Crítica: The Rover - A Caçada
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Crítica: The Rover – A Caçada

“Tema o homem com nada a perder.”

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O que é a lealdade? É ter alguém pra te levantar quando você cair? É expressar respeito mutuo? A lealdade, no fim é um simples gesto de simpatia, mostrando que você se importa? Nos cães, por exemplo, há instinto, ou o reconhecimento do dono, uma forma de respeito. Dá-se um pedaço de pão e logo os mesmos nos seguem fielmente. Em The Rover – A Caçada, há momentos e menções ao cão como animal, ou o que ele significa. Há o anão que joga pedras em alguns, a médica que cuida de outros… E há a relação de Rey e Eric, que é baseada, objetivamente, em lealdade.

“Austrália. 10 Anos após o Colapso.”

Esta é a única informação que David Michôd, diretor do filme (E responsável pelo ótimo “Reino Animal(2010)”) nos concede. É, também, a única que precisamos saber. A história é sobre outros aspectos. Sabemos que o filme se passa nos desertos da Austrália, e ouve uma crise econômica e social. Agora tudo está em ruínas. O Carro de Eric (Guy Pearce) é roubado, entra Rey (Robert Pattinson) em seu caminho, e ambos vão atrás do irmão de Rey, responsável pelo roubo.

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Eu matei minha esposa. Eu o vi colocar os dois dedos dentro dela e eu matei os dois. Ninguém nunca veio atrás de mim. Dez anos atrás. Eu nunca tive que me explicar. Eu nunca tive que mentir pra ninguém. Eu nunca tive que correr e me esconder. Eu só enterrei eles num buraco e fui pra casa. Ninguém nunca veio atrás de mim. E isso me doeu mais do que ter meu coração partido. Saber que isso não importava. Saber que você pode fazer algo assim e ninguém vem atrás de você. Fazer uma coisa como eu fiz, deveria realmente significar alguma coisa. Mas isso simplesmente não importa mais. “

Este é um trecho do personagem de Pearce que resume bem o universo criado e toca no tema lealdade novamente, desta vez o da esposa de Eric. O mundo retratado aqui é fascinante e ao mesmo tempo amedrontador. Robert Pattinson dá a melhor interpretação de sua carreira (algo não tão difícil em retrospecto aos seus papeis na saga crepúsculo), enquanto Guy Pearce faz uma atuação contida e ao mesmo tempo explosiva que te faz sentir angustia ao presencia-lá. Michod nos concebe uma visão de mundo angustiante, opressiva e pessimista. Um mundo melancólico onde, no fim, o único propósito é existir.

O diretor aproveita todas as cenas que tem para nos deixar imersos naquele universo ou desenvolver algum personagem, com simples diálogos que revelam muito sobre eles nas entrelinhas, e uma cena, devo dizer, ao som de  ”Pretty Girl Rock” da cantora pop Keri Hilson, é emocional, cômica e melancólica, traçando inclusive, um curioso paralelo entre Pattinson e o verso que seu personagem canta (“don’t’ hate me cause i’m beautiful”).

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Com excelente Design de Som, Fotografia e Trilha Sonora, David Michôd nos presenteia com cinema de primeira. The Rover – A Caçada, é um exemplo de “Storytelling”, com devido tempo e construção de clima. Um belo filme. Não é uma obra de simbolismos, para “analisar as camadas” e dissecar compulsivamente. É uma história simples e crua sobre pessoas (que ocasionalmente são comparadas a animais) feias num mundo feio. Uma visão um tanto pessimista e melancólica sobre a humanidade, mas não menos verdadeira.

E, ao ver o protagonista da história se desmanchar em lágrimas em certo momento, nos ocorre um pensamento. Poderia haver mais do que animais naquelas pessoas, afinal? E, ao mesmo tempo, aqueles que nos pareciam tão importantes para – e que pareciam se importar- simplesmente não ligam. E mesmo que se importassem, por um acaso, razão momentânea, ou simples comodismo, não fizeram nada. Não mostraram se importar.

A lealdade, diferente de todas as outras coisas em The Rover, não se compra. Não se tira. Não se mata. Lealdade é algo conquistado? No fim, em futuro apocalíptico ou não, tudo que queremos (e que nos restará) é alguém para nos retribuir a lealdade prestada e nos conceder um enterro respeitoso e digno.

  • Nota Geral:
4

Resumo

A lealdade, diferente de todas as outras coisas em The Rover, não se compra. Não se tira. Não se mata. Lealdade é algo conquistado? No fim, em futuro apocalíptico ou não, tudo que queremos (e que nos restará) é alguém para nos retribuir a lealdade prestada e nos conceder um enterro respeitoso e digno.

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