Crítica: Trash: A Esperança vem do Lixo
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Crítica: Trash: A Esperança vem do Lixo

Trash-AEsperancaVemdoLixo_posterO livro “Trash”, escrito por Andy Mulligan e adaptado para o cinema por Stephen Daldry, ambos britânicos, não especifica o país no qual a história se passa. Criada pelo escritor após suas próprias experiências em nações como Vietnã, Índia e também o Brasil, a trama é muito mais sobre o sentimento de esperança que surge nos lugares mais pobres do mundo, do que sobre um país em específico.

Tendo esta compreensão, talvez não seja difícil de encarar “Trash” como uma fábula sobre a juventude e a pobreza, muito mais do que um “filme brasileiro sobre favela”, como muitos ainda insistem em taxar certos longas-metragens nacionais. Assim sendo, a aventura vivida por Raphael (Rickson Tevez), Gardo (Eduardo Luis) e Rato (Gabriel Weinstein) promove uma reflexão sobre a ganância e corrupção dos políticos em todos os países de “terceiro mundo”, bem como a influência destas atitudes nas pessoas mais pobres. Afinal, enganam-se aqueles que acreditam que a corrupção é exclusividade do Brasil.

Na trama, roteirizada por Richard Curtis (Um Lugar Chamado Notting Hill, Simplesmente Amor) e Felipe Braga (Latitudes), os três amigos que vivem e trabalham em um lixão acabam encontrando uma carteira que, inicialmente, tem apenas dinheiro, mas depois se revela alvo de buscas da polícia, o que gera desconfiança de Raphael e se desenrola com a ajuda de adultos ao redor dos pequenos, como o padre Juilliard (Martin Sheen), a professora de inglês Olivia (Rooney Mara), o defensor dos direitos humanos Clemente (Nelson Xavier) e o “herói anônimo” José Ângelo (Wagner Moura). O filme acaba tendo “pontas de luxo” do cinema brasileiro, como os atores André Ramiro e Jesuíta Barbosa em personagens pequenos, e Júlio Andrade em um papel mínimo – aparentemente cortado na montagem final, acredito.

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A fotografia de cores quentes é o principal fator que nos faz acreditar que trata-se de uma aventura muito mais infanto-juvenil e inocente do que de fato uma denúncia. O subtítulo brasileiro, “A Esperança vem do Lixo”, talvez denuncie muito bem que o filme é muito mais uma ode à esperança do que outra coisa. É por isso que se torna aceitável que alguns diálogos soem um pouco artificiais, e que crianças que vivem em um lixão saibam falar inglês (mesmo com a explicação de que há um trabalho social desenvolvido no local, esta perspectiva é bastante deslocada da realidade brasileira).

Trash_AEsperancaVemdoLixo03É uma pena, portanto, que mesmo com tom fabulesco e com crianças incrivelmente entrosadas, o longa se perca em uma trama que não sabe como tratar seus protagonistas, já que os meninos são ora inocentes justiceiros, ora habilidosos investigadores. Afinal de contas, por não sabermos nada sobre o passado ou as aspirações dos personagens, não compreendemos como eles podem desejar apenas “fazer o que é certo”. A resolução da trama apenas reforça ainda mais o tom de “conto de fadas”, baseado na inocência das crianças protagonistas. É uma pena que, na vida real, não seja possível tomar as atitudes catárticas realizadas pelas pessoas comuns do filme, brasileiras ou não.

A referência feita às manifestações de Junho de 2013, infelizmente, foi uma das escolhas mais infelizes do roteiro. Afinal de contas, o filme é muito mais híbrido e internacional do que realmente brasileiro. E a esperança que história deposita no espectador é nas crianças, e não na atitude de “ir às ruas”.

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