Crítica: Trash: A Esperança vem do Lixo

Tendo esta compreensão, talvez não seja difícil de encarar “Trash” como uma fábula sobre a juventude e a pobreza, muito mais do que um “filme brasileiro sobre favela”, como muitos ainda insistem em taxar certos longas-metragens nacionais. Assim sendo, a aventura vivida por Raphael (Rickson Tevez), Gardo (Eduardo Luis) e Rato (Gabriel Weinstein) promove uma reflexão sobre a ganância e corrupção dos políticos em todos os países de “terceiro mundo”, bem como a influência destas atitudes nas pessoas mais pobres. Afinal, enganam-se aqueles que acreditam que a corrupção é exclusividade do Brasil.
Na trama, roteirizada por Richard Curtis (Um Lugar Chamado Notting Hill, Simplesmente Amor) e Felipe Braga (Latitudes), os três amigos que vivem e trabalham em um lixão acabam encontrando uma carteira que, inicialmente, tem apenas dinheiro, mas depois se revela alvo de buscas da polícia, o que gera desconfiança de Raphael e se desenrola com a ajuda de adultos ao redor dos pequenos, como o padre Juilliard (Martin Sheen), a professora de inglês Olivia (Rooney Mara), o defensor dos direitos humanos Clemente (Nelson Xavier) e o “herói anônimo” José Ângelo (Wagner Moura). O filme acaba tendo “pontas de luxo” do cinema brasileiro, como os atores André Ramiro e Jesuíta Barbosa em personagens pequenos, e Júlio Andrade em um papel mínimo – aparentemente cortado na montagem final, acredito.
A fotografia de cores quentes é o principal fator que nos faz acreditar que trata-se de uma aventura muito mais infanto-juvenil e inocente do que de fato uma denúncia. O subtítulo brasileiro, “A Esperança vem do Lixo”, talvez denuncie muito bem que o filme é muito mais uma ode à esperança do que outra coisa. É por isso que se torna aceitável que alguns diálogos soem um pouco artificiais, e que crianças que vivem em um lixão saibam falar inglês (mesmo com a explicação de que há um trabalho social desenvolvido no local, esta perspectiva é bastante deslocada da realidade brasileira).

A referência feita às manifestações de Junho de 2013, infelizmente, foi uma das escolhas mais infelizes do roteiro. Afinal de contas, o filme é muito mais híbrido e internacional do que realmente brasileiro. E a esperança que história deposita no espectador é nas crianças, e não na atitude de “ir às ruas”.

