Crítica: Heleno
Heleno de Freitas foi o primeiro “jogador problema” do Brasil. Valorizado por suas habilidades futebolísticas, Heleno era charmoso, conquistador e temperamental. Entre as décadas de 1930 e 1950, jogou em diversos times, mas entrou para a história através do time no qual mais tempo ficou: o Botafogo.
O filme de José Henrique Fonseca (O Homem do Ano) retrata a vida de Heleno desde seu auge como jogador até sua morte. Assim como a maioria das cinebiografias, “Heleno” é narrado através de flashbacks, de maneira que o espectador já conhece, desde a primeira cena, qual o destino final do biografado. A escolha desta maneira de narrar é bastante eficiente, já que se torna muito difícil montar um roteiro com pontos de virada caso a narrativa de uma biografia seja linear.
“Heleno” depende principalmente da carga dramática do protagonista. Fosse com um ator menos capacitado, o filme perderia mais da metade de sua força. É neste ponto que Rodrigo Santoro faz a grande diferença para atuar nas diversas fases e facetas do jogador. Bastante temperamental e irritadiço, Heleno teve seu comportamento piorado devido à sífilis, cujo tratamento era rejeitado, visto que atrapalharia seu desempenho em campo. O personagem é mostrado em estado terminal da doença por meio de uma maquiagem acima da média e um Rodrigo Santoro de olhos fixos, extremamente magro e, mais tarde, louco.
O diretor José Henrique Fonseca mostra sua eficiência ao utilizar a câmera tremida para mostrar algumas memórias de Heleno como se tivessem sido filmados pela família (o que seria quase impossível, dada a época da história – tanto que Heleno não tem nenhum registro em vídeo). Ele também é eficaz ao fazer belos cortes dramáticos de passagem de tempo, como o que existe em dois momentos de Heleno lavando o rosto, ou o corte entre o chute de um pênalti e a cena do vestiário, com a câmera em movimento, que mais tarde mostra Heleno raivoso com a perda, provendo uma carga dramática intensa.
Filmado em preto e branco, o filme talvez não precisasse disso. O uso das cores parece mais uma escolha estilística voltada para realizar um desejo do cineasta do que algo necessário para o longa metragem: afinal, filmar em preto e branco é um fetiche de 9 em 10 diretores e diretores de fotografia.
Heleno era um viciado em drogas, álcool e cigarro (chegava ao ponto de fumar dois cigarros de uma só vez), violento e passional. E sua paixão era a energia que o movia. Era a paixão pelo clube, pelo futebol, pela arte. É a paixão transmitida por Heleno que faz dele um personagem atrativo e complexo. E essa paixão, capaz de isentar alguém de todos os outros defeitos, precisa contaminar um pouco mais os jogadores e dirigentes de futebol da atualidade, cujo dinheiro está contaminado de sífilis moral.
Nota: 4 claquetes