Crítica: A Busca
Logo nos primeiros minutos de “A Busca”, já entendemos porque o título inicial do filme era “A Cadeira do Pai”. Entendo e apoio a mudança para um título “mais comercial” (filmes precisam vender ingresso, e ponto), mas não podemos deixar de admitir que o primeiro título é muito mais profundo quanto à trama. Afinal, ele fala muito mais sobre o lugar (cadeira) ocupado por um pai na vida de seu filho, do que somente sobre a busca de um filho que “fugiu” de casa.
Na trama, Théo (Wagner Moura) vive um momento de problemas conjugais com Branca (Mariana Lima), quando o filho Pedro (Brás Antunes – filho do Arnaldo na vida real, mas muito parecido com Mariana Lima) foge de casa. Assim, o filme se torna um misto de drama familiar com road movie e pitadas de investigação.
O filme do diretor estreante Luciano Moura acaba se tornando interessante e cheio de cenas que sempre remetem à relação entre pai e filho. No momento em que Théo pede ajuda a um senhor rabugento e este lembra-se de sua própria filha que exige créditos no celular, a referência é vaga, mas em seguida é interessante notar que Théo é responsável pelo parto de uma jovem, permitindo-se um companheirismo que, mesmo momentâneo para aqueles que precisam, nos faz entender sua capacidade de estender a mão ao outro e, portanto, ajudar seus familiares, que antes ele pouco compreendia.
É interessante notar também as descobertas sobre seu filho ao longo da jornada para encontrá-lo. Só quando encontra um desenho de Pedro em uma borracharia ele passa a admirar seus desenhos. Ao ficar sabendo que o filho não sabia o que um cavalo come, Théo também se dá conta de como seu filho ainda é jovem. E ao ver algumas fotos da passagem de Pedro por uma comunidade “hippie”, o pai passa a admirar o fato de seu filho estar aproveitando a vida. Só assim o pai consegue entender as aspirações e desejos de Pedro e, através do entendimento, passa a respeitá-los. Esta é a grande transformação do protagonista, que no começo era um pai que não ouvia ou compreendia o filho nem a esposa.
Através deste tipo de trama, o longa de Luciano Moura conversa muito com os road movies de Walter Salles, que sempre lidam com a necessidade do afastamento das origens para as descobertas pessoais. No entanto, enquanto os filmes de Salles tratam da auto-descoberta, este retrata a descoberta de outros (o pai e o filho) como ponto de partida para a consequente autodescoberta. Aliás, é curioso pensar que Théo precisa fazer uma longa viagem para chegar às suas raízes, literalmente.
A direção de arte do filme ainda merece destaque por criar o ambiente interno da casa dos personagens principais, que parece fria e vazia, sem nunca deixar de se mostrar imponente e sofisticada, deixando claras tanto a situação psicológica da família quanto a condição social. O elemento de ligação entre o início e o final do filme (a piscina) se mostrou interessante justamente para criar respostas da trama com uma única cena.
Mas há falhas, como a ausência da polícia no desaparecimento de uma criança (que ainda falsificou documentos), algumas situações que mudam o tom do filme para uma comédia e a urgência nunca criada quanto à verdadeira situação do garoto – o espectador nunca se preocupa realmente que algo de ruim pode acontecer com Pedro. Sem contar o “anjo” que atropela Théo para depois lhe dar um conselho que, se não é exagerado, ao menos precisava de mais tempo de desenvolvimento da história do personagem.
Todas as falhas do filme, no entanto, diminuem seus efeitos graças ao impacto emocional e, principalmente, a uma das cenas finais, que tem a presunção de colocar Wagner Moura e Lima Duarte frente a frente: só isso já vale o filme todo.
Nota: 04 Claquetes