Crítica: Os Miseráveis (Les Misérables – 1998)

Vale observar que, ao escrever esta crítica, automaticamente decidi me arriscar, afinal, vou falar de um filme cujo principal destaque é o roteiro. Este último é baseado em um livro de um famoso autor romântico francês, que no caso é Vitor Hugo. Com isso, posso estar “chovendo no molhado” ou falando o óbvio. Mas a vida sem alguns riscos não tem graça.
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O filme de 1998 foi dirigido por Bille August, dinamarquês que ganhou certa fama internacional com o filme “Pelle Erobreren” (cujo nome no Brasil, “Pelle, o Conquistador“), vencedor do “Oscar de melhor filme estrangeiro” de 1988. Já os principais atores do filme de 1998 são: Liam Neeson ( “A lista de Schindler” e “Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma“), Geoffrey Rush (Piratas do Caribe – todos os 4 filmes), Uma Thurman (Kill Bill Vols. 1 & 2) , and Claire Danes (O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas).

A sequência de cenas da conversão de Valjean é uma das melhores do filme. Leva a pensar, entre outras coisas, nas vantagens que a idade nos trás. É interessante ver que, já no fim da vida, o apego material se torna inútil, ou ainda, nos ajuda a ver que o investimento em desenvolvimento e bem estar humano acaba sendo um dos melhores, e pode recuperar um homem que durante 19 anos só vivenciou o desprezo humano dentro de uma prisão de trabalhos forçados, após roubar comida. É claro que existe a possibilidade de ser apenas uma visão romântica e utópica do autor… mas de qualquer forma, a reflexão é interessante.

Outro ótimo momento é uma encenação entre Rush e Neeson. Valjean deveria matar Javert em um beco, pois os revolucionários republicanos viam Javert como inimigo, já que este último trabalhava para o rei (reparem nos “os valores nacionais” ou “nacionalismo”, mais uma característica de autores românticos, onde temos um autor francês do fim do século XIX defendendo a república francesa, em plena atividade durante a época de Vitor Hugo). Como um bom herói que é, Valjean leva Javert para o beco, atira para cima e diz algo semelhante a “você está morto, Javert”, e indica o caminho para a liberdade do policial. Esta frase é ótima, pois Javert é praticamente um homem sem alma. Seu apego às leis e às regras fecha o caminho para o amor ou minimamente para o bom senso, mostrando que, apesar de ter uma vida economicamente e socialmente boa, ele também é um miserável, um homem morto por dentro.


Com uma fotografia que mostra um clima denso, com a sensação de que a França daquela época não tinha um dia ensolarado sequer, uma direção muito boa, vários momentos de introspecção colhidos de pequenos diálogos, apresentando críticas à imagens que a sociedade impunha (ou ainda impõe) sobre as pessoas, com atores competentes, uma maquiagem suspeita e um figurino bem feito, este filme se mostra uma boa opção para se assistir. Não chega a ser um filme obrigatório, mas é altamente recomendado. Portanto, 4 claquetes para este filme.
