Milhem Cortaz: do carnaval paulista ao carnaval carioca
Quem acompanha o cinema nacional sabe que Milhem Cortaz trabalha bastante. Nos últimos dois anos, o ator esteve envolvido em pelo menos dez projetos: “Dores e Amores”, “O Lobo Atrás da Porta” e “Alemão” são apenas alguns filmes que mostram o empenho de Milhem. Em cartaz nos cinemas com “Trinta“, o ator se viu em uma situação curiosa: no filme, ele vive o antagonista Tião, que não gosta muito de ver o colega de barracão Joãosinho comandando o desfile da escola de samba Salgueiro. Seu personagem é bastante dedicado ao carnaval carioca.
Curiosamente, Milhem sempre foi um grande fã do carnaval paulista, já que o ator cresceu em São Paulo. Após a exibição de “Trinta”, na coletiva de imprensa, ele conta um pouco sobre sua relação com o carnaval. “Durante 14 anos da minha vida eu fui Vai-Vai”, conta Cortaz, referindo-se à tradicional escola de samba paulistana. Feliz por fazer um projeto que valoriza o carnaval, o ator afirma que o mais difícil foi “respeitar o carioca” e os chefes de barracão de lá. “Passei por todos os lugares da Vai-Vai, e o carnaval sempre foi muito presente na minha vida”. Assim, transformar-se em um carioca que representa a comunidade foi um desafio, segundo o ator. “Foi um grande prazer e desafio fazer este personagem”.
É interessante analisar que Tião tem cenas em que desdenha o samba paulista, já que ele chega a confrontar o sambista que se propõe a fazer o samba-enredo, e chega a perguntar, ironicamente: “vocês tem carnaval em São Paulo?”.
Questionado sobre o fato de Tião ser um personagem carioca que critica paulistas, Milhem responde com bom-humor o fato de ser algo que já foi dito a ele. “É o que eu mais escuto”, diverte-se. O ator lembra que, na época do filme “Trinta“, o carnaval paulista era bem menor que o carioca. “Hoje o carnaval de São Paulo é muito mais rico, mas antes era quase um bloco”.
O fato de o ator ter se dedicado ao carnaval ajuda na criação do personagem mas também atrapalha, de certa forma, não apenas pela diferença de sotaque, mas pelas maneiras diferentes como paulistas e cariocas enxergam o carnaval. Milhem admite que, no fundo, sentia um certo orgulho do ator que viveu o músico paulista, pois ele estava levando para o Rio, terra do samba, um pouco da musicalidade da terra da garoa. Segundo o ator, o orgulho se escondia no fato de Tião não olhar muito nos olhos do sambista, na tentativa de criar uma “fuga” do personagem.
Assim, Milhem Cortaz demonstra uma atitude que faz um grande ator: transformar um sentimento verdadeiro em outro, muito diferentes, apenas por meio da expressão corporal.