Crítica: Milk – A Voz da Igualdade
Com uma gama de opções de ferramentas que temos para assistir filmes, hoje em dia o DVD tornou-se obsoleto e com a quase extinção das locadoras eles saíram do nosso cotidiano dando lugar a TV’s por assinatura e a sites de streaming e On-demand. Mas hoje recorri a minha coleção de DVD. Com a morte de dois lideres (Robin Williams e Eduardo Campos) me bateu uma vontade de ver algo que passasse uma mensagem, uma ideologia. De alguém que lutasse por aquilo que acredite e que fizesse com que as pessoas o seguissem. Daí, abri meu armário de livros e encontrei o DVD de ‘Milk – A Voz da Igualdade’ e sem questionar a escolha, limpei a poeira do meu aparelho de DVD, o liguei na TV e apertei o play. E o resultado foi…
CRÍTICA
Gus Van Sant é um excelente diretor. Com obras sempre humanas e que nos fazem repensar nossa condição de ser humano e de luta por ideais. Teve seus altos e baixos durante a carreira, errando drasticamente quando aceitou fazer a refilmagem de ‘Psicose’, mas, mesmo assim, isso não tirou o brilho de seu trabalho no cinema e na TV. Ao nos entregar esse trabalho mostrou ser um especialista em apresentar histórias de líderes, foi assim em ‘Gênio Indomável’ e agora com ‘Milk – – A Voz da Igualdade’. Dois líderes que deram para seus filmes dois Oscars de Melhor Ator.
No início dos anos 70, Harvey Milk (Sean Penn) é um nova-iorquino que se muda para a cidade de São Francisco com seu namorado Scott (James Franco) em busca de uma nova vida e para fugir do preconceito. Lá, eles abriram uma loja de revelação de fotografias no bairro de Castro, onde começou sua luta contra a rejeição social e a truculência policial. Essa luta começa com um pequeno grupo de gays que frequentava o seu bairro e sua loja, mas que foi tomando proporções imensas, até ele conseguir se eleger Supervisor da cidade e posteriormente derrubar uma lei nacional que proibia os homossexuais de ensinarem nas escolas dos Estados Unidos.
De cansado de se esconder dentro do armário a herói de uma massa. Assim Milk é retratado no filme. Sean Penn nos entrega um personagem sutil e bobo mas que arrastava multidões e que se transformava num gigante quando tinha que defender seus interesses. O diretor não se concentra inteiramente na luta dos gays contras leis e pessoas preconceituosas, mas na pessoa de Harvey Milk, um gay que superou o medo e a repressão e incitou milhares de pessoas a lutarem por seu ideal, por sua causa. O filme vem mostrar como a figura desse ativista foi importante para liberdades que a classe tem hoje em dia.
Com óperas na sua trilha sonora, tem um momento em que Milk está assistindo uma peça em um teatro e que a câmera se prende nele, pode ser que não tenha sido proposital, mas aí fica uma citação/homenagem a Abraham Lincoln, outro idealista e herói americano que lutou contra outro tipo de preconceito (contra os negros) fazendo uma correlação entre lutas e vidas dos personagens.
No fim, nos é apresentado uma história, baseado em fatos reais, de um cidadão comum que decidiu lutar contra a opressão e acaba tornando-se bandeira de uma causa. Harvey Milk fica eternizado por Gus Van Sant como o arrastador de multidões, um idealista que mudou uma nação.
ALÉM DA CRÍTICA
O filme ganhou o Oscar de Melhor Ator (Sean Penn) e de Melhor Roteiro Original. Ainda concorreu a Melhor filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Josh Brolin), Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora. Durante 15 anos Gus Van Sant tentava colocar o projeto em andamento, entre atores que passaram pelo papel principal estavam: Robin Williams (que cairia perfeitamente bem), Richard Gere, Daniel Day-Lewis e James Woods. Um infeliz fato ocorreu aqui no Brasil e deixaria o verdadeiro Milk bastante triste caso fosse vivo: o Pastor evangélico Marco Ribeiro, dublador de Sean Penn no país, se recusou a dublar o filme alegando que não se sentiria a vontade.
E para quem se interessou na vida de Harvey Milk e quer conhecer mais, é só procurar o livro ‘The Mayor of Castro Street’, de autoria de Randy Shilts (o qual o filme não se baseia) e o documentário ‘The Times of Harvey Milk’ de 1984.
“Sem esperança, nós desistimos. E sei que não podemos viver penas de esperança. Mas, sem esperança não vale a pena viver”. – Harvey Milk