Crítica: Planeta dos Macacos: O Confronto
Quando surgiram as primeiras notícias de que a Fox tentaria recomeçar a franquia “Planeta dos Macacos”, muitos acreditaram que algo muito ruim estava por vir. O primeiro filme estrelado por James Franco chegou às telas e mostrou-se algo acertado e bastante eficiente, ainda que extremamente focado na tecnologia que transformava Andy Serkis (o eterno Gollum) em um macaco incrivelmente verossímil.
Desta vez, a franquia parece caminhar ainda mais para bons resultados. Enquanto Ruper Wyatt cometeu algumas falhas no desenvolvimento de “Planeta dos Macacos: A Origem”, desta vez o novo diretor Matt Reeves (Cloverfield – Monstro) consegue trazer não apenas um senso de urgência muito maior em “Planeta dos Macacos: O Confronto”, como também se aprofunda nas diversas relações entre personagens e ambiente.
“Planeta dos Macacos: O Confronto” segue contando a história de Caesar, que agora vive com um grande grupo de outros macacos em uma espécie de “acampamento” nos arredores de São Francisco. O longa lembra aos espectadores que o mundo foi assolado por um vírus devastador, chamado de “gripe símia”, que acaba matando uma grande quantidade de pessoas no mundo todo. No entanto, um grupo de humanos que vive agrupado em São Francisco acaba se confrontando com os macacos devido à possibilidade de recuperar o funcionamento de uma usina hidrelétrica na “terra dos símios”.
Há diversos trunfos que o longa conquista durante a projeção. Um dos maiores é, certamente, o fato de se aprofundar devidamente nos personagens principais. Podemos entender a situação do patriarca símio ao ver sua esposa sofrer, ao ter que educar seu filho e ao ter que liderar um grupo que tem indivíduos com tendência à intolerância. As histórias dos personagens vividos por Jason Clarke, Gary Oldman e Keri Russell são mostradas de forma a que possamos entender suas motivações, e o mesmo ocorre com Blue Eyes, o filho de Caesar, e Koba, interpretado de forma intensa por Toby Kebbell.
Se a qualidade técnica dos macacos digitais já era esperada, o mesmo não se pode dizer das nuances políticas e sociais que o filme demonstra. Afinal de contas, somos apresentados a uma complexa relação entre espécies (claramente de forma crítica às relações entre etnias e povos ao redor do mundo) que nos faz pensar sobre qual seria o “certo” e o “errado” em uma guerra como a que começa a ser travada neste “Confronto”. Uma das melhores características do longa é a tridimensionalidade dos personagens, de forma a nunca criar a figura de um vilão ou mocinho, apenas pessoas e macacos lutando pelo que realmente acreditam.
Em tempos de guerra entre povos que infelizmente assistimos, em que um é frágil e o outro possui alto potencial bélico, este “Planeta dos Macacos: O Confronto” nos ajuda a pensar no início das desavenças entre povos e na forma como a paz pode ser alcançada. E o longa faz isso sem qualquer tipo de julgamento quanto a culpados, apenas destaca que há seres maus e seres bons, independente dos povos aos quais pertencem.
Em certo momento da projeção, Caesar diz que seu então amigo Koba nunca conheceu o amor de um humano, e por isso só conseguia odiá-los. Neste momento, pensando em todas as questões suscitadas até então, só consegui me lembrar da famosa frase de Nelson Mandela: “As pessoas certamente aprendem a odiar. E se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, já que o amor surge de forma mais natural no coração das pessoas”.