"A Case Of You" - (2013) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Artigo

“A Case Of You” – (2013)

“… O iniciado de pouco, pelo contrario, que tantas coisas belas ja contemplou no céu, quando enxerga alguma feiçäo de aspecto divino, feliz imitaçäo da Beleza, de inicio sente calafrios.(…) e se näo temesse passar por louco varrido, ofereceria sacrificios ao seu amado. (…) À sua vista é acometido de todo o cortejo de calafrios: muda de cor, transpira e sente calor inusitado. Apenas recebe por intermédio dos olhos eflúvios da Beleza, irrigam-se-lhe as asas e ele volta a inflamar-se. Com o aquecimento derrete-se o invólucro dos germes das asas, que, endurecido havia muito pela secura, os impedia de brotar, e com o afluxo do alimento entumesce a haste da asa e tende a lançar raízes por todo o interior da alma. (…) em toda a efervescencia, tem a impressäo estranha de prurido quando lhe nascem as asas. Assim, ao contemplar a beleza de um jovem (…) a dor pára e ela (a alma) se alegra. (…) Essa mistura sui generis de prazer e dor deixa a alma angustiada e perplexa ante a estranheza de sua condiçäo; tomada de frenesi, nem consegue dormir de noite nem descansar de dia, procurando sempre ansiosa, os pontos que presume encontrar o dono da Beleza. Quando o percebe (…) deixa de sentir as agulhadas e as dores, passando daí em diante a fruir do mais delicioso prazer.”
Fedro de Platäo (251b-252a)

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Como definir o momento no qual vemos o que nos deixa paralisados, sem conseguir desviar o olhar, aqueles segundos que tornam-se minutos e que transformam nossa atenção em foco contínuo na permanência dos olhos visando o desejado? É raro um acontecimento como esse se dar por acontecer, contudo, ao ocorrer, o gosto, o sabor, a elevada temperatuda do corpo não deixam que nos enganemos quanto ao que enchergamos, é realmente algo muito sutil e de grande importância para os nossos sentidos o que está ali presente.
A melhor parte de estar naquele local, naquele instante, é presenciar o que temos que vivenciar em vida: o amor. Há diversas opiniões quanto à existência ou não do famoso clichê – “Amor à primeira vista”; e minha preocupação aqui não é e jamais será em definir algo, dar rótulos, etc. No entanto, mesmo me abstendo da difícil tarefa de dar nomes aos bois, escolho os sentidos, isto é, os adoto como ponto de partida para tentar entender a procura pelos propósitos que rodeam algumas definições. A razão não tem tanta força para conter a pulsação do corpo, a vontade, o desejo de chegar perto, de tocar, de falar ou apenas e simplesmente, sentar numa cadeira, pedir um café e olhar para aquela paisagem linda que chama tanta nossa atenção. São tantos encontros em vida que é triste abandonar um destes, que tão esporadicamente passa-se diante dos nossos olhos, e por isso, devemos aproveitá-lo. Por que não voltar no dia seguinte e pedir o mesmo café, o mesmo bolo e sentar-se na mesma mesa? A procura parte de dentro, é interna e não há como controlá-la.
Um dos motivos pelos quais escrevo sobre o filme A Case Of You é exatamente esse, ou seja, o torpor do desejo que nos convoca a gostar de alguém! É claro quando nos deixamos levar pelas nossas sensações e quando percebemos, estamos já tão inseridos na realidade do outro, da pessoa que nos intriga, e tal fato é fascinante, é indescritível o que nos faz aceitar o que tem que ser aceito, e só. Todavia há certas questões a serem debatidas. Uma delas é a seguinte: Mudar significa o quê? O que a mudança de comportamento, de atitudes, de interesses quer dizer quando o fazemos só para estar com quem desejamos? – neste caso a razão interferindo nas nossas ações; É benéfico, é ruim, não compensa? Tais questões acerca do comportamento humano estão presentes no filme, e quando assisto ou ouço histórias que me fazem refletir, me tiram do trilho ‘real’ para algo inusitado, diferente, acerca desse espanto, o ato de escrever me deixa menos aflito. É como uma conversa, um diálogo o fato estar aqui a por palavras, uma em seguida da outra em busca de um entendimento, de um conteúdo que possa talvez ser pensado por outras pessoas, assim como, ser um objeto de identificação também para com o leitor. Levantando perguntas, pensamentos, o duvidoso pode tornar-se menos nublado e mais limpo. Mesmo sabendo que o filme terá um fim, que veremos para onde tais perguntas possam ter ido como uma possível resposta para tais questões, indefinindo se o fim é feliz ou não, visto que o The End seja o que esperamos, queremos, desejamos, talvez não seja o que realmente deveria acontecer.

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