Crítica: Faroeste Caboclo
por Daniel Cury
Ele não “comia todas as menininhas da cidade”, não “encontrou um boiadeiro”, não recebeu uma “proposta indecorosa” e não “viu o repórter da televisão”. Mas no cinema, o gênero faroeste nunca foi tão caboclo.


O destino, aliás, é tema central da trama. Afinal, o momento político em que o país vivia, quando a obra original foi criada, impedia que muitos tivessem suas vontades alcançadas, fazendo com que a vida se encarregasse de escolher: ao protagonista, restava apenas reagir. Os políticos e militares estão sempre presentes no filme como personagens que bloqueiam as vontades de João, impedindo a sua felicidade: o militar que mata seu pai; o senador Ney (Marcos Paulo, em ótima despedida), que impede João de ser livre com Maria Lúcia; o policial Marco Aurélio (Antonio Calloni) que o persegue; e o próprio antagonista Jeremias (Felipe Abib), que não é militar, mas é filho de um, o que não muda muito quando se está em um país hierárquico.


Se faroeste é uma invenção americana, neste caso ele se adapta para a realidade árida do planalto central do Brasil. Neste jogo de adaptações de conceitos e versos, é preciso valorizar a criatividade. É uma pena que outras invenções americanas, por falta de inventividade, nem sempre se transformam em algo tão brasileiro, tão real, tão caboclo.
Nota: 4 claquetes

