Crítica: X-Men – Dias de Um Futuro Esquecido
De todos os filmes baseados em heróis dos quadrinhos, nenhum é tão confuso quanto X-Men. Além da quantidade enorme de personagens, os filmes se baseiam em histórias que foram contadas e recontadas das mais variadas formas nas páginas da Marvel. Assim como é cheio de reviravoltas, a franquia da Fox também é inconstante: gerou grandes filmes como “X-Men Primeira Classe” e mediocridades como “X-Men Origens – Wolverine”.
Desta vez, ” X-Men – Dias de Um Futuro Esquecido” repete a direção de Bryan Singer, responsável pelos dois primeiros filmes da série, e encontra uma forma de unir os personagens principais em dois momentos diferentes: os do passado vistos em “Primeira Classe” e os do presente/futuro dos primeiros filmes. Na trama, os mutantes liderados pelo Professor Xavier e Magneto (unidos pelos acontecimentos mais recentes) encontram como única saída para o fim iminente dos mutantes a viagem no tempo que Kitty Pride é capaz de fazer, e que só é possível de ser realizada com Wolverine. Assim, o mutante volta para os anos 1970 a fim de mudar a história.
Embora os fãs dos X-Men possam encontrar diversos pontos confusos no que se refere aos acontecimentos dos filmes anteriores – e de fato, o longa ignora uma cena “pós-créditos” e o primeiro filme solo de Wolverine inteiramente – o fato é que “Dias de um Futuro Esquecido” funciona muito bem em tudo o que se propõe.
Além de conseguir atuações extremamente intensas de James McAvoy, Michael Fassbender, Ian McKellen, Patrick Stewart, Jennifer Lawrence e Hugh Jackman (que parece descobrir novidades no personagem que já viveu em tantos filmes), o filme encontra tempo e espaço para colocar todos os elementos necessários. Entre eles, está a tensão na corrida contra o tempo, que é mostrada com base nos cortes bem realizados entre o futuro e o passado, e Brian Singer se permite até mesmo a realizar match cuts que não apenas deixam a narrativa fluida como mostram o paralelo entre as duas situações vividas pelos mesmos personagens. Em certo momento da projeção, Magneto é responsável por comandar um ataque a humanos no passado enquanto defende os mutantes de um ataque de “máquinas” no futuro, ambos orquestrados de maneira similar, cujos cortes nos fazem pensar no caminho que o personagem precisou percorrer para mudar seu comportamento.
Ao longo do filme, as explicações para a as intenções de “vilões” como a Mística de Jennifer Lawerence, o Magneto de Fassbender e o Dr. Bolivar Trask de Peter Dinklage são dadas de forma orgânica e nunca mastigada. Enquanto podemos ver que a Mística encontra-se dividida, compreendemos a raiva e a dificuldade que o jovem Magneto sente dos humanos, por mais que lhe digam o quanto o ódio não deve ser combatido com mais ódio. E se Peter Dinklage nos faz acreditar que seu cientista pensa estar fazendo um grande bem à humanidade (além de revelar nos diálogos o fascínio típico dos cientistas em relação ao objeto de estudo), é preciso dar valor ao Professor Xavier de James McAvoy, já que o ator escocês consegue transmitir todo o medo e a angústia trazidos por seu poder e pela necessidade de sacrificar a si próprio por um bem maior.
E se as cenas de ação e o design dos Sentinelas não são o suficientes para empolgar, o filme ainda dá importância à maioria dos mutantes, incluindo novos rostos que surgem na franquia, sendo que o Mercúrio vivido por Evan Peters é o mais espirituoso de todos – e o mais divertido, sem dúvida. Não podemos esquecer do figurino e da direção de arte, que exibem os anos 70 sem nunca exagerar nos tons.
E enquanto muitos filmes que trazem o conceito de viagem no tempo acabam por trazer incongruências e certas “licenças poéticas” para que todos os acontecimentos tenham sentido, “Dias de Um Futuro Esquecido” exibe uma metáfora importante para que os acontecimentos soem, no final das contas, absolutamente verossímil. Ora, quando pensamos sobre os acontecimentos de nossas vidas, sabemos que a sequência dos fatos é sempre muito complexa: um simples dia diferente poderia fazer com que nossas vidas se transformassem por completo (e neste momento, lembro-me de “Efeito Borboleta”, que trata as consequências na vida de forma simplória, como se os rumos do viver fossem definidos por fatos únicos). Por este motivo, a metáfora que compara a vida a um rio – e que presume que o “destino” (mesmo que esta palavra não seja usada) encarrega-se de algumas coisas mesmo quando são jogadas pedras que criem novas ondulações no curso das águas – é perfeita para fechar qualquer resquício de descrença que possa ser causado.
Como se não bastasse tudo isso, “X-Men – Dias de Um Futuro Esquecido” ainda (re)abre novas possibilidades para a franquia, permitindo que o público reveja personagens importantes anteriormente descartados, e tem uma cena pós-créditos que mantém a tradição de criar fortes expectativas para o próximo longa.
A trama dos X-Men nos cinemas pode até ser confusa para o público que não está atento aos quadrinhos ou a detalhes da trama, mas é extremamente divertida e tem a grande vantagem de se permitir reciclar de tempos em tempos.