abuso de álcool e drogas. Certamente, todo a dedicação e as situações vivenciadas frente à elaboração de A Sangue Frio causou um relevante impacto na vida de Capote e teve seu preço…

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Perry com Capote – (cena do filme)

Perry e Capote

    Perry com Capote/ +-1960

É comum também se deparar com matérias que afirmam que Capote teria tido um caso com Perry, bem como, sutilmente o filme também sugere a possibilidade de tal abertura… mas não há nada comprovado. Capote também costumava se gabar de sua memória e afirmava que era capaz de memorizar 94% de tudo que ouvia.

O livro logo tornou-se um best seller e inaugurou o chamado “Jornalismo literário”. Toda essa história realmente causou – e ainda causa – muito impacto na época e, inclusive, logo em 1967 foi lançado filme de mesmo nome com base no livro de Capote (esse eu não assisti ainda mas parece que vai explorar o aspecto do crime em si).

Enfim, particularmente, não é minha preferência filmes com uma pegada mais biográfica…entretanto o filme vale a pena ser visto! Foi indicado a cinco categorias no Oscar e rendeu o Oscar de melhor ator para Hoffman pela atuação em Capote. Como disse, as atuações de Clifton Collins Jr e Hoffman são o ponto forte do filme e, embora, não seja meu estilo preferido de filme não posso deixar de reconhecer sua grandiosidade. Por outro lado a ausência de trilha sonora e o enfoque no viés psicológico dos personagens, tornaram o filme meio lento. Senti falta de um pouquinho de dinamismo no desenrolar do enredo. Há longos minutos vazios desnecessários….achei cansativa a sequência dos acontecimentos. Sei que a característica biográfica e a exploração psicológica do protagonista produzem essa lentidão mas o filme tornou-se um pouco cansativo para mim. Nota três beirando ao quatro!

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