Crítica: Simplesmente Amor
No período de Natal, um dos filmes obrigatórios para “entrar no clima” é “Simplesmente Amor”. Lançado há exatos 10 anos, o filme foi o primeiro a ser dirigido por Richard Curtis, experiente roteirista e produtor britânico, responsável por famosas tramas tipicamente inglesas como “Quatro Casamentos e um Funeral”, “Um lugar chamado Notting Hill” e “O Diário de Bridget Jones”.
O que faz de “Simplesmente Amor” merecedor de destaque é a forma simples (sem trocadilho) com que Curtis não apenas sensibiliza o espectador por meio de uma bela trilha sonora e momentos tocantes, mas também pela forma orgânica com que liga as diversas tramas. O filme, que pode ser criticado por criar momentos inconstantes de corte entre as diversas histórias contadas, assim como todos os outros filmes “multi-plot”, possui cortes totalmente orgânicos, como o que pula de um escritório com um rádio ligado para a estação que transmite a música. O mesmo se pode dizer de quando cortes secos criam suspense quanto ao que vai acontecer no aeroporto enquanto o menino Sam busca declarar seu amor a Joanna.
Sempre contanto os dias para o Natal, o filme não tem medo de funcionar como fábula menos realista: um primeiro-ministro apaixonado que aparece em público dando beijos, um jovem britânico que tem seus desejos sexuais realizados nos Estados Unidos e o escritor que viaja incrivelmente rápido para alguma parte esquisita de Portugal em busca de sua amada, que aprendeu inglês em apenas alguns dias. No entanto, a vida imita e arte e prova que pode ser fabulesca algumas vezes: recentemente, o primeiro-ministro britânico David Cameron fez um discurso muito parecido com o que é feito neste filme pelo personagem de Hugh Grant.
Mas “Simplesmente Amor” consegue ser quase uma fábula de forma natural: é uma história romântica sobre como o ser humano está cheio de sentimentos bons, que mesmo sendo confusos e cheios de idas e vindas, ficam aflorados nesta data especial. Com atores britânicos de primeiro escalão e posicionamentos de câmera inspirados, o filme traz algumas cenas memoráveis. Quando Karen (Emma Thompson) percebe que seu marido deu um presente a outra mulher, ela se controla diante de seus filhos e se retira da sala: em seu quarto, ela chora silenciosamente, enquanto a câmera mostra o quarto fracamente iluminado e vazio enquanto ela permanece no canto da cena, deslocada e sozinha.
Dentre as cenas mais famosas, vale sempre recordar a bela declaração de amor que Mark (Andrew Lincoln) faz para Juliet (Keira Knight), esposa de seu melhor amigo, por meio de cartazes. Aliás, o amor platônico é mostrado tanto por parte de Mark quanto por parte de Sam, o menino que ama sua colega de escola, e também como algo necessário para Sarah (Laura Linney), que é apaixonada por Karl (Rodrigo Santoro, em seu início de carreira internacional) e prefere manter-se distante dele por amor a outra pessoa: seu irmão. Outra cena que se torna especial graças à atuação é a declaração de amizade de Billy Mack (Bill Nighy, como sempre hilário) a seu amigo e gerente Joe (Gregor Fisher).
Por fim, “Simplesmente Amor” é um filme sobre exatamente aquilo que proclama em seu título, e também sobre o Natal. De forma quase “pagã”, Curtis não faz referências óbvias ao Papai Noel e ainda mostra uma encenação do nascimento de Jesus com a presença de lagostas e polvos (as escolas infantis são ridículas nessas horas), mostrando a data como um dia em que as pessoas se tornam mais sensíveis e amorosas, independente de fé ou hábitos.
Em entrevista, o diretor disse que o fato de haver muitas camadas e tramas no filme faz com que as pessoas sintam-se sempre vendo algo novo, sem se lembrarem do que vem a seguir. O filme também traz alguns atores não muito famosos na época, em papéis menores, e que conquistaram o estrelato pouco tempo depois: não apenas Rodrigo Santoro (internacionalmente) e Keira Knightley, mas Martin Freeman e Chilwetel Ejiofor também.
Quem assiste “Simplesmente Amor” termina o filme se sentindo bem, com a convicção de que o amor está, realmente, por toda parte.