Crítica: Jogos Vorazes – Em Chamas

Embora os créditos pela trama sejam da escritora Suzanne Collins, o filme traz uma atmosfera ainda mais amedrontadora que o anterior. Com pouquíssimos espaços para o bom humor, o filme se mostra sempre escuro, nublado e triste. Na história, Katniss (Jennifer Lawrence) e Peeta Melark (Josh Hutcherson) se tornaram verdadeiros queridinhos da mídia após vencerem a última edição do “reality show sangrento” Jogos Vorazes. Agora, eles não só representam uma distração para o povo de Panem, que pode acompanhar o romance “quase fingido” dos pombinhos, mas também simbolizam esperança para os povos oprimidos dos distritos mais pobres.
Tal qual outras adaptações de livros, o filme tem seu primeiro ato repleto de acontecimentos e explicações em ritmo acelerado, sempre deixando evidente que o livro traz os debates e as questões muito mais bem explicadas e aprofundadas. Neste quesito, “Em Chamas” é eficiente e vai direto ao ponto. Com cenários e locações mais grandiosos que o primeiro filme, o longa ainda traz boas atuações. Embora Philip Seymour Hoffman não tenha tempo para se mostrar, Stanley Tucci se diverte com o papel do exagerado Caesar, Woody Harrelson e Donald Sutherland mostram que tem presença de veteranos, e Elizabeth Banks dá características tridimensionais a Effie, já que a exibe como uma mulher afetada e ao mesmo tempo preocupada com os pupilos de quem toma conta.
Por falar em atuação, vale destacar a segurança de Jennifer Lawrence como a protagonista, e embora Liam Hemsworth não ultrapasse a barreira do galã, Hutcherson consegue dar profundidade ao seu personagem sem que ele ultrapasse a forte personalidade de Katniss. É interessante pensar na posição dos personagens masculinos em “Jogos Vorazes – Em Chamas”. Embora sejam importantes e tenham suas contribuições na trama, nenhum deles deixa de ser “liderado” por Katniss, e aqui vale a boa caracterização de Peeta (Hutcherson), que se apaixona pela aliada e ao mesmo tempo compreende a forma como ela se sente dividida entre dois homens, respeitando até mesmo.
Se já é difícil encontrar grandes produções de Hollywood protagonizadas por mulheres, a série “Jogos Vorazes” merece aplausos por jamais colocar a personagem feminina como frágil, assim como permite personagens masculinos que compreendem as dificuldades da personagem feminina, em um posicionamento feminista que eu acredito nunca ter sido mostrado em um filme com este alcance. Ótimo sinal dos tempos.

No entanto, “Jogos Vorazes – Em Chamas” falha ao fazer alarde sobre a edição dos jogos que fazem parte do filme, e no final acabar mostrando uma dinâmica praticamente igual à que foi exibida no primeiro filme. Ou seja, dizem que o jogo será muito mais brutal por ter apenas os vencedores das edições passadas, mas nunca realmente mostram isso – e ainda contam com personagens muito fracos para terem vencido alguma edição passada do jogo.
De qualquer forma, é bom saber que novos e interessantes temas continuem a ser explorados por Hollywood, mesmo que isso dependa apenas dos sucessos literários para adaptações ao cinema. É uma pena que o público médio não dê a devida atenção a estes debates e provavelmente coloque Jogos Vorazes, Crepúsculo e outras franquias em um mesmo pacote de pura diversão, sem decodificar as ideologias ou mensagens contidas nos roteiros.
