Crítica: Invocação do Mal
Para ser sincera, eu não sou uma das maiores fãs de filmes de terror, simplesmente pelo motivo mais óbvio: morro de medo. Mas de uns tempos para cá eu peguei o gostinho de “assistir” filmes desse gênero, e digo entre aspas porque muitas vezes eu não assisto todas as cenas do filmes, só escuto as vozes dos atores, se é que me entendem. E nessa nova fase de me arriscar assistindo esses filmes, decidi ver “Invocação do Mal” (The Conjuring, 2013). E como vocês sabem, é baseado em fatos reais, e isso me assusta. E para finalizar, fui ver no CINEMA. É, foi tenso para mim. Mas vamos lá.
Na década de 70, em Harrisville (Rhode Island, EUA), Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga), um famoso casal de demonologistas, são chamados pela família Perron para investigar sua nova casa habitada por espíritos bons e ruins. O casal pensa ser mais um engano, pois na maioria das vezes essas “casas amaldiçoadas” com barulhos estranhos são frutos de algum animal morando no sótão, ou até mesmo encanamento velho e quebrado. Mas eles se surpreendem quando se deparam com uma entidade demoníaca poderosa que possuiu a casa. E esse caso, na vida real, é considerado o maior desafio da carreira do casal Warren.
O filme é dirigido por James Wan, que também dirigiu dois filmes bem conhecidos que eu considero muito inteligentes: Sobrenatural (Insidious, 2010) e a franquia Jogos Mortais (Saw, 2004). Portanto, pode-se esperar que “Invocação do Mal” seja um filme muito bom. E é mesmo, tanto que vou reunir coragem para assistir o segundo no cinema também.
Ao ler a sinopse, o enredo parece ser completamente clichê, tratando-se de casa mal-assombrada e espíritos. Mas Wan consegue tornar o filme apavorante, com os movimentos refinados das câmeras na casa e as aparições inesperadas, sem aquela música de fundo do tipo ”Tubarão”. Em diversos momentos, as meninas, filhas do casal Perron, afirmam enxergar algo que não vemos, e a tensão pega pesado nessas cenas. Nunca sabemos quando um susto está por vir, quando um espírito vai aparecer em cena ou se é uma entidade boa ou ruim. No início, o filme é desenrolado no estilo de um documentário para apresentar o casal Warren, e eu achei bem pertinente essa introdução. A boneca Annabelle, que será destaque na sequência do filme (Annabelle, com estréia em outubro de 2014 nos EUA), deu um toque a mais no enredo, mesmo que ela não seja parte da trama principal. Aí vem a explicação de que o casal Warren sempre guarda algum objeto de cada um dos seus casos solucionados. E claro, não posso me esquecer de citar a cena de possessão, que é a melhor do filme todo e também a mais arrepiante, em minha opinião.
Em termos de atuação, o destaque do filme é a Vera Farmiga (Norma Bates, do seriado Bates Motel), com toda a certeza. Wilson também possui uma atuação convincente, tendo em vista que ele já trabalhou com Wan antes, em Insidious. Outra atuação excelente, é a mãe das 5 filhas da família Perron, a Carolyn Perron, interpretada por Lili Taylor. Protagonista das cenas finais, ela desempenhou um papel deslumbrante e aterrorizante.
Durante o filme, o casal Warren introduz termos e conceitos teóricos sobre as manifestações espirituais, explicando as possessões e o processo de exorcismo. Isso insere o espectador ainda mais na trama, como se estivéssemos em uma aula para decidirmos como vamos solucionar o caso. Não sou expert em filmes de terror, bem longe disso, mas até hoje não vi nenhum filme apresentar esses conceitos teóricos do jeito que é apresentado aqui. Ponto positivo!
Com certeza algumas pessoas ainda vão achar “Invocação do Mal” um baita clichê. De fato, o enredo não é nenhuma novidade no mundo dos filmes de terror e até eu sei disso, mas o modo como é transmitido nas telas é surpreendente. Wan conseguiu superar o desafio de transformar uma história clássica em algo que prenda a atenção das pessoas o tempo todo. E quando termina, você fica com aquela sensação estranha, atento a tudo que ocorre ao seu redor, como se estivesse em estado de vigília. Ou seja, a sensação que todo bom filme de terror deixa em cada um de nós.