Crítica: Uma noite em 67

Agora imagine a energia extravasada de um público em pleno ritmo de ditatura. Vaias e aplausos, violões quebrados no palco e, nascendo ali mesmo no meio disso tudo, filhos pródigos da música popular brasileira com suas composições revolucionárias. Guitarras e violas e vozes. Muitas vozes. Vozes de dentro, do público, de fora, da crítica, da alma, dos artistas que ali surgiam sem se preocuparem com nada além da música.


Com importantes entrevistas como a do organizador Solano Ribeiro e do diretor Paulo Machado, é possível entender qual a temática abordada pela produção do programa na época, “um verdadeiro 
É possível que o espectador entenda brevemente a colisão do universo artístico e político no período, mas sem conclusões espetaculares ou teóricas. “Uma noite em 67” te faz entender exatamente o que o título aponta. As emoções de uma única e memorável noite, em 67.
O documentário trata com distanciamento a histórica noite de encerramento do festival. Um material vasto e revelador é explorado sem rastro de posicionamento. Bem pontual em sua proposta, o filme trata de uma montagem de edição prática, explorando o tema sem rodeios.
Deixando um pouco de lado a seriedade documental e a proposta dos diretores, o filme está repleto de confissões sinceras dos músicos. Com um certo “ar” de graça, Chico, Edu, Gil, Caetano, Roberto Carlos e até mesmo Sérgio Ricardo saem contando suas impressões e angústias do “grande dia”. Quatro décadas depois, abordando lembranças e falando até mesmo sobre o furor da idade e as expectativas e deslizes que são uma delícia de se ouvir e compartilhar.
O filme desde o começo parece ser o mais natural possível. Tanto para os realizadores, quanto para os protagonistas ali diante das câmeras, falando a vontade de um momento que marcara suas vidas.
Um desses momentos é de Chico Buarque, contando quando “perdeu o trem da Tropicália” por ter bebido demais nas festas em que o movimento nascia. Ou quando Gil tomou um banho – literalmente – de Nana Caymmi e Paulo Machado quando, horas antes do festival, não tinha condições de subir ao palco. Essas e outras revelações contadas com muito humor. Demais né?
Se você é de alguma forma fã da cultura nacional, vai achar esse filme uma revelação gostosa, concisa e encantadora de se ver. Ou como disse Solano Ribeiro, organizador do festival: “Eu estava lá morrendo de medo que acontecesse alguma coisa”, e quarenta anos depois, estão todos eles rindo e se orgulhando daquilo tudo.
Os moderninhos que me desculpem, mas memorar é fundamental. ; )
Nota: 04 Claquetes.



