Crítica: Falsa Loura


Logo no começo, há uma citação de Sócrates a respeito da relação próxima entre o prazer e a dor. A partir de então, o longa vai convidar o espectador a se aproximar de Silmara em seu cotidiano, aprofundando-se em sua complexidade.
Por meio das citações e dos momentos poéticos que separam os “capítulos”, o filme vai dando pistas do que vai acontecer a seguir: afinal, o ser “acaba se tornando aquilo que admira”, conforme diz a TV em determinado momento.

Embora tenha algumas atuações medianas – seu principal ponto fraco – o filme consegue criar até mesmo personagens secundários interessantes sem nunca se render a seres simples ou unidimensionais. São personas que resultariam até mesmo em filmes próprios, como a “gata borralheira” Briducha, o ex-presidiário Antero (pai de Silmara), e o irmão travesti da protagonista. Se dissecarmos cada um deles, todos tem defeitos, qualidades, fantasias, desejos e paradoxos.
O filme consegue retratar figuras urbanas típicas do Brasil com realismo, mas ao mesmo tempo sem a necessidade de chocar ou causar incômodo nos espectadores mais conservadores. Justamente por fugir do realismo, em seus minutos finais, que ele causa estranheza e peca por exagerar em um melodrama destoante do resto – muito embora o acontecimento seja importante para causar a mudança final na trajetória da falsa loura.
No fim das contas, “Falsa Loura” é um excelente retrato do Brasil: um país paradoxal, cheio de dores e prazeres, que se intercalam como causa e consequência da busca por uma vida melhor.
Nota: 04 Claquetes
