Crítica: A Culpa é das Estrelas
Quando Augustus (Ansel Elgort) fala sobre ser infinito, é impossível não se lembrar do belo filme “As Vantagens de Ser Invisível“. Afinal, talvez não haja palavra mais apropriada para definir os sentimentos durante o período da adolescência: a vastidão da intensidade com que sentimos dor, saudade, amor, entre tantos outros, só pode ser explicada pelo infinito.
“A Culpa é das Estrelas”, filme baseado no romance best-seller de John Green, conta a história de Hazel Grace Lancaster (Shailene Woodley), uma jovem que tenta seguir a vida com câncer terminal, e que acaba conhecendo o bem-humorado Augustus Waters (Elgort), por quem se apaixona e com quem aprende a lidar com o drama de viver como uma granada que pode explodir a qualquer momento.
O que poderia ser um romance sem graça nas telas acabou se tornando um filme que sabe muito bem arrancar lágrimas dos espectadores com sensibilidade, e os motivos são vários. Enquanto o casal de protagonistas revela uma química intensa durante os momentos românticos, o diretor Josh Boone é feliz ao destacar a presença das estrelas citadas no título da obra das mais diversas formas: por meio do céu repleto delas, da parede cheia de adesivos e de lâmpadas que as simulam em um restaurante. O diretor também faz a escolha sábia de não dar destaque à perna que falta em Augustus ou a quaisquer reflexos na saúde da jovem protagonista, já que seria uma saída fácil para arrancar (ainda mais) lágrimas do público.
Tanto no roteiro quanto na direção, o filme se assume como romance – tal qual uma novela mexicana se assume como naturalmente melodramática. Alguns diálogos são inventivos demais para saírem da boca de adolescentes, mas em nenhum momento eles soam falsos, apenas necessários para aquele contexto. Os momentos engraçados são leves e bem inseridos, mesmo que isso ocorra por meio do personagem-clichê que é amigo do mocinho e que serve de alívio cômico – embora seja um personagem com seu próprio drama e suas próprias nuances. No que diz respeito à história vivida pelos personagens, o roteiro valoriza de forma muito sábia os pais dos adolescentes, não apenas por mostrar o sofrimento deles com seus papéis determinantes para o bem estar da família, mas por demonstrar o esforço para que sejam verdadeiros pilares de sustentação aos filhos.
Entretanto, “A Culpa é das Estrelas” deve ser analisado de forma emocional, e não racional, pois trata de uma narrativa catártica para que o espectador pense no quanto uma vida pode ser significativa, mesmo que curta.
Em certo momento da projeção, o curioso escritor Peter Van Houten (Willem Dafoe) também nos lembra que tudo não passa de ficção quando fala de seu livro, em clara referência metalinguística. Desta forma, nos damos conta de que os personagens e os livros e as histórias e os filmes são fictícios, e talvez seja infantilidade nossa nos apegarmos tanto aos personagens – e a necessidade de contar e ler histórias tem tudo a ver com a inocência pueril. No entanto, Augustus também fala no filme que “toda dor deve ser sentida”. Não apenas as dores, mas as paixões, os romances e qualquer outro sentimento deve ser valorizado, e o longa é feliz em colocar estas questões de forma orgânica.
“A Culpa é das Estrelas” pode até mencionar, mas não se aprofunda em questões como religiosidade e vida após a morte porque, afinal de contas, ele fala sobre vida ANTES da morte, e sobre o que sentimos ao longo da nossa vivência.
Mas e se por acaso nossas vidas forem simplesmente histórias fictícias? E se estamos todos fadados ao esquecimento e a uma breve passagem sem propósito? “A Culpa é das Estrelas” nos lembra que a vida vale a pena pelos simples momentos em que nos sentimos infinitos.